MERCADO DAS ESPECIARIAS: GRENADE NO CARIBE – POR FELIPE DAIELLO

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Surpresa desde o início, Grenade se destaca em tudo, na comparação com outras ilhas das Pequenas Antilhas no Caribe. Para descobrir todos os detalhes precisamos visita-la muitas vezes.

O povo, amistoso, fala dialeto que toda a pessoa que domina o francês consegue compreender.

-Bom jour, monsieur!

Com população perto de 120.000 pessoas, denominada de ilha das especiarias, tem Saint Jorge como a capital. Com formação vulcânica, sua origem está a 38 milhões de anos passados e agora surge com picos elevados, florestas tropicais, praias escuras e vulcões submarinos. O turismo de massa ainda não alcançou Grenade, o que pode ser uma vantagem. Seremos poucos, perdidos, numa ilha selvagem.

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A série “Piratas do Caribe”, com Johnny Depp no papel de pirata trapalhão, teve muitos episódios filmados em Grenade. O gostoso é tentar localizar no filme a praia agora visitada, a ponte pênsil escondida, a trilha perdida ou a baía onde a “Pérola Negra” ancorava.

Francesa na origem, Grenade, por tratados, passa para mãos inglesas. Começa o cultivo do açúcar, do café, do cacau. Os escravos são trazidos. Revoltas ocorrem, em 1775 a ilha é dominada pelos africanos até feroz repressão dos britânicos.

Em 1843, sementes trazidas da Indonésia, da ilha de Banda, por negociantes holandeses, introduz o cultivo da noz moscada. Com condições favoráveis, de solo e clima, a noz moscada traz fortuna a Grenade.

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Hoje, adquirida no mercado central e nas pequenas fazendas, é utilizada não apenas como condimento, mas também como remédio; a película externa da noz, a Mace, é usada na fabricação de cosméticos. O óleo produzido é usado para cicatrizar feridas, para massagens, para melhorar a circulação e o sistema imunológico.

Sem destruir a floresta, sistema ecológico de produção foi implantado, safras são produzidas no solo com tubérculos, depois temos o nível das trepadeiras, da noz moscada e mais para o alto o cacau.

-O pequeno produtor tem a possibilidade de estar colhendo algo em todas as épocas do ano – palavras do agricultor ao explicar como sobrevivia em Grenade.

Amostras de gengibre, da canela, da vanila, do cacau, do bay leaf, de glove e de açafrão americano estavam à nossa disposição. Precisamos renovar o estoque, os preços são adequados. Sob a forma de pós, misturas de temperos multicoloridos, bem como óleos diversos com múltiplas indicações para doenças seculares, o que Grenade produz pode ser comprado no mercado central de Saint Jorge.

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– A noz moscada, usada em excesso, pode trazer efeitos alucinógenos; seu consumo em alguns países é proibido – as palavras daquele vendedor despertavam outras recordações.

Charles Dickens, o escritor inglês adorava adicionar noz moscada à sua cerveja. Ele nunca explicou a razão.

Após independência da Comunidade Britânica, o partido no governo assume poderes ditatoriais. O ministro Bishop é derrubado por ala radical que tinha o apoio cubano de Fidel Castro.

– Foi terrível a carnificina, tropas sob o efeito de drogas provocam destruições, os políticos antigos são fuzilados. Período de terror domina a ilha – eram as palavras do jovem guia.

– Graças aos fuzileiros americanos, após bombardeio do aeroporto e do palácio do governo, os invasores foram expulsos. Os restos dos Tupolevs ainda estão por lá – concluía.

– Se não fossem os gringos, hoje estaríamos falando espanhol – sorria, quase rindo quando explicava os horrores por ele presenciados.

– Os responsáveis pelos massacres foram fuzilados, outros pegaram prisão perpétua – arrematou, enquanto eu preparava mais perguntas. Continuava curioso:

– Tudo isso pela noz moscada?

Depois era oportunidade de experimentar roupas e artigos executados com fibras de bambu. Sensação agradável no toque. Maciez total. Boas compras; fora do tradicional artesanato caribenho apareciam novidades.

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FELIPE DAIELLO – Autor de “Palavras ao Vento” e ” A Viagem dos Bichos” – Editora AGE – Saiba mais.

www.daiello.com.br

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