COMO TRAZER O SHABAT PARA CASA – RABINO KALMAN PACKOUZ

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Muitos pais frequentemente ficam estarrecidos porque seus filhos não têm o mesmo sentimento e entusiasmo pelo judaísmo que eles. A resposta é simples: sentimentos e emoções NÃO são transmitidos através do DNA.


Em Israel vivia um casal e sua filha de 9 anos de idade. Como a mãe tinha muito medo que a filha andasse em transportes públicos e embora não fossem religiosos, matricularam-na numa escola religiosa do bairro. Lá a garota aprendeu sobre a beleza da Torá e do Shabat. Numa sexta-feira à tarde, a garotinha voltou da escola muito entusiasmada. Contou à mãe como sua morá (professora) tinha ensinado às meninas a benção sobre as velas de Shabat e começou a recitá-la com orgulho. “É muito bonito”, falou a mãe, “mas você sabe que não acendemos velas sexta à noite”. “Mas”, reclamou a criança, “minha morá disse que todas as mulheres acendem velas sexta à noite. Por que nós não?”

A mãe ficou um pouco hesitante em explicar para sua filha que não era religiosa e acabou desconversando. A pequena criança saiu do quarto desanimada, porém determinada. A professora e suas colegas de classe pareciam tão animadas com o acendimento das velas, que decidiu tomar conta do assunto pessoalmente. Foi até a mercearia das redondezas e pediu duas velas de Shabat. “São para sua mãe?”, o surpreso dono perguntou. Ele sabia que a família nunca havia comprado velas antes. “Sim”, respondeu a garota gentilmente. O comerciante achou que provavelmente a menina não havia entendido o que sua mãe pedira. Deu-lhe, então, as velas que pensava serem as que sua mãe provavelmente queria: duas velas de yortzáit (yortzáit é o dia de aniversário de falecimento de uma pessoa).

No caminho de volta para casa, a menina praticou a benção sobre as velas mais uma vez. Estava orgulhosa de poder fazer uma mitsvá reservada às mulheres judias. Naquela noite, depois que seu marido chegou em casa, a mãe chamou a família para jantar. A menininha, que estava ocupada em seu quarto, não respondeu ao chamado da mãe. Depois de chamar algumas vezes, a mãe e o pai foram ao quarto da garota e a encontraram sentada junto à mesa, olhando para as duas velas de yortzáit acesas para receber o Shabat.

“O que é isto?”, exclamou a mãe. As velas de yortzáit deram um arrepio de calafrio em seu corpo. Em sua mente, enxergou sua própria mãe, muitos anos atrás, ao lado de duas velas de yortzáit que havia acendido em memória de seus avós falecidos. Ela se recordou das lágrimas de tristeza e orgulho que acompanharam esta cerimônia.

A menina ficou de pé, inquieta e preocupada por ter sido ‘pega em flagrante’. “O que são estas velas?”, perguntou o pai, que não sabia da conversa de sexta à tarde. A criança olhou para as velas e depois para seus pais e disse: “Echád l’Ába ve’echád l’Íma – uma é para o senhor, papai, e a outra para a senhora, mamãe”.

Não conheço o desenrolar da história. Será que a mãe começou a acender as velas de Shabat a partir daquela semana? Tomara que sim! Se os pais querem que seus filhos amem o judaísmo e eventualmente casem-se dentro da religião, precisam proporcionar-lhes um caloroso lar judaico. Nossos atos e posturas são o legado que deixaremos aos nossos filhos. Se amamos o judaísmo e o vivenciamos, provavelmente nossos descendentes farão o mesmo. O Shabat é algo essencial e talvez o melhor ponto por onde iniciar.

Muitos pais frequentemente ficam estarrecidos porque seus filhos não têm o mesmo sentimento e entusiasmo pelo judaísmo que eles. A resposta é simples: sentimentos e emoções NÃO são transmitidos através do DNA. Falar filosoficamente e demonstrar um apreço intelectual não toca o coração das crianças nem transfere o amor pelo judaísmo à geração seguinte. Se desejamos que nossos filhos tenham um sentimento positivo em relação ao judaísmo, eles precisam ver isto dentro de casa, sentir e participar desta alegria.

Então, como podemos trazer o Shabat para os nossos lares?

Eis algumas dicas básicas que podem ser incorporadas ao nosso estilo de vida de forma indolor: 1) A mãe acende as velas de Shabat; 2) O pai faz o Kidush (uma prece sobre um copo de vinho casher, santificando o dia do Shabat); 3) Todos participam de um jantar de Shabat com duas chalót (um pão trançado especial, que se costuma comer nas refeições de Shabat). Também lhes recomendo a não atender ao telefone pelo menos durante a refeição, para preservar a atmosfera. Podemos construir muito a partir daqui!

Eu sei que para aqueles que nunca vivenciaram um Shabat isto pode ser algo desconfortável e até estranho. Talvez você conheça alguém que já cumpre o Shabat e que poderia convidá-lo? Acredite-me: os que cumprem Shabat adoram ter convidados. Pense bem: ninguém consegue amar algo que não conhece ou que não experimentou!

Se você consegue ler em inglês, recomendo-lhe um excelente livro chamado ‘Friday Night and Beyond – The Shabbat Experience Step-by-Step’, escrito por Lori Palatnik. O livro não só detalha passo a passo o que fazer, mas também explica o significado das coisas e traz testemunhos e reflexões de pessoas que já deram estes primeiros passos.

Iniciei com uma história sobre acender velas e gostaria de concluir com um belo pensamento sobre o acendimento de velas, escrito pelo Rabino Doutor Abraham J. Twersky em seu livro ‘De Geração em Geração’: “Acender uma vela é um ato rico em simbolismo. Há atos que fazemos totalmente para nós mesmos e outros que podem ser completamente altruísticos. Gerar luz, entretanto, desafia esta definição. Posso acender uma vela para mim mas não posso conter sua luz, pois ela necessariamente iluminará o ambiente para os demais. Se crio luz para o beneficio de outrem, eu também posso enxergar melhor”.

“Que maneira melhor de iniciar o Shabat, o último passo na criação do universo, que acendendo velas, um ato que simbolicamente une todos os habitantes do mundo. Ninguém pode ser uma ilha. O que eu faço afeta você e o que você faz tem uma influência sobre mim. Se entendermos isto poderemos entender por que o acendimento de velas é referido na literatura rabínica como algo essencial para o shalom bait, a paz dentro do lar. Discórdias e conflitos podem acontecer somente quando as pessoas acreditam que são entidades separadas e distintas e podem cada um seguir em seu próprio caminho, não afetados um pelo outro”.


Pensamento: “Nós fazemos provisões para esta vida como se ela nunca fosse acabar e para a próxima vida, como se nunca fosse começar!”


RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

NOTA:- Desejando contribuir para o Meor Hashabat acesse o www.aishdonate.com – Email – meor18@hotmail.com

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