DECIO ZYLBERSZTAJN LANÇOU LIVRO DE CONTOS

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O escritor, violeiro e professor universitário paulistano Decio Zylbersztajn lançou dia 10 de junho, em São Paulo, sua primeira obra de ficção: o livro Como são cativantes os jardins de Berlim, publicado pela Editora Reformatório, que reúne onze contos, um deles — Puro Sangue Árabe — premiado no Concurso Antares de Literatura de 2013.

Conhecido por seus livros e artigos científicos sobre o agronegócio, por sua carreira na Universidade de São Paulo e pelos saraus de viola e poesia que organiza junto com Rosmarie, sua mulher, violeira como ele, Decio mostra agora outra dimensão de sua personalidade, a paixão pela literatura.

A opção pelo conto para essa obra de estreia foi para Decio uma espécie de trilha natural. “Comecei pelo conto, que é muito interessante pelo fato de ser conciso. Exige foco narrativo. Nem sei se foi algo proposital”, revela.

Vários contos desse primeiro livro de ficção envolvem figuras humanas, tradições e situações do universo rural, mas boa parte deles são histórias de personagens que se entrelaçam na agitação de grandes cidades, como é o caso do conto de abertura do livro, cujo cenário é a Berlim atual, marcada por problemas que dificultam a interação entre moradores da cidade e pessoas vindas do leste europeu.

A temática dos contos do livro de Decio é variada, assim como a história de vida do autor, influenciada pela infância e juventude passadas no Bom Retiro — na época em que o bairro podia ser considerado o principal local de residência e trabalho da comunidade judaica de São Paulo —, pelos pais que vieram da Europa para o Brasil entre as duas guerras mundiais, por sua cultura cinematográfica, por viagens dentro e fora do Brasil, e por forte exposição a pessoas e à cultura do mundo rural.

Nascido na São Paulo do pós-guerra, no início da segunda metade do século XX, Decio estudou em escola pública e teve bons professores que inspiraram seu interesse pela ciência e pelas artes. Depois fez Agronomia (e pós-graduação) em Piracicaba (SP), na Esalq. Aí vieram o doutorado e o pós-doutorado nas universidades da Carolina do Norte e Berkeley, nos EUA, a carreira na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e o convite para ser professor visitante nas universidades da Califórnia, Wageningen (Holanda), Perugia e Benevento (Itália).

Desde os tempos em que era estudante em Piracicaba foi conquistado pela viola, pela música e pela cultura caipiras, experiência que se acentuou quando Decio e Rosmarie criaram o Duo Vereda Violeira e começaram a organizar “saraus de viola, poesias e causos“, como relata o jurista e violeiro José Afonso da Silva no texto de apresentação dos contos de Decio.

Para Silva, o conto O Milagre de São Gonçalo reflete essa vivência e pode ser considerado uma projeção dos saraus de viola. Como músico, diz ele, Decio está, “consciente ou inconscientemente, impregnado das noções de movimento, de tempo, de andamento, de ritmo. Seus contos têm ritmo tranquilo como as águas de um rio de planície que se encaminham para o remanso. Como músico sabe quando deve acelerar, frear, florear, pontear, o fluxo narrativo”… “Decio não imita, segue seu próprio caminho”.

A guerra do Vietnã e a figura do escritor e monge trapista Thomas Merton inspiram outro conto, Silêncio Cisterciense, relembrando um tempo em que a luta pela paz era considerada subversiva pelos falcões.

Trechos

Existem jardins que nos contam histórias. Muitas pessoas ajustam o espaço, as plantas, e os caminhos, ao longo do tempo. Ninguém os planeja, mas em algum momento um conjunto harmônico acaba sendo criado. Estes são os jardins que mais me atraem. São como as nossas vidas. (“Como são cativantes os jardins de Berlim”).

Inquieta ficava a égua tinhosa que ninguém conseguira ainda montar. Tarquínio, cabeça baixa na sombra do chapéu de couro, pensava no jeito e tempo certo para dar o bote. Jogava o arreio por cima do lombo e tentava se aproximar. – Sem esperança…– pensava o peão. A égua fazia tremer o pelo e derrubava o arreio sem se curvar. Tarquínio tentava e tentava, mas a égua não vergava. Era dura que nem uma rocha do espigão da Serra do Espinhaço. (“Puro Sangue Árabe”)

Giulietta entrou no bistrô do cineclube e ficou espantada. Examinou o ambiente detidamente. Era cheio de detalhes; no chão, nas paredes e no teto, tudo decorado com fotos imensas de atores e diretores de cinema. As fotografias plastificadas serviam de piso. Era sensacional pisar nas imagens dos seus ídolos. Ao redor das mesas havia projetores antigos – tecnologia ultrapassada – que compunham um ambiente à moda de um estúdio de filmagens, propositalmente decadente. A iluminação era feita por meio dos refletores adaptados, que se mostravam ainda funcionais. Já tiveram a sua utilidade nos antigos estúdios de gravação e agora faziam outro papel. (“Não Existe Mulher Como Giulietta!”)

Para saber mais e ler parte do livro, acesse o site http://sidengo.com/cativantesjardins

Visite também o site da Editora Reformátório: http://reformatorio.com.br/#nossos-livros

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