EDUARDO KOBRA FINALIZA MURAL SOBRE ANNE FRANK EM AMSTERDÃ

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“Sempre quis fazer um mural sobre Anne Frank. A sua triste história leva a uma profunda reflexão, já que a intolerância ainda persiste no mundo. Ao mesmo tempo, Anne inspira muitos jovens do mundo inteiro pela sua coragem e sabedoria”.

O brasileiro Eduardo Kobra concretizou em Amsterdã, Holanda, um de seus maiores sonhos: ele entregou o mural “Let me be myself”, que pintou desde o 20 de setembro sobre a menina Anne Frank, morta aos 15 anos em fevereiro de 1945 pela barbárie nazista no campo de extermínio de Bergen-Belsen. O mural de 240m² fica em NDSM-werf, na parede de um prédio em que será construído o maior museu de arte de rua de todo o mundo, na região norte de Amsterdã, na Holanda. “Sempre quis fazer um mural sobre Anne Frank. A sua triste história leva a uma profunda reflexão, já que a intolerância ainda persiste no mundo. Ao mesmo tempo, Anne inspira muitos jovens do mundo inteiro pela sua coragem e sabedoria. Apesar de tudo, ela nunca perdeu sua fé na humanidade e se manteve viva através da literatura para transmitir sua história e legado”, afirma Kobra, que acrescenta: “escolhi como título e tema do mural justamente uma de suas frases mais representativas e universais, que é ‘Deixe-me ser eu mesma’, fundamental em um mundo onde a identidade de cada um deveria ser respeitada”. Amanhã, 4 de outubro, Kobra voltará para o Brasil.

Anne Frank, menina judia alemã, que viveu grande parte de sua breve vida em Amsterdã, se tornou conhecida, após sua morte, depois da publicação de seu diário – “O Diário de Anne Frank” – que foi publicado em cerca de 60 países traduzido para 70 idiomas, com 30 milhões de exemplares vendidos e serviu de tema para inúmeros filmes e peças de teatro.

Para fazer o mural, Kobra, que esteve na Holanda acompanhado por dois artistas do Studio Kobra, Agnaldo Brito e Marcos Rafael, utilizou 450 latas de spray e 35 litros de tinta acrílica.

Com o novo mural, Eduardo Kobra mantém o foco nos temas que marcam suas obras nos últimos anos. Em uma das suas séries mais representativas, o artista destaca em murais feitos em diversos países personalidades icônicas que contribuíram para paz, a liberdade, a arte e o humanismo, como Nelson Mandela, Martin Luther King Malala Yousafzai, Dalai Lama, Mahatma Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e John Lennon.

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Pouco antes dos Jogos Olímpicos deste ano, Kobra encantou o mundo ao fazer no Rio de Janeiro o belo e relevante mural “Etnias – Todos Somos Um”, monumental trabalho, com 2.646,34m², no Boulevard Olímpico, no Porto Maravilha, Rio de Janeiro. No mural, estão representados os cinco continentes: Ásia – Karen, da Tailândia; Oceania – tribo Hulis, da Papua Nova Guiné; América – os Tapajós, da região amazônica; Europa – tribo Chukchis, da Sibéria e África – os Mulsi, da Etiópia. A obra foi reconhecida pelo Guinness World Records como o maior mural grafitado do mundo.

Sempre disse que esse seria o maior painel grafitado no mundo e que era o único recorde já garantido antes do início dos Jogos. Mas é claro que esse número – que estar no Guinness – só é importante para dar ainda mais visibilidade à obra. O importante é a mensagem! Infelizmente há no mundo uma intolerância cada vez maior, onde pessoas de diversos continentes, especialmente da Europa, rejeitam o imigrante ou o ‘diferente’. Espero que esse mural, dentro do espírito olímpico dos Jogos, tenha ajudado e continue a ajudar a lembrar que todos temos origens ‘semelhantes’, que todos somos diferentes mas iguais; que a diversidade é bela, mas que no fundo Todos Somos Um: a espécie humana”, diz o artista, que acrescenta: “este novo mural, o ‘Deixe-me ser eu mesma’, também busca sensibilizar as pessoas para o humanismo e talvez despertar para que tenham uma atitude mais proativa diante dos problemas da humanidade. Fico emocionando quando vejo uma multidão observando meu trabalho, mas também é fantástico e emocionante quando vejo que uma única pessoa parou na correria do dia-a-dia para observar minha pintura e talvez tenha se tornado mais sensível ou até mais ativa como transformadora da sociedade”.

“O projeto de Kobra em Amsterdã surgiu de uma visita do prefeito Van der Laan a São Paulo no início de 2016 e é parte integrante da cooperação entre as duas cidades”, diz Joelke Offringa, presidente do Instituto Plataforma Brasil, que idealizou a ida de Kobra à Holanda. Segundo Joelke, a NDSM-weerf era uma área de estaleiros de Amsterdã, onde estava situada a maior companhia de construção de navios da Holanda, que faliu no século 20. “Agora é uma área de inovação, com muitas incubadoras de projetos artísticos”, afirma.

O local, foi escolhido juntamente com Kobra e a TEKTON Architekten, de Amsterdã. “O NDSM-werf tem uma reputação internacional como um refúgio artístico, inovador e experimental, de modo que a mensagem de liberdade e coragem, que Kobra defende em seus trabalhos, combina com o lugar”, diz Peter Ernst Coolen, que, em nome da Street Art Today, organizou toda a produção em Amsterdã. Kim Tuin, diretor da Fundação NSDM-werf, também acolheu de imediato a ideia da ida de Kobra ao estaleiro para a produção de seu novo mural.

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Antes de ir para Amsterdã, Kobra esteve de 12 a 18 de setembro em Ravenna, na Itália, para pintar um mural de quatro metros quadrados sobre Dante Alighieri, em um pequeno prédio na região central da cidade italiana. Kobra também fez uma gravura de 35X50cm para uma exposição sobre o escritor italiano na Casa Oriani, também em Ravenna, na qual diversos artistas pintaram suas ‘leituras’ sobre o notável escritor italiano.

Pouco antes, no dia 5 de setembro, Kobra entregou em São Paulo um mural, ainda sem nome definido, inspirado no ciclismo e na necessidade da apropriação de espaços urbanos pela população. A obra fica na empena (parede lateral) do Ibis Styles São Paulo Faria Lima (rua Tavares Cabral, 61, em Pinheiros). A parede que recebe o mural do artista, de 60 metros de altura por 13 de largura, é voltada para a av. Faria Lima. Kobra é apaixonado por bicicletas, que usa há mais de uma década em São Paulo. É a segunda vez que destaca o veículo em suas obras. Em maio de 2015, pintou na rua Oscar Freire, em São Paulo, o mural “Genial é Andar de Bike”, onde mostra uma divertida cena do cientista Albert Einstein pedalando uma bicicleta.

Kobra e o esporte

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O esporte é um tema recorrente na obra do muralista. Em 2013, ele pintou “A Arte do Gol”, retratando o antológico gol de Falcão na Copa do Mundo de 82. Em 2010, fez na Praça do Patriarca, em São Paulo, a obra “Futebol e África”, em 3D; e no Largo da Carioca, no Rio de Janeiro, um estádio de futebol, também em 3D. Em novembro de 2015, Kobra inaugurou na rua da Consolação, em São Paulo, o impressionante mural “A Lenda do Brasil”, de 41 metros por 17,5 metros. Ayrton Senna, retratado na obra, é uma das grandes referências da vida de Kobra, que já fez cerca de dez obras sobre o notável piloto brasileiro, falecido em 1994.

Em março de 2017, Eduardo Kobra fará em São Paulo um mural do ex-jogador e técnico holandês Johan Cruyff. O anúncio foi feito no dia 19 de maio, em São Paulo, por Joelke Offringa, presidente do Instituto Plataforma Brasil, durante uma homenagem a Cruyff, falecido em março deste ano. O evento aconteceu no Projeto Social da Fundação Johan Cruyff, com a presença do prefeito de Amsterdã, Eberhard van der Laan, em Ermelino Matarazzo, na Zona Leste de São Paulo. O convite, já aceito por Kobra, veio oficialmente da cidade de Amsterdã. “É uma honra fazer referência a esse notável jogador e técnico, que revolucionou a história do futebol e também se mostrou um verdadeiro craque fora dos gramados, ao ajudar cerca de duas mil crianças em 200 países, através de sua fundação”, diz Eduardo Kobra.

O muralista vê uma similaridade entre a obra que fará sobre Cruyff e o mural “A Arte do Gol”, realizado em 2013 na av. Hélio Pellegrino, em São Paulo, sobre o antológico gol de Falcão na Copa do Mundo de 82 contra na derrota brasileira por 3 a 2 para a Seleção Italiana. “Sem querer comparar a importância e o estilo de cada um dos jogadores, existe a similaridade evidente: nenhum dos dois chegou ao título mais cobiçado do futebol, que é o Mundial de Seleções, mas ambos encantaram o mundo. E é preciso sempre lembrar que não é preciso ser campeão em tudo para deixar arte e inspiração para todos”.

Sobre Eduardo Kobra

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Kobra é um expoente da neo-vanguarda paulistana. Seu talento brota por volta de 1987, no bairro do Campo Limpo com o pixo e o graffiti, caros ao movimento Hip Hop, e se espalha pela cidade. Com os desdobramentos, que a arte urbana ganhou em São Paulo, ele derivou – com o Studio Kobra, criado em 95 – para um muralismo original – inspirado em muitos artistas, especialmente os pintores mexicanos e no design do norte-americano Eric Grohe — beneficiando-se das características de artista experimentador, bom desenhista e hábil pintor realista. Suas criações são ricas em detalhes, que mesclam realidade e um certo “transformismo” grafiteiro.

É interessante ressaltar que Kobra não faz intervenções sem pedir antes a autorização do poder público ou do proprietário do imóvel. Kobra é autor do projeto “Muro das Memórias”, que busca transformar a paisagem urbana através da arte e resgatar a memória da cidade. Os desenhos são a síntese do modo peculiar de Eduardo Kobra criar – através do qual pinta, adere, interfere e sobrepõe cenas e personagens das primeiras décadas do século XX. Essas obras são uma junção de nostalgia e modernidade, por meio de pinturas cenográficas, algumas monumentais. Através delas cria portais para saudosos momentos da cidade “A ideia é estabelecer uma comparação entre o ar romântico e o clima de nostalgia, com a constante agitação de hoje”, diz o artista.

Desde 2006 já foram entregues cerca de 30 murais em avenidas e ruas de São Paulo. Em janeiro de 2009, entregou para o aniversário de São Paulo um mural de 1000 metros quadrados na av. 23 de Maio, que mostra cenas da década de 20. Kobra, que nunca faz uma intervenção sem pedir antes a autorização do poder público ou do proprietário do imóvel, pediu a autorização para a a obra. O então prefeito Gilberto Kassab (“Lei da Cidade Limpa”) prestigiou a inauguração do muro da av. 23 de maio, o que é visto como um marco para a arte de rua, porque pouco antes os fiscais de Kassab andavam destruindo várias obras de artistas urbanos. Em janeiro de 2013, Eduardo Kobra fez a impressionante obra “Oscar Niemeyer”, para o aniversário de São Paulo.

Kobra, inquieto, estudioso e autodidata, também faz pesquisas com materiais reciclados e novas tecnologias, como a pintura em 3D sobre pavimentos (muito difundida por nomes internacionais, como Julian Beever e Kurt Wenner). O artista realizou diversas obras em 3D, como na Praça Patriarca, no centro da Cidade, a primeira no Brasil; e na Avenida Paulista, símbolo da megalópole. A técnica anamórfica consiste em “enganar os olhos”. A pintura é distorcida ou mesmo incompreensível na maioria dos ângulos de visão, mas ao ver do ângulo correto, estipulado pelo artista, se torna um 3D com incrível variação de profundidade e realismo.

Paralelamente, Kobra desenvolve sua produção pessoal, que passa pela pesquisa de materiais reciclados e novas tecnologias. Recicla e recria momentos e formatos das histórias da Arte e das cidades, especialmente de São Paulo. Kobra tem sido muito procurado para decorar também para pintar restaurantes, bares e residências. Participou de várias edições da Casa Cor São Paulo e da Bienal de Arquitetura de São Paulo.

Eduardo Kobra começou como pichador, tornou-se grafiteiro e hoje se define como um muralista. Tornou-se conhecido pelo seu projeto Muro das Memórias, onde faz releituras de cenas da São Paulo antiga, como o muro de 1.000m2 na av. 23 de maio. Nos últimos anos também se dedicou muito a outros projetos, como surpreendentes obras em 3D e o projeto Greenpincel, onde mostra (ou denuncia) imagens fortes de matança de animais e destruição da natureza; e homenagens a personagens que marcaram a história, em diferentes áreas, como Albert Einstein, Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá, Abraham Lincoln, Maya Plisetskaya Salvador Dali, Barquiat (grafiteiro), Frida Kahlo e Andy Warhol.

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