O ATIVISMO RELIGIOSO – POR ARNALDO NISKIER

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O judaísmo diz que Deus é um ser eterno, que a máxima criatura criada por Deus é o homem. A essência da fé é continuar buscando-o. Somos todos irmãos.


Vivemos o Ano Santo da Misericórdia, que vai até o dia 20 de novembro de 2016. Preocupado com as inúmeras escravidões do terceiro milênio, o Papa Francisco procura combater o que chama de “globalização da indiferença” e defende “o amor de Deus por todas as criaturas”.

Como exemplo de padre para uma Igreja em saída missionária o Papa Francisco cita o seu conterrâneo argentino José Gabriel Brochero (1840-1914), conhecido como “Cura Gaúcho”(padre Gaúcho), sacerdote de Traslasierra, província de Córdoba, em processo de canonização. O Sumo Pontífice apresenta Brochero como modelo de padre para uma Igreja Missionária, sendo pioneiro no deslocar-se até às periferias geográficas e existenciais para levar a todos o amor e a misericórdia de Deus.

Há exemplos notáveis também no Brasil, que podemos enumerar, entre os missionários religiosos. Veja-se o caso do padre Antonio Vieira, uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória. Nascido em Portugal, destacou-se em terras brasileiras, defendendo incansavelmente os direitos dos povos indígenas, combatendo a sua exploração. Escreveu mais de 200 sermões, 700 cartas, além de tratados proféticos. As universidades, frequentemente, exigem a sua leitura.

Outra notável biografia é a de Pio Gianotti, nascido na província de Lucca, na Itália, em 1898. Aos 33 anos, Frei Damião, como ficou conhecido, veio para o Brasil como Conselheiro Assistente da então Custódia Geral dos Capuchinhos de Pernambuco. Dedicou-se às Santas Missões durante 66 anos, desenvolvendo um estilo próprio de evangelização.

Na década de 1950, fatos impressionantes aconteceram no Brasil que levaram o Padre Donizetti Tavares de Lima, nascido na cidade de Cássia (MG), em 1882, e criado em São Paulo, a ter fama de santo. Muitas curas foram atribuídas a ele, através de sua bênção na Paróquia Santo Antônio, em Tambaú, onde trabalhou por 35 anos, até falecer, aos 79 anos, em 1961.

Outro padre conhecido como milagreiro foi Cícero Romão Batista, nascido em Crato, interior do Ceará, no dia 24 de março de 1884. Padre Cícero (ou Padim Ciço, na devoção popular), obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Nordeste. Morreu em Juazeiro do Norte, aos 90 anos, no dia 20 de julho de 1934.

Outro grande nome missionário, defensor dos direitos humanos, que pregava uma Igreja simples, voltada para os pobres, foi o bispo emérito de Olinda e Recife, Dom Hélder Pessoa Câmara (1909-1999). Um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, D. Hélder foi o único brasileiro indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz.

Quando se fala em atuação pastoral voltada aos habitantes da periferia e à formação de comunidades eclesiais de base, não podemos deixar de citar D. Paulo Evaristo Arns. Nascido em Criciúma, em 1921, foi ordenado sacerdote em 1945, em Petrópolis, tendo sido bispo e arcebispo de São Paulo entre os anos 1960 e 1970. Autor de 49 livros, suas obras versam sobre a ação pastoral da Igreja nas grandes cidades e estudos da literatura cristã dos primeiros séculos.

Vocação para escrita também tem o padre missionário Airton Freire de Lima, autor de 90 livros e mais de 180 CD´s gravados com músicas de sua autoria e de pregações em retiro. Presidente da Fundação Terra dos Servos de Deus, Padre Airton nasceu em 29 de dezembro de 1955, na cidade de São José do Egito, em Pernambuco. Atualmente, direciona os trabalhos na área da saúde, educação e moradia, beneficiando mais de 2.000 pessoas.

Todos os citados têm em comum não só a vocação religiosa. A concepção bíblica nos ensina que descendemos todos de um só homem primigênio. Estamos todos enlaçados por vínculos de irmandade. O judaísmo diz que Deus é um ser eterno, que a máxima criatura criada por Deus é o homem. A essência da fé é continuar buscando-o. Somos todos irmãos.


Arnaldo Niskier – Membro da Academia Brasileira de Letras, presidente do CIEE/RJ e Doutor em Educação. Saiba mais.

aniskier@openlink.com.br

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