A INFERTILIDADE MASCULINA TEM CARÁTER GENÉTICO? – POR DR. SIDNEY GLINA

284_especial_1_1

Os problemas genéticos ganharam maior importância a partir do momento em que se passou a utilizar uma técnica de fertilização in vitro conhecida como injeção intracitoplasmática de espermatozóides.


284_especial_1_2

A infertilidade masculina segue sendo um desafio para os especialistas. Isto porque na maioria das vezes não se consegue um tratamento efetivo da infertilidade do homem; principalmente porque ainda conhecemos muito pouco dos mecanismos da produção de espermatozóides e hormônios pelos testículos.

Algumas vezes, o homem não apresenta uma fertilidade adequada devido às condições genéticas e estas são mais freqüentes nos casos onde as alterações são mais graves. Por exemplo, entre os homens que não produzem espermatozóides, situação conhecida como azoospermia, a prevalência de alterações genéticas é duas vezes maior do que nos homens que produzem alguns espermatozóides.

Os problemas genéticos ganharam maior importância a partir do momento em que se passou a utilizar uma técnica de fertilização in vitro conhecida como injeção intracitoplasmática de espermatozóides.

Esta técnica, descoberta em 1992, possibilita com que a injeção de um único espermatozóide dentro do óvulo leve à fertilização e a uma gravidez. Ao contrário da fertilização in vitro clássica, onde os espermatozóides são colocados junto ao óvulo e a fertilização ocorre naturalmente, nesta técnica a escolha do gameta masculino a ser utilizado é feita pelo(a) profissional que está atuando no laboratório, o(a) embriologista, ou seja, não existe mais a seleção natural. Assim se o homem apresenta alguma alteração genética, esta pode ser transmitida para os seus filhos, o que não ocorreria normalmente.

Os problemas genéticos acontecem nos cromossomos, que são os locais onde estão armazenadas as informações a serem transmitidas para todas as células do organismo. Imagine uma grande biblioteca, onde as prateleiras seriam os cromossomos e os livros os genes, que contêm estas informações. Nós temos 46 cromossomos, sendo 44 autossômicos e dois, o cromossomo X e o Y, chamados de cromossomos sexuais. Recebemos 22 autossômicos e o X da mãe e 22 autossômicos e o Y do pai.

Existem diversas modificações nos cromossomos autossômicos que podem ocorrer durante a formação do embrião e, se estas estiverem presente no espermatozóide selecionado para a injeção intracitoplasmática, podem ser transmitidas para o embrião e em algumas situações comprometer gravemente a chance de ocorrer a gravidez, resultando em abortamento, ou gerando uma malformação.

No cromossomo Y existem locais que contém informações importantes para a produção normal dos espermatozóides; quando estas faltam no espermatozóide, o embrião masculino a ser gerado poderá também ser infértil no futuro.

Não existe uma maneira de prevenir ou tratar estas alterações genéticas no homem adulto, mas elas podem ser identificadas e o casal ficar sabendo do risco que poderia correr se for submetido ao tratamento com a fertilização in vitro com a injeção citoplasmática. Assim, nos casais onde a causa da infertilidade é masculina e vão submeter-se a este tipo de tratamento, solicito dois exames de sangue: o cariótipo, onde os cromossomos autossômicos são analisados e a análise do cromossomo Y para avaliar eventuais micro-deleções. Quando é identificada alguma alteração, costumo solicitar uma consulta com um geneticista para um aconselhamento genético; nesta, o profissional expõe os riscos a que estariam expostos os eventuais filhos deste casal.

Muitos casais até desistem do tratamento quando são informados destas possibilidades, principalmente nas alterações dos cromossomos autossômicos, as que têm mais repercussão para o embrião, pois, embora a gestação seja muito desejada, preferem não correr tais riscos.


*Dr. Sidney Glina, urologista, diretor do Projeto ALFA, Aliança de Laboratórios de Fertilização Assistida, professor titular da Disciplina de Urologia da Faculdade de Medicina do ABC.

Fonte: www.projetoalfa.com.br

20
20