COMO REPREENDER OS OUTROS – RABINO KALMAN PACKOUZ

275_historia_3_1

A repreensão deve ser feita com amor e da forma menos dolorosa possível. Somente quando o destinatário da repreensão sente que aquele que o está repreendendo o ama, é que prontamente irá aceitar a admoestação.


Eis uma pergunta que as pessoas fazem muito frequentemente: existe um mandamento da Torá de repreender outra pessoa?

Maimônides, um dos grandes codificadores da lei judaica, escreveu (Hilchot Deot 6:7): “É uma mitsvá incumbente a toda pessoa que ao ver que o seu colega errou ou está seguindo num caminho impróprio, admoestá-lo para que retorne a um comportamento adequado e para informá-lo que ele próprio está causando danos a si mesmo por causa de seus maus atos, como declara a Torá: ‘Você certamente deve admoestar o seu colega'” (Levítico 19:17).

Todavia, existem dois aspectos essenciais ao se realizar esta mitsvá: (1) a nossa intenção e (2) como iremos fazê-la. A intenção deve provir do amor pela outra pessoa e do desejo de ajudá-la – e nunca para descarregar a nossa raiva sobre como as ações desta pessoa estão nos incomodando ou que estejamos externando a nossa “superioridade moral”. A repreensão deve ser feita com amor e da forma menos dolorosa possível. Somente quando o destinatário da repreensão sente que aquele que o está repreendendo o ama, é que prontamente irá aceitar a admoestação.

Muitas vezes vemos ou ficamos muito incomodados pelo comportamento incorreto de alguém quando, na verdade, nós também nos comportamos desta maneira. A maioria de nós já ouviu o velho ditado: “Quando você aponta o seu dedo para alguém, lembre-se: três dedos estão apontando de volta para você!”

Eis algumas ideias extraídas do livro Love Your Neighbor sobre o tópico de admoestação:

1)Somos ordenados a corrigir alguém que se comporta inadequadamente quer em questões relacionadas ao seu relacionamento com D’us como em seu relacionamento com seus companheiros (Hinuch 239).

2) A pessoa deve corrigir as suas próprias falhas antes de corrigir os outros (Talmud Baba Batra 60b). Isso não nos isenta de repreender os demais; ao contrário: isto nos obriga a corrigirmos a nós mesmos primeiro.

3) A pessoa não deve apenas admoestar sobre o erro, mas também ensinar o comportamento adequado (Shlá, Toldot Adam, p. 2).

4) A repreensão deve ser feita em particular – para não envergonhar a outra pessoa (Maimônides, Hilchot Deot 6:7).

5) Sejamos extremamente cuidadosos para não envergonhar a outra pessoa. (Maimônides, Hilchot Deot 6:8)

6) Falemos agradável e suavemente. Transmitamos que temos apenas o seu beneficio em mente.

7) Se alguém transgride publicamente, ele deve ser repreendido imediatamente de forma a não provocar um hilul HaShem (profanação do nome de Deus) (Mishna Brura 608:10). Por exemplo, se alguém está em meio a falar lashon hará (fofoca/calúnia) na frente de um grupo de pessoas, é correto interromper a transgressão imediatamente, apesar de outras pessoas estarem presentes. Evidentemente, isso deve ser feito da forma mais educada e diplomática possível (Rabino Yossef Shalom Eliashiv Z”TL).

Talvez interrompê-la em um tom de voz suave e levar a pessoa de lado para conversar. Usar uma pergunta ao invés de uma declaração muitas vezes funciona melhor: “Desculpe-me, mas o que você está dizendo não é fofoca/calúnia?” Se a pessoa tem tendência a seguir os mandamentos da Torá: “A Torá não proíbe isso?” Se a pessoa não é cumpridora da Torá: “Desculpe, você gostaria que outros falassem sobre você desta maneira?”

8) Sejamos muito cuidadosos em não ficarmos bravos (Marganita Tava, n° 10). Uma repreensão feita de forma zangada não será escutada. Mesmo ao admoestar crianças ou membros da família, façamo-lo em um tom de voz agradável (Pele Yoetz, seções Gaavá e Zilzul). O Rabino Haim de Volozhin ensinou que se uma pessoa é incapaz de admoestar em um tom de voz agradável, ela está isenta da obrigação de repreender (Keter Rosh #143, Minchat Shmuel).

9) Se alguém nos enganou ou prejudicou, não devemos silenciosamente odiá-lo(a); tentemos corrigi-lo(a). De uma maneira gentil pergunte: “Por que você fez tal e tal coisa contra mim?” Se a pessoa lhe pedir que a perdoe, você não deve agir de forma cruel, mas sim aceitar as suas desculpas (Maimônides, Hilchot Deot 7:4,5). Ficar em silêncio quando fomos injustiçados gera ódio. No entanto, se censurarmos a pessoa que nos lesou – seguindo as regras acima – não guardaremos ressentimento. Mais ainda: podemos acabar descobrindo que nós é que estávamos enganados ou a outra pessoa pode pedir desculpas.

Em resumo: a repreensão só deve ser feita com amor e visando o benefício da outra pessoa e o seu crescimento. Às vezes, devemos esperar um dia ou dois antes de repreender alguém. Lembre-se: a repreensão é muitas vezes um prato melhor quando servido frio!


Pensamento: As pessoas não se importarão com o que dizemos – A menos que saibam que nos importamos!


RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

NOTA:- Desejando contribuir para o Meor Hashabat acesse o www.aishdonate.com – Email – meor18@hotmail.com

20
20