BRAZ DIAS E ASTRID SALLES: O FLAUTISTA AZUL E OS ESTANDARTES – JACOB KLINTOWITZ

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No Espaço Cultural Citi – Av. Paulista, 1.111 – São Paulo – está aberta, até o dia 3 de janeiro de 2014, uma exposição com os trabalhos de Braz Dias e Astrid Salles.


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Sabemos de uma terra que está logo ali, próxima de nós, mas, apesar disto, ela está além e nunca a alcançamos. O pintor Braz Dias nunca precisou procurar por ela, não necessitou de nenhum cartógrafo, pois ele simplesmente vem de lá. É por isto que a sua pintura não é nostalgia, a alma com saudade da terra natal, da mítica Ítaca ou o tropismo em busca da pátria ideal.

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A delicada e precisa fatura da pintura de Braz Dias está a serviço do registro da poesia de uma constelação visual extremamente rara. Na verdade, tão rara quanto a edição de um só exemplar, já que só ele canta esta gesta, a minuciosa descrição deste lugar, até então desconhecido, onde existe limpeza absoluta das cores, harmonia de formas suaves e personagens líricos, como o homem equilibrista, o pássaro da manhã, a mulher flor, o flautista, o boneco articulado e todas as portas e janelas se abrem para uma paisagem azul iluminada por um sol eterno.

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Há um som subjacente nas pinturas e nos objetos de Astrid Salles. O ritmo visual é tão essencial neste trabalho que ele forma/cria uma tessitura que estrutura e delimita o seu destino. É o alfabeto desta escritura. A razão da aproximação da artista com as formas gráficas da cultura indígena se deve a afinidade com o seu desenho marcante e a capacidade de tornar o signo em símbolo. Os dados do cotidiano se tornam narração do permanente.

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Os estandartes e os objetos-serpentes de Astrid Salles são a expressão amadurecida desta identificação com o ritmo melódico da linguagem pictórica. Ela os constrói com os elementos banais que existem ao seu redor e com o diálogo com a natureza mítica da elaboração indígena e a alegria das manifestações populares. Astrid Salles não recupera a cultura mítica ou reconstrói o folclore. Ela simplesmente utiliza os mesmos princípios para inventar o ritmo melódico dos seus objetos.


NOTA – No Espaço Cultural Citi – Av. Paulista, 1.111 – São Paulo – está aberta, até o dia 3 de janeiro de 2014, uma exposição com os trabalhos de Braz Dias e Astrid Salles. Esta é uma mostra especial, pois as pinturas de Braz Dias estão abrigadas em Coleções e não é fácil reuni-las. E a Astrid Salles num período de recolhimento e meditação criou estes estandartes, ainda inéditos, tão rememorativos das formas ancestrais e míticas.


JACOB KLINTOWITZ (28.06.1941), crítico de arte, editor de arte. Saiba mais.

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