TEVE A ITÁLIA CAMPO DE CONCENTRAÇÃO? – POR JAYME VITA ROSO

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Afirmativa é a resposta. Como o italiano fascista não era o alemão nazista, o Campo peninsular localizava-se na cidade de Ferramonti di Tarsia, na Calábria, da Província de Conseza. O local é mantido pela comunidade de Ferramonti di Tarsia, não há nenhum judeu na administração, …


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1.Afirmativa é a resposta.

Como o italiano fascista não era o alemão nazista, o Campo peninsular localizava-se na cidade de Ferramonti di Tarsia, na Calábria, da Província de Conseza.

2. Ontem (28/03.16), eu andei pelas montanhas da região, até chegar ao local, com 36 quilômetros de viagem, visita agendada com a senhorita Simone Celiberti, que me serviu de guia. É um campo “sui generis”, mereceu ser visitado, porque:

a)não existiam guardas armados;

b) a prática religiosa era livre, havendo um rabino, uma yeshiva completa, um frade franciscano e uma capela para celebração dos cultos;

c) haviam judeus, cristãos e até alguns muçulmanos dentre os detentos;

d) existem vários remanescentes com vida, de origem judaica, a maioria residente em Israel e que fazem questão de retornar a Ferramonti, para auxiliar a reconstrução do que não foi absorvido pelas construções na grande área onde se localizaram as casas dos detentos, os quais puderam alguns conviver com a família, outros se casaram no Campo, alguns tiveram filhos que ali permaneceram até a libertação;

e) esta ocorreu antes que qualquer outro ato bélico e foi efetuada pelo exército inglês, sendo de ressaltar o grande número de soldados judeus dentre os que, sem nenhuma resistência dos soldados italianos, libertaram os prisioneiros, dando-lhes a oportunidade de seguir seus caminhos. Lamentam-se que alguns, ansiosos, foram para o norte da Itália e, cruéis destinos, descobertos pelos registros, pois a guerra não terminara, acabaram em Auschwitz, quando não foram executados sumariamente.

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3. Sempre que é possível, realizam-se comemorações do Dia da Memória (ou da Semana): este ano (2016) foram celebradas condignamente de 22 a 28 de janeiro, com um variado programa, que me permito focar:

3.1. Entre 22 e 28, todos os dias encontros com as testemunhas (sobreviventes), vindas de Israel e da Inglaterra.

3.2. No dia 26, estes eventos: às 9 horas, abertura da nova sala do museu; às 9:30 horas, uma conversa intitulada: “A narrativa: o meio mais apropriado para relembrar as deportações na Segunda Guerra Mundial” com cinco palestrantes e um moderador; às 11:30 horas, os sobreviventes do Pentcho encontram Julia e Antonio Kovalezyk, netos do capitão da primeira classe da marinha italiana Carlo Orlandi, que salvou 525 judeus que fugiram da Europa Oriental e tentaram ir para Israel, sem êxito, mas que, abordados pelo Capitão Orlandi, foram levados para Ferramonti, sãos e salvos, depois de uma viagem num barco semelhante aos dos refugiados contemporâneos.

3.3. No dia 27, às 9 horas, o Rabino Umberto Piperno, chefe da Comunidade de Nápoles, recitou em Kadish, em memória das vítimas do Holocausto, ao som do Shofar; às 10 horas, numa importante reunião quando as três sobreviventes mencionadas, acompanharam uma breve síntese do pensamento do meu grande ídolo, “Viktor Frankl e o sentido da vida”, lembrado por Gianfranco Buffardi, Presidente do Instituto de Ciências Humanas e Existenciais; às 10:30, entregas de medalhas de honra a cidadãos italianos, civis e militares, que foram internados no “lager”; às 11 horas, várias participações (políticas da região Calábria) com a Serena Lydia Sabapirer, Presidente da Comunidade Hebraica de Nápoles e o Professor Guerrino D’Ignazio, Reitor da Universidade da Calábria; e, em seguida, um duo, no piano, ambos da Família de Stefano, executaram o concerto: “Vencedores e vencidos – quem realmente venceu e quem realmente perdeu”.

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3.4. No dia posterior (29/03), apresentado um curta metragem com o título “O limite do gelo”, literalmente inspirado na história do engenheiro Alfred Wiesner, internado no Campo, e encenado e musicado por alunos de algumas escolas, do grau secundário; além disso, foram lidos e reproduzidos textos do Maestro Gustavo Melicchin, quando prisioneiro, ao cuidado de componentes da Associação Cultura da Terra ao Saber, sobressaindo diversas considerações e apreciações feitas por políticos locais, inclusive o conhecido Presidente da Fundação da Shoah de Roma, Lemi E. Paserman.

3.5. O único evento do dia 29 (às 9:30) foi o espetáculo teatral “A partida de xadrez”, por uma associação local, com a visão de memória do Campo e testemunhos escritos de Mario Rende e Mina Weskoler.

Por derradeiro, no dia 30, sempre às 9:30 horas, intervieram o prefeito de Tarsia, Roberto Ancenso, conselheiro cultural da localidade, Roberto Carmigaro, para apoiar o lançamento do livro “Ventos de borboleta e uma nova primavera de autoria de Teresa Lazzaro. Além desse, música com diversas canções das peças “Bom dia Princesa” e “Shmirele Perele”, executados por alunos de escolas da região de Cosenza.

4. O local é mantido pela comunidade de Ferramonti di Tarsia, não há nenhum judeu na administração, o que não obstaculariza a grande participação de colaboradores não remunerados por ninguém (a minha humilde contribuição foi colocada à disposição do tesoureiro da Municipalidade para despesas correntes, como luz, água, jardineiro);

Vale visitar, ainda que pelas vias dos meios de comunicação atuais: http://comune.tarsia.cs.it, para conhecer, recordar e vivenciar o que sucedeu na Calábria.


JAYME VITA ROSOGraduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru e autor de vários livros jurídicos. Saiba mais.

vitaroso@vitaroso.com.br

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