O QUE INFLUI MAIS NO SUCESSO : AS ‘COINCIDÊNCIAS’ OU A NOSSA INTELIGÊNCIA? – RABINO KALMAN PACKOUZ

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Gostaria de responder a esta pergunta com uma história descoberta em dois diários de bordo com mais de 50 anos de idade!


Eis uma pergunta que me fazem muito frequentemente: O que influi mais no sucesso de nossos empreendimentos: as ‘coincidências’ ou a nossa inteligência, a nossa capacidade de administrar riscos e analisar corretamente as situações que nos aparecem? Gostaria de responder a esta pergunta com uma história descoberta em dois diários de bordo com mais de 50 anos de idade!

Noite de 28 de novembro de 1944. O submarino USS Archer-Fish, sob o comando do capitão Joseph Enright, patrulhava a baía de Tóquio. No campo de visão de seu periscópio estava o super-porta-aviões japonês IJN Shinano, com mais de 70.000 toneladas (40.000 toneladas maior que os maiores porta-aviões americanos!) Sua existência ainda era desconhecida do serviço de inteligência norte-americano. Foi originalmente planejado para ser um navio de guerra comum, mas após as grandes baixas nas batalhas navais de Mariana Islands, Leyte Gulf e Midway, os japoneses resolveram colocar toda sua esperança de vitória na construção de um mega-porta-aviões. O Shinano foi construído com um casco duplo especial, recheado de concreto, para torná-lo impenetrável a torpedos e com compartimentos estanques para torná-lo impossível de afundar.

O capitão Enright, porém, estava com problemas: no dia anterior seu radar quebrou e, ao consertá-lo, os técnicos realizaram testes que revelaram a sua presença na área. Agora ele estava vendo o gigantesco navio, mas este estava viajando muito rápido, a 20 nós (o Shinano podia chegar a 27 nós e os melhores submarinos de guerra alcançavam, no máximo, 19 nós). Desejoso em não perder contato com o navio, Enright continuamente utilizava o seu radar, uma estratégia não recomendável pois revelava a sua presença. Imaginava, entretanto, que já sabiam que estava lá devido ao teste do radar no dia anterior.

Quando o Shinano virou para o sul, não havia mais condições de continuar seguindo-o. O capitão emergiu e enviou então um relatório à base americana antissubmarinos no Havaí, informando sobre o alvo e seu curso. O USS Archer-Fish seguiu então numa direção em que presumivelmente poderia encontrar o porta-aviões, esperando adiantar-se e encontrá-lo lá na frente, quando atingisse a possível rota que o Shinano estaria fazendo. (Quando um porta-aviões está em águas infestadas de submarinos, costuma zig-zaguear para não se tornar um alvo fácil para os torpedos inimigos, virando à direita e à esquerda de seu curso normal.)

De repente, eis o super-navio! O submarino rapidamente submerge, preparando seus torpedos. O ângulo de tiro não estava bom, porém precisava fazê-lo. Espere! O porta-aviões começou a virar para o norte, entrando num ângulo perfeito para os torpedos. O comandante disparou 6 torpedos, com 8 segundos de intervalo entre eles. Quatro acertam o alvo… e cerca de 6 horas depois, o superporta-aviões afundou com quase metade de sua tripulação.

Ótimo trabalho! O capitão Enright recebeu a medalha da Cruz Naval americana. Ele fez tudo direitinho, afundando o ‘Bismarck japonês’, a última esperança do Japão! O uso correto do cérebro, da ousadia e da experiência! Entretanto, eis o que o capitão Enright não ficou sabendo:

O IJN Shinano está sendo comandado pelo capitão Abe. O Alto Comando japonês ordenou-o a levar o Shinano para os mares do interior do país. Eles sabiam que um avião espião B-29 fotografara a área e temiam que tivesse descoberto o porta-aviões, o que certamente incorreria num ataque subsequente de bombardeiros sobre a área onde o Shinano estava sendo completado. O capitão protestou, alegando que o mega-navio ainda não estava pronto: os compartimentos-estanques não haviam ainda sido testados para garantir sua resistência à entrada de água: faltavam algumas vedações e muitas portas estavam desalinhadas. Quatro de suas doze caldeiras ainda não estavam operacionais, permitindo que atingisse no máximo a velocidade de 20 nós. Porém, o Alto Comando ordenou: “Vá de qualquer forma! E faça-o à noite, pois não temos aviões para escoltá-lo!”

O capitão Abe recebeu de seu subalterno o relato de um submarino utilizando radar nas imediações (lembra-se do teste feito pelo Archer-Fish para consertar seu radar?) Ele presume que há uma frota de submarinos no seu encalço. Ao perceber os sinais constantes do radar inimigo (lembre-se: o Archer-Fish não conseguia alcançá-lo, mas não queria perder contato), ordenou aos quatro destróieres que o escoltavam a manter posição ao redor do Shinano. Ele imaginava que os inimigos estavam usando o submarino como isca para afastar os destróieres, de forma que outro submarino pudesse aproximar-se e afundá-lo. Quando um dos destróieres localizou o submarino e saiu em sua perseguição, o capitão Abe chamou-o de volta e deu-lhe uma bronca, antes que este pudesse atirar ou soltar suas cargas de profundidade contra o alvo. Se o destróier tivesse perseguido o submarino, o Shinano poderia ter escapado!

Depois de virar para o sul, o super-navio foi obrigado a diminuir a marcha por causa de um sobreaquecimento em seu propulsor, diminuindo assim sua velocidade. O capitão Abe é avisado da transmissão de rádio feita pelo submarino (quando o Archer-Fish não mais conseguia manter contato com o Shinano, enviou um comunicado à base do Havaí). Imaginando que o submarino havia transmitido sua posição aos outros submarinos, o capitão Abe resolve mudar o curso de volta para o norte – indo, sem saber, diretamente de encontro ao USS Archer-Fish.

Quando o comandante recebeu o relato de que os sinais de radar do submarino haviam cessado (quando o submarino submergiu para tentar um tiro fora de ângulo), exclamou: “Ahá! O submarino está prestes a nos torpedear!” E o que fez então? Alterou novamente o curso do Shinano para sair da mira do submarino, o que justamente o levou a entrar no melhor ângulo de tiro para um tiro perfeito!

Antes do impacto dos quatro torpedos, o capitão Abe dá ordens para aumentar a velocidade em direção ao seu destino, presumindo que quatro torpedos não fariam um grande estrago no navio. Ao invés de rumar de volta para sua base ou para terra-firme, o mega-navio aumentou a velocidade. Infelizmente, devido aos problemas com as vedações e portas estanques, sua ordem apenas atrapalhou: com o aumento da velocidade, mais água foi entrando pelo casco, até que ficou tarde demais para salvar o navio e sua tripulação.

Agora, eis a questão: O que afundou o Shinano? A habilidade de navegação e a estratégia do capitão Enright ou as suposições do capitão Abe? A resposta: as duas! Nossa lição de toda esta história? Precisamos dar o máximo de nós em nossas vidas, levando em conta as informações disponíveis e tomando as melhores decisões baseados nelas. O resultado? NÃO está em nossas mãos! O sucesso está nas ‘mãos’ do Todo-Poderoso. Se Ele desejar, o porta-aviões afunda, se não, não.

Qual a prova disto? Voltemos ao diário de bordo:

Um ano antes, o nosso capitão Enright estava comandando o submarino USS Dace. A base americana antissubmarinos enviou-lhe uma mensagem super-secreta: haviam interceptado e decifrado uma mensagem naval japonesa, passando-lhe a localização, curso e velocidade do porta-aviões IJN Shokaku (que esteve envolvido no bombardeio a Pearl Harbour). O capitão posicionou-se no melhor local para interceptar o inimigo. Na hora prevista, lá estava o porta-aviões – porém … 9 milhas mais adiante, longe demais para ser alvejado. Qual o motivo? O capitão Enright percebeu depois que a corrente marítima do local estava 1/3 mais fraca, o que causou a diferença em relação à posição do inimigo. Em pé, na frente de seu periscópio, de coração partido, o capitão Enright assistiu o Shokaku deslizando pelo horizonte, impotente para fazer qualquer coisa.

Respondendo agora à pergunta “O que influi mais no sucesso de nossos empreendimentos: as ‘coincidências’ ou a nossa inteligência, a nossa capacidade de administrar riscos e analisar corretamente as situações que nos aparecem?” A resposta é que não há como saber, como ter uma resposta precisa. Porém, podemos aprender o seguinte: façamos os nossos melhores esforços, tudo o que estiver dentro de nosso alcance, mas com a certeza de que o sucesso final está nas mãos do Criador!


Pensamento: Coincidências são o jeito de D’us manter-se anônimo!


RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

NOTA:- Desejando contribuir para o Meor Hashabat acesse o www.aishdonate.com – Email – meor18@hotmail.com

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