A RAIVA É UMA DELÍCIA – RABINO KALMAN PACKOUZ

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A raiva provém de um ego frágil. Interpretamos as coisas que acontecem como um ataque pessoal ao invés de uma mera casualidade, preguiça ou incompetência.


O Meór HaShabat é enviado semanalmente via fax e e-mails para milhares de leitores, sendo que nos Estados Unidos são enviados cerca de 50.000 faxes e 50.000 emails. Uma das mensagens mais interessantes que recebi em minha secretária eletrônica, vinda de um recebedor do Meór HaShabat, foi algo assim (por favor, leia em um tom alto, beligerante e agressivo): “Tire-me da lista do Meór HaShabat. Eu não o pedi, não quero esta (palavra omitida) ou irei processá-lo por suas mensagens não solicitadas. Você está avisado, não reclame depois!” Desafortunadamente, em sua fúria, ele não me deixou o nome a ser removido, o número do fax ou algum telefone para contato. Entretanto, procurei no Identificador de Chamadas e descobri um número telefônico.

Liguei para o ‘cavalheiro’ e perguntei se ele havia deixado uma mensagem para ser removido do Meór HaShabat. Ele novamente ‘entrou em erupção’, jorrando uma torrente vulcânica de ameaças, frases em tom grosso e palavrões. Quando se acalmou – ou pelo menos parou para respirar – falei-lhe que ficaria satisfeito em removê-lo de nossa lista de faxes, mas que precisava de um nome ou número de fax para poder retirar, e ele se esquecera de deixar ambos em sua mensagem. Ele passou-me seu nome, mas não constava em nossa listagem. Pedi-lhe o número do fax, pensando que talvez houvesse algum erro em nossa listagem e ele estivesse recebendo por engano, mas seu número também não constava em nossa lista.

Pedi-lhe então que lesse as pequenas letrinhas no topo da página, onde consta o nome de quem enviou o fax. Ele respondeu: “Oh, veja só isto! Um de meus amigos enviou-me uma cópia de seu fax. Estou curioso para saber por que ele fez isto!” (Eu preferi não lhe dizer que o tópico daquele fax era ‘Como Conquistar sua Raiva’)

Então perguntei: “Como o senhor se sente após deixar uma mensagem tão ríspida e ameaçadora, quando se tratava de um mal entendido?”. Ele replicou: “Eu apenas estava tentando ser um cara legal, dando-lhe uma chance de me retirar de sua lista antes que eu procurasse as autoridades!”

Nossos Sábios nos ensinaram (Talmud Shabat 105b) que uma pessoa que fica com raiva é como se estivesse praticando idolatria. Qual ídolo ela está adorando? Resposta: Ela própria. Ficamos com raiva porque temos expectativas de que tudo deve ser e ocorrer exatamente como queremos e desejamos. Não é de se espantar que o autor do livro Orchot Tsadikim (O Caminho dos Justos, disponível em http://www.eichlers.com/ways-of-the-tzaddikim-hardcover.html) afirme que uma pessoa controlada pela raiva priva a si mesma de ter alegrias na vida. Um sujeito nervoso não tem autocontrole e está à mercê de forças exteriores à sua pessoa.

Analisemos o porquê de ficarmos nervosos. Eis dois exemplos: (1) Tropeçamos em alguém ou alguém se choca conosco, e (2) Um colega, o cônjuge ou uma criança não ouve o que lhes falamos ou pedimos. No primeiro caso, algo inesperado aconteceu. No último, aflora a frustração de termos nossa vontade contrariada ou frustrada.

A raiva provém de um ego frágil. Interpretamos as coisas que acontecem como um ataque pessoal ao invés de uma mera casualidade, preguiça ou incompetência. Internamente estamos nos dizendo: “Como isto pode estar acontecendo comigo? Sou muito importante para isto me acontecer!”

Existe apenas um lugar adequado para a raiva: o dicionário. Também, ao sermos fisicamente atacados, a raiva dirige nossa resposta conta o atacante. Mas não mais que nestes casos.

Uma pessoa nervosa pode até ser ouvida (se tiver algum poder), mas parecerá um meshuguenê (um maluco). Ela será temida, mas não amada. Também colocará sua própria vida em perigo (através de uma alta na pressão sanguínea), não estará sendo efetiva nem desfrutando sua vida. Se estiver tentando repreender uma criança, aluno ou funcionário, eles poderão até ouvir seu ponto, mas aprenderão um péssimo exemplo de como lidar com o stress ou situações desagradáveis (Um pai deve a seus filhos três coisas: exemplo, exemplo e exemplo). Lembre-se: os pais podem parecer nervosos ao punir uma criança, mas nunca puni-la por estarem nervosos. Diz-se que criar crianças gritando com elas é como dirigir um carro sem tirar a mão da buzina.

A raiva com certeza pode ser controlada. Imagine que alguém se choque com você com muita força. Você começa a ficar nervoso, vira-se… e dá de cara com um cego, ou uma pessoa especial que sempre quis conhecer, ou um meliante com 1,95 m de altura. Sua perspectiva transforma-se imediatamente e você percebe que perguntar: “O senhor se machucou?” é muito mais apropriado e prudente.

Mais algumas dicas para controlar a raiva e o nervosismo?

1) Conscientize-se que a raiva é anti-produtiva e comprometa-se a não ficar nervoso(a)

2) Perceba o quão insano(a) você parece quando está nervoso(a) (talvez valha à pena carregar um espelho de bolso e recusar-se a ficar nervoso(a) até tirá-lo e olhar a si mesmo(a) nele!)

3) Crie um sistema de multas e pague a alguém (preferivelmente a alguém que não goste) uma multa bem pesada a cada vez que ficar nervoso(a)

4) Imagine que tenha acabado de ganhar na loteria. Você ainda ficaria nervoso com aquela discussão que estava tendo? (Saiba que se não ficar nervoso(a), você terá ganhado a loteria da batalha contra o seu mau temperamento).

5) Adie sua fúria! Sim, conte até 10 ou saia da sala antes de explodir

6) Se acabar ficando nervoso(a), interrompa-se bruscamente, peça desculpas aos demais e comprometa-se a fazer um papel melhor no futuro.

7) Leia o livro Anger The Inner Teacher – A Nine-Step Program to Free Yourself from Anger, disponível em www.artscroll.com/Products/AGRH.html.


INIMIGOS PODEM VIRAR GRANDES AMIGOS!

Dvar Torá: baseado no livro Growth Through Torah, do Rabino Zelig Pliskin

Quando Yaacov soube que seu irmão Essáv estava vindo encontrá-lo, ele orou ao Criador para salvá-lo: “Salve-me da mão de meu irmão, da mão de Essáv” (Bereshit 32:12). Por que a expressão “da mão” está repetida ? A Torá não desperdiça palavras. Uma vez seria o suficiente!

A razão pela qual as palavras “da mão” são repetidas é para nos ensinar que quando um irmão se torna seu inimigo, ele se torna um inimigo muito mais perigoso que qualquer outro estranho. Tosfot, um dos comentaristas do Talmud, no Tratado Taanit (20a), acrescenta que da mesma forma que um ex-amigo muito querido se torna o pior dos inimigos, quando dois inimigos que se tornam amigos, esta se torna a mais forte das amizades.

Quando você tem dificuldades em se relacionar com alguém, não pense que só porque agora vocês não se gostam, isto será para sempre. Pelo contrário, se você for capaz de superar a animosidade entre vocês, os antigos sentimentos negativos podem ser transformados em sentimentos extremamente positivos. No cenário internacional temos visto países que lutaram guerras violentas entre si, para depois fazerem as pazes e se tornarem fortes aliados. Isto deveria servir de lição para nós fazermos as pazes com pessoas que discutiram conosco no passado.

O Rabino Meir Yehiel de Ostrowiec (Polônia, 1851-1928) salvou os Judeus de sua cidade de um pogrom durante a Primeira Guerra Mundial. O exército Austro-Germânico deixou a cidade e o exército russo entrou. Em outros lugares os Judeus sofreram terrivelmente com a chegada do exército russo. O Rabino Meir Yehiel convocou uma reunião com as pessoas importantes da cidade e contou-lhes seu plano de saudar os soldados russos como libertadores. Dariam comida e cigarros aos soldados e desenvolveriam uma relação amistosa com eles. Isto foi o que fizeram e os soldados reagiram de forma muito amigável em relação à população Judaica da cidade.


Pensamento: “As coisas mais importantes na vida não são coisas!”


RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

NOTA:- Desejando contribuir para o Meor Hashabat acesse o www.aishdonate.com – Email – meor18@hotmail.com

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