O FRACASSO DO ISOLAMENTO DE ISRAEL – POR REDA MANSOUR

245_especial_4Apesar das dificuldades, Israel construiu uma economia avançada e altamente tecnológica. Cientistas e pesquisadores se empenham para salvar vidas e melhorar nossa existência, com avanços que beneficiam toda a humanidade. Algumas dessas inovações são produzidas por árabe-israelenses.


Por mais de dez anos, ativistas palestinos e seus aliados rotulam Israel como um regime similar ao abominável apartheid sul-africano e, desde então, tentam isolar o “inimigo” no cenário global. A estratégia se mostra um rotundo fracasso. Talvez por isso, seja momento de reavaliar o movimento BDS (Boicotes, Desinvestimento e Sanções).

Considero-me em posição privilegiada para contribuir com uma visão do conflito. Sou cidadão israelense, diplomata de carreira e integrante da comunidade árabe-drusa. Transito pelas diversas comunidades da região e posso garantir que há mais pontos em comum do que divergências em nossas aspirações.

Ser pró-palestino não implica ser anti-israelense. Embora haja expressivo apoio internacional à independência palestina, Israel também se sustenta numa robusta inserção global, com 104 missões diplomáticas.

E cresce também, entre as nações amigas de Israel, a percepção dos perigos à existência do país, criado em 1948 pela ONU e pressionado por uma vizinhança turbulenta e hostil. O regime fundamentalista e opressivo do Hamas, na faixa de Gaza, é um exemplo.

O BDS erra ao atribuir o terrível adjetivo de apartheid a um país onde 20% dos seus cidadãos são árabes, que contam com partidos políticos, com deputados no Parlamento e com representante na suprema corte. Israel naturalmente apresenta suas imperfeições e, no contexto da democracia, luta-se para aperfeiçoar nossa sociedade.

Não deixo de apontar os problemas e posso, por exemplo, dizer que aldeias árabes recebem dotações orçamentárias governamentais inferiores à média nacional. Ao mesmo tempo, celebro a liberdade de reivindicar, pois os árabes israelenses desfrutam da mais avançada democracia no Oriente Médio e com o mais alto padrão de vida da região, exceto os Emirados Árabes Unidos.

O BDS se sustenta também na ideia de derrubar o muro de segurança que separa Israel da Cisjordânia. A construção surgiu após violenta onda de terror, a intifada dos “homens-bomba”, entre 2000 e 2004. Qual país não se protegeria após a morte de centenas de seus cidadãos? Antes da ofensiva terrorista, 120 mil palestinos trabalhavam em solo israelense.

A luta contra Israel baseada no terror trouxe enormes perdas aos palestinos. É chegada a hora de surgir uma liderança palestina com coragem para romper dogmas, negociar e reconciliar. Mas seus dirigentes apostam no terrorismo: sequestro de aviões nos anos 1970, infiltração em escolas e hotéis na década de 1980, atentados suicidas no período posterior e, finalmente, o lançamento de foguetes.

Apesar das dificuldades, Israel construiu uma economia avançada e altamente tecnológica. Cientistas e pesquisadores se empenham para salvar vidas e melhorar nossa existência, com avanços que beneficiam toda a humanidade. Algumas dessas inovações são produzidas por árabe-israelenses.

Humildemente, deixaria um conselho aos ativistas do BDS: mudem o rumo. Parem de perseguir Israel, pois este Estado não é o seu verdadeiro inimigo. Construam em Gaza e em Ramallah uma sociedade civil calcada na democracia, no respeito à diversidade e na cultura da paz. Tenho certeza que seus filhos e as futuras gerações agradecerão.

REDA MANSOUR é embaixador de Israel no Brasil.


Nota – Matéria publicada na Folha de São Paulo.

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