POR QUE DEVO AJUDAR OS OUTROS? – RABINO KALMAN PACKOUZ

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Bondade é algo que precisamos exercer e praticar. Ela ajuda os demais seres humanos, traz o mundo um passo mais próximo da perfeição e eleva nosso nível de espiritualidade.


Qual o valor de um ato de bondade? Alguns anos atrás, meu amigo Henry Percal compartilhou comigo uma história sobre sua juventude. Henry nasceu e cresceu em Cuba. Seus pais tinham um bom padrão de vida, trabalhando numa pequena companhia familiar própria.

O pai de Henry o enviou para estudar na Academia Militar de Riverside, no estado americano da Geórgia. Havia mais alguns rapazes cubanos nesta academia, mas eles tinham muitos atritos com os espertalhões da Geórgia. Quando Henry estava em seu último ano, outro garoto cubano, chamado Damas, ingressou na classe dos novatos. Damas tinha 1,55 m de altura.

Henry logo percebeu que Damas não sobreviveria aos ‘trotes’ que estavam sendo preparados para os calouros nos primeiros meses de Academia. Ele então mandou avisar que Damas estava sob sua proteção e que qualquer um que tocasse nele, “teria que se ver comigo!”

Em maio de 1960, Henry retornou a Cuba. Em outubro de 1960 Fidel Castro depôs Batista do poder e começou suas modificações. Certo dia, seu pai recebeu uma carta declarando que a companhia de propriedade da família já não mais lhes pertencia. Noutro dia receberam uma carta que o governo agora era o ‘orgulhoso proprietário’ dos apartamentos que seu pai tinha para alugar.

Henry tinha um amigo no clube, um desertor do exército americano, procurado por assassinato nos Estados Unidos. Ele se tornara ‘instrutor de armas’ de Castro, com a patente de coronel. Um dia este amigo secretamente informou Henry que seu pai estava na lista dos que seriam presos na semana seguinte. No dia seguinte seu pai pegou um vôo da Pan Am para Miami.

Duas semanas depois, Henry e sua mãe estavam no aeroporto aguardando seu vôo para Miami. Embora pudessem sair do país, estavam muito preocupados que fossem chamados pela Segurança em relação à sua bagagem. Naqueles meses após a revolução, a época era de tumulto. Se alguém fosse chamado pela Segurança, provavelmente suas posses seriam confiscadas sob alguma acusação sem fundamento e talvez a pessoa fosse presa ou desaparecesse baseado em alguma acusação inventada.

Então veio o chamado pelos alto-falantes: “Família Percal, comparecer à Segurança”. Na sala da Segurança, um oficial exausto os aguardava. Resmungão, grosseiro e de pouca conversa, que parecia muito ressentido com a tarefa que lhe fora designada, falou: “Passaportes!” Eles entregaram os passaportes. A mãe de Henry perguntou: “Quanto tempo isto irá demorar? Não queremos perder o avião!” O oficial respondeu: “Vocês já perderam o avião!”

De repente ele começou a olhar para Henry inquisitivamente: “Você é o Percal?” “Sim”, respondeu Henry. “Você frequentou a Academia Militar de Riverside?” “Sim”, respondeu Henry. “Você conheceu um jovem chamado Damas?” “Sim”, respondeu Henry. O oficial devolveu os passaportes e disse: “Ele é meu filho. Façam uma boa viagem!”

Todos adoraram histórias como esta. É a maneira como o mundo deveria ‘funcionar’. Alguém faz um ato de bondade e o recebe de volta de uma maneira espetacular. Infelizmente, frequentemente ouvimos a frase: “Nenhum bom ato passa impune”. Muitas vezes ficamos sabendo de alguém que fez algo bom ou gentil e recebeu de volta uma resposta desagradável. Como devemos reagir a isto?

A Torá nos relata que “D’us criou o homem à sua imagem (Bereshit 1:27)”. O Hafets Haim, rabino Yisroel Meir Kagan (Polônia, 1839-1933), um dos maiores líderes do Povo Judeu até seu falecimento, explicou que o termo “à imagem de D’us” significa que o homem tem a capacidade de copiar os atos de D’us, que concede bondade a todas as pessoas. Praticando atos de bondade, estamos refletindo um dos atributos de D’ us. Ao pensar: “Por que devo ajudar os outros?”, a pessoa está se desviando de sua própria divindade.

A própria sobrevivência da humanidade depende da bondade. Toda pessoa, sem exceção, precisa da ajuda de outros seres humanos. O Profeta Mihá nos disse: “O que o Todo-Poderoso quer de vocês? Que ajam com justiça, amem a bondade e andem humildemente com D’us (6:8)”. Bondade é algo que precisamos exercer e praticar. Ela ajuda os demais seres humanos, traz o mundo um passo mais próximo da perfeição e eleva nosso nível de espiritualidade. Então, qual a resposta à pergunta acima, como devemos reagir aos mal agradecidos?

A resposta é: Foquemos toda nossa energia em beneficiar os demais, não na resposta ou no reconhecimento que esperamos receber em troca de nossa ajuda. Nosso sucesso em ajudar os outros é a própria resposta aos mal agradecidos!


RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

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