O CASO DREYFUS AINDA PERTURBA: O PAPEL DE ZOLA NO ESCLARECIMENTO – POR JAYME VITA ROSO

263_especial_3_1Mais de um século passado desde o ocorrido, com centenas de questionamentos, ainda inquieta o julgamento do “judeu” Dreyfus com sua condenação e deportação à Ilha do Diabo (1894), na Guiana Francesa. À época, houve consenso de que a decisão foi justa e os magistrados que a aplicaram não deram a pena merecida. De repente, em 1897, o verdadeiro culpado do crime imputado a Dreyfus foi encontrado e revelado ao público. Partiu, em ano antes, de Bernard Lazare a revelação, que, sem medo, alertou a inocência de Dreyfus, mas, contra ele, pesou ser judeu também, guiado por simpatias estranhas (no dizer da imprensa) e militante anarquista.

Bernard, combativo e incansável à causa assumida, convenceu Zola, escritor de renome, voltado à causa pública e ativista preocupado pelos sofrimentos dos infelizes e dos excluídos. Mas só o conhecimento não foi seu empenho, valendo-se de personagens de importância, à época para instigar Zola.

Então, Zola abraça a causa do injusto julgamento de Dreyfus e, manejando a pena como poucos à época, com destemor, publicou três artigos no prestigiado jornal Le Figaro: “Scheurer-Kestner”, em favor do vice-presidente do Senado, que abraçou o movimento libertário; o “O Sindicato” e “Processo-oral”, em que atribui à imprensa a condução da opinião pública contra Dreyfus e a estupidez da legenda sindical que o condenava. Com esses ataques, partindo do prestigiado e aclamado escritor surgiram os exitantes, graças à pressão da opinião pública, sobretudo de leitores do Figaro. Os adversários de Dreyfus conseguiram que o jornal se desculpasse por ter dado espaço a Zola. Este não se intimidou e, com seu talento efervescente, publicou uma brochura intitulada “Carta à Juventude” e “Carta à França”, para, ao derradeiro, no jornal L’Aurore de 18 de janeiro de 1898, na primeira página escrever o manifesto que se tornou imortal “J’Acuse…!” ou Carta ao Presidente da República.

O resultado é que Zola também foi condenado em uma paródia de processo por essa intervenção. Preferiu o exílio, para seguir combatente.

E, no dizer do historiador Phillipe Oriol, “a palavra ‘intelectual’ que procurava sua definição, encontrou seu sentido moderno, abrindo caminho a um novo modo de intervenção no debate democrático”[1], com esse personagem.


JAYME VITA ROSO – Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru e autor de vários livros jurídicos. Saiba mais.

vitaroso@vitaroso.com.br


[1] Le Magazine Littéraire, nº559, setembro de 2015, p. 89, sendo Oriol especialista do caso Dreyfus, tendo já publicado em livro “História do caso Dreyfus de 1894 até hoje”.

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