SINAGOGA HISTÓRICA EM WASHINGTON – FELIPE DAIELLO
Cidade Monumental, com avenidas, museus e obras de arte pelas praças, Washington estava pronta para receber a floração de suas cerejeiras. As margens do Potomac, o entorno do Mall e seus memoriais, aguardavam o rosa das flores doadas pelo Japão em 1912.
Numa das passagens pela cidade, deslumbrados, a arquitetura típica daquele prédio, até então desconhecido, requeria um retorno. Sinagoga pedia apresentação, não havia como desconhecer as suas exigências.
Coincidência ou não, no Museu A.Sackler, junto ao prédio da Administração Smithsoniana, exposição sobre o Império Persa, imperdível, apresentava como ponto alto um dos Cilindros de Ciro. Em cerâmica, escrita cuneiforme, da época babilônica, 539 d.C. , revelações, atos e decretos do novo Imperador ressurgem após as escavações de 1879 no atual Iraque. Como foi longo e penoso o caminho para a Liberdade do povo hebreu.
Após a derrota do último Rei da Babilônia, Belsazar, um novo império domina a Mesopotâmia.
A Bíblia relata o fato e a pintura de Rembrandt imortaliza a cena. Durante o último banquete, letras estranhas surgem nas paredes do palácio. São desígnios de Deus, confirma o profeta. Os últimos dias da Babilônia chegaram. Em hebraico estava o aviso dos céus.
Ciro, o fundador do Império Aquemenita, que durará até a vitória de Alexandre Magno sobre Xerxes, introduzirá liberalidades nas terras recém-ocupadas. Os decretos expressos na cerâmica são claros: os povos trazidos como escravos poderão retornar as suas origens. Ao povo hebreu será permitido retornar à Jerusalém; os tesouros roubados em parte serão devolvidos. A reconstrução do Templo a tarefa principal.
Por isso, Ciro será denominado o Pastor de Deus. A Bíblia registra a oferta e a liberdade. Livro de Esdras.
Começa o retorno para a terra prometida. Além da liberdade, muitos conhecimentos aprendidos durante a época da escravidão servirão à propósitos futuros. A cunhagem de moedas, o seu uso no comércio entre nações não ficará como simples conhecimento. A Lídia, na atual Turquia, ensinava como transformar o ouro e a prata em moeda para facilitar intercâmbio e comércio entre as nações. A coleção, com a esfinge de Ciro e de Dario, no ouro brilhante, anexa à exposição, é magnífica.
A beleza da Sinagoga da 6th Avenue em Washington está na sua arquitetura, na mistura do estilo mourisco tradicional, com detalhes Bizantinos e Romanescos. As cúpulas e os domos introduzem elegância à construção. No aspecto técnico utiliza o concreto tanto para os pilares como para as lajes. Substitui a madeira tradicional.
Detalhes surgem nos cantos, nas escadas e nos escondidos das paredes.
Mesmo as infiltrações e o passar dos anos não retiram a harmonia e a beleza do conjunto.
A Sinagoga representa, nos Estados Unidos, exemplo típico da construção religiosa hebraica do início do século XX.
A Congregação Adas Israel, que mais tarde muda-se para Baltimore, foi a responsável pela construção de um dos primeiros templos na área de Washington – DC.
Restaurações no prédio, após 1958 tentaram preservar ao máximo os vitrais e os símbolos originais da Sinagoga.
Os lustres e as luminárias, recuperados, apresentam detalhes e as posições originais da inauguração em 1908.
O Domo, restaurado e redesenhado, inclui detalhes que recordam a obra de Fabergé e seus ovos, surge beleza que não existia no teto original.
Durante os anos, detalhes foram acrescentados. O Binah, local sagrado do Torah, foi recriado, mas continua belo e majestoso.
A rosácea da janela principal foi substituída nos trabalhos de 1980, agora a Menorah sobressai sobre a Estrela de Davi.
A partir de 2004, o templo readquire as suas funções religiosas. Consertos, desfiles, passeatas marcaram a ocasião. Não há como ficar indiferente, é necessário rezar e agradecer:
“Iysa Adonai panav elêcha veiasem lechá Shalom”
FELIPE DAIELLO – Autor de “Palavras ao Vento” e ” A Viagem dos Bichos” – Editora AGE – Saiba mais.