UMA LIÇÃO DE VIDA E DE ESFORÇO – POR JAYME VITA ROSO

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Assim, com esse título, Jean-Raphael Hirsch narra, tendo em conta o testemunho de seu pai, o médico Sigmund Hirsch, nascido na Romenia, lembranças que ambos tiveram de Auschwitz, então comandada por Josef Mengele. Seu pai, finda a guerra, desempenhou papel decisivo na criação do Serviço Social francês.

Como Jean-Raphael se comportou, se, nascido em 1933, já, filho de resistente, com 9 anos, também passa a ser um deles? Realmente, em densas páginas, relata o que os dois sempre tiveram em mente, pois, médico como seu pai, dedicaram suas vidas à mesma causa: ao progresso humano e ao triunfo da vida.

Atendeu seu pai, antes da deportação, no sudoeste da França, ao apelo das organizações judaicas dessa Região, conseguindo salvar a vida de 400 judeus, embora ele, Jean-Raphael, contasse com nove anos. Com a deportação de seus pais, prosseguiu suas atividades no célebre Movimento de Resistência francês. Sua irmãzinha, Nicole, com apenas um ano, foi salva apesar de levada de casa em casa por participantes que enfrentaram, no próprio país, a crueldade mesclada dos compatriotas, mas colaboradores com os nazistas.

Micheline Weinstock, de fundamental influência como ativista da Organização Sefarad dirigiu-se aos seus companheiros, a respeito do livro, escrevendo: “A trajetória da família Hirsch é também um lindo exemplo de resiliência, seguindo Boris Cyrulnik, que por sinal prefacia a obra. Família amante, profundamente arraigada aos judeus e humanistas, Sigmund já tinha concluído antes da guerra base sólida sobre a qual Jean-Raphael pode conseguir a reconstrução de sua vida profissional, como médico cirurgião e familiar, com uma esposa e três filhos.

Desde o seu retorno da deportação, o doutor Sigmund Hirsch, “Djigo”[1], trabalhou para a criação de um sistema sócio-médico, o COSEM, uma malha de dispensários convencionais. Ainda aqui, pai e filho tiveram de enfrentar o Conselho da Ordem dos Médicos, alguns dos quais haviam expulso Sigmund da profissão em 1942.

Obra densa, muito completa, ricamente ilustrada de documentos diversos, inúmeras cartas e fotos comentadas: a oportunidade de evocar pormenores, como a história do cão Dick, a casa de Moissac, Israel em 1967, documentos relativos aos centros de saúde na França..

Trabalho para a vida, malgrado a Shoah pode ser resumida a máxima da família Hirsch.” (sefarad.org).

Mas, D’us querendo, um pequeno livro com temática semelhante, em que a escritora e cineasta de documentos Marceline Loridan-Ivens narra um triste episódio, escrito e publicado com o título “E tu não regressaste”, em 2015, e traduzido simultaneamente em 15 idiomas e, desde logo, premiado pela Academia Francesa com a distinção Lilas e a Jean-Jacques Rousseau, merecerá neste espaço a indispensável divulgação.


JAYME VITA ROSO – Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru e autor de vários livros jurídicos. Saiba mais.

vitaroso@vitaroso.com.br

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