RIVALIDADE X SEMELHANÇA – RABINO RUBEN STERNSCHEIN

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É possível se manter humano inclusive na pior das situações que só o humano cria e vive: a guerra. Para isso, é necessário continuar percebendo a humanidade própria e especialmente a do rival. Perceber sua força, sua beleza, sua virtude e sua sensibilidade, o que o faz semelhante, além de rival.


 275_historia_1_2Qual relação poderiam ter um ninho, uma guerra e uma traição? Entre os vários assuntos que são tratados na parashá desta semana, três chamam especialmente a atenção. O primeiro é a lei sobre o tratamento devido em caso de se apaixonar por uma cativa inimiga no meio de uma guerra; o segundo é a lei que manda espantar a mãe no caso de os filhotes de um ninho serem necessários; e o terceiro é a lei que manda erradicar da terra todo vestígio do povo de Amalec, que atacou Israel pelas costas.

Embora sejam muitos e diversos os preceitos que trata a parashá Ki Tetsê, e não há nenhuma necessidade de existir conexão entre eles, parece interessante buscá-la neste caso.

Amalec atacou Israel na retaguarda, no local mais fraco, onde provavelmente se encontravam os doentes, as crianças e os idosos. Procurou o ponto fraco para bater com força.

Apaixonar-se por uma cativa inimiga implica exatamente o contrário: achar o ponto belo no inimigo no meio da guerra a pesar da rivalidade.

E espantar a mãe para longe dos filhotes, de igual modo, supõe ter sensibilidade para ver no animal um ser semelhante a nós, inclusive na hora de usufruí-lo.

É possível se manter humano inclusive na pior das situações que só o humano cria e vive: a guerra. Para isso, é necessário continuar percebendo a humanidade própria e especialmente a do rival. Perceber sua força, sua beleza, sua virtude e sua sensibilidade, o que o faz semelhante, além de rival.

O outro, como temos descoberto no curso de Pensamento Judaico desse ano, tem ao mesmo tempo todas as diferenças e todas as semelhanças. Podemos torná-lo um “alien” ou alheio, e até um monstro. Ou podemos ver a nós mesmos nele. Especialmente nas disputas, sejam elas de quaisquer tipos: profissionais, familiares, conjugais, nacionais, políticas ou religiosas. Os nazistas, por exemplo, desumanizavam os judeus para poder vitimá-los do modo que fizeram.

Que possamos manter nossa humanidade e a dos rivais no meio de nossas empreitadas e lutas.


RABINO RUBEN STERNSCHEIN – Rabino da Congregação Israelita Paulista desde janeiro de 2008, Ruben Sternschein é bacharel em Educação e mestre em Filosofia Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, onde completou os estudos de doutorado em Filosofia Judaica e está prestes a entregar sua tese final. Foi ordenado rabino no Hebrew Union College, onde também obteve seu mestrado em Ciências Judaicas. Dirigiu a “Mikra-Net”, uma rede inter-universitária de estudos judaicos da qual também foi docente. Dissertou em mais de dez universidades, dirigiu o programa de formação de liderança educativa juvenil, foi bolsista premiado de prestigiosas fundações acadêmicas e educativas e se graduou também no programa de direção e liderança superior do Mandel Institute. Fundou e dirigiu a comunidade judaica liberal de Barcelona, exerceu o rabinato em Jerusalém e foi selecionado como representante judaico para o grupo inter-religioso da UNESCO que elaborou o documento: Uma Ética Universal.

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