DE OURO – POR DENTRO E POR FORA – POR MICHEL ALTERMAN

Devemos aplicar as lições da Torá em nossa vida diária, transformando-nos em um verdadeiro mentsch.Se desejarmos sinceramente melhorar, nada – nem mesmo a tranca em uma porta – poderá obstruir nosso caminho.

“Pelo lado interno e pelo lado externo cobrirão [a Arca]” (Êxodus 25:11). A respeito deste versículo, o Talmud comenta: “Qualquer erudito de Torá cujo interior não seja semelhante ao seu exterior não é realmente um erudito de Torá” (Tratado de Talmud Yomá 72b).

Nossos rabinos nos ensinam que para ser considerado um verdadeiro talmid chacham, um erudito e estudante da sagrada Torá de Hashem, seu ser por inteiro deve ser uma representação consistente da Torá que ele estuda. Se ele se apresenta ao mundo como uma pessoa honesta, dedicada e sincera, isso não deveria ser uma fachada que ele construiu habilmente para ocultar seus traços de caráter indesejáveis, mas sim um retrato preciso de seu verdadeiro eu, temente a D-us. Assim como a Arca sagrada, símbolo da Torá nela contida, era revestida de ouro tanto por dentro como por fora, assim também o caráter interior do talmid chacham deve igualar sua disposição aparente e suas crenças professas.

O Talmud (Tratado Berachot 28a) relata que quando o grande Raban Gamaliel era o príncipe e líder do povo judeu, emitiu uma proclamação dizendo que qualquer estudante cujo íntimo não se assemelhasse com o seu exterior não teria permissão de entrar no Beit Midrash. Ele sentia que os outros estudantes que eram verdadeiramente sinceros não deveriam ser expostos à influência negativa daqueles que estiveram estudando Torá por algum motivo dissimulado, ou cujos traços de caráter não estivessem perfeitamente sintonizados com sua erudição. Somente após a liderança ter passado para outra pessoa que o guarda à entrada do beit midrash era removido e todos que desejavam estudar tinham permissão de entrar.

Pergunta-se, então, quem seria tão qualificado a ponto de preencher a exigente incumbência de ser este guarda durante os dias de Raban Gamaliel? Como poderia alguém ser capaz de discernir com precisão quais os estudantes que eram completamente sinceros e aqueles que não o eram?

Foi sugerido que o “guarda” a que a Torá se refere não era de forma alguma uma pessoa. Ao contrário, a porta do próprio beit midrash servia de guarda, foi era mantida fechada e trancada, impedindo a entrada de qualquer pessoa – a menos que fosse merecedora. Um aluno que fosse sincero e desejasse verdadeiramente estudar Torá, acharia alguma forma – qualquer forma – de passar pela entrada trancada. Qualquer outra pessoa que pudesse não estar sinceramente motivada, seria intimidada pelo “guarda” ostensivo – a porta que era mantida trancada.

Estudar Torá em um ambiente de sala de aula é elogiável, mas devemos transferir os ensinamentos que aprendemos, da sala de estudos ao mundo real. Nossa meta deveria ser não somente a de ampliar nossos horizontes e expandir nosso conhecimento; ao contrário, devemos aplicar as lições da Torá em nossa vida diária, transformando-nos em um verdadeiro mentsch. Se desejarmos sinceramente melhorar, nada – nem mesmo a tranca em uma porta – poderá obstruir nosso caminho.

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