POR QUE EU, POR QUE COMIGO? – RABINO KALMAN PACKOUZ

288_histotia_3_1Todos temos livre arbítrio, mas há uma influência mútua entre as nossas ações e a vontade de D’us.


Conheço uma pessoa que, quando criança, não gostava de arrumar sua cama.Todos os dias, quando voltava da escola, encontrava um bilhete sobre o travesseiro deixado por sua mãe. O lembrete tinha sempre três linhas: “Faça a sua cama. Seu relaxado. Tenha vergonha!” Entretanto, às vezes a mensagem variava! Às vezes se lia: “Seu relaxado! Faça sua cama. Tenha vergonha!” e outras vezes estava escrito: “Tenha vergonha! Seu relaxado. Faça sua cama!”. Todos os dias o garoto pegava o bilhete e o colocava numa gaveta da escrivaninha.

Quando a gaveta se encheu, ele achou que já era o suficiente. Porém, ao invés de começar a arrumar a cama, planejou uma estratégia: todas as manhãs ele colocaria sobre o travesseiro um bilhete escrito: “Mami, vou arrumar minha cama mais tarde!”.

E funcionou: não apareceram mais bilhetes de sua mãe. E a cada noite ele devolvia este bilhete para a gaveta e o repunha pela manhã. Malandrinho, não?

Nem todos temos a sorte de ter uma mãe que se importa tanto conosco a ponto de persistentemente tentar nos ajudar a termos responsabilidade e a nos melhorarmos. Entretanto, todos temos um D’us que nos ama e nos manda ‘bilhetes’ para ajudar a melhorarmos as nossas vidas.

Nosso Povo sempre acreditou que a vida é algo significante e que tudo que nos acontece tem um significado. Isto significa que se uma pessoa tropeça e machuca o dedão, não deve ficar aborrecida com a pedra e sim deve perguntar-se: “Por que isso aconteceu comigo?”

Talvez a resposta seja que deva olhar por onde anda, mas também pode ser que deva pensar sobre quem andou ‘chutando’ por aí.

Será que isto beira a superstição? A resposta é: se alguém pensa que D’us não existe, que as coisas acontecem aleatoriamente e que a vida não tem um significado intrínseco, então sim, tentar descobrir significados na vida é como fazer vodu! Porém, se a pessoa acredita que o Todo-Poderoso criou o universo, importa-se com cada um de nós e mantém um relacionamento dinâmico com cada ser humano, então tudo que lhe acontece tem um sentido pleno e verdadeiro.

Intuitivamente avaliamos que tudo o que acontece conosco na vida tem um significado. Por exemplo: Uma pessoa dirigindo a 25 km/hora numa zona de 50 km/hora acerta um garoto de sete anos de idade. Imediatamente pergunta-se: “Por que isto aconteceu comigo?” Se intuitivamente não sentisse que a vida tem significado, não faria esta pergunta. Embora esta seja a pergunta correta a se fazer, frequentemente a fazemos com a entonação errada – nós a perguntamos como uma acusação contra o Criador e não como um pedido para entender o que está por trás do ocorrido, para corrigir nossos caminhos e para crescermos.

Aprendemos na Torá que o que vemos e o que nos acontece tem um significado pessoal e particular. O Talmud, no Tratado Sotá, página 2A, pergunta por que o trecho que relata sobre o Nazir (uma pessoa que faz um juramento proibindo-se, entre outras coisas, de beber vinho por um determinado tempo, para ajudá-la a elevar-se espiritualmente) está escrito logo após a porção da Sotá (uma mulher suspeita de adultério). O Talmud responde que uma pessoa, após ver o que acontece como resultado de um adultério, deve se tornar um Nazir, evitando o vinho e a embriaguez. Esta é uma lição para nos ensinar que o que vemos traz uma mensagem pessoal para cada um de nós, e que devemos levá-la em consideração em nossas vidas.

Também aprendemos na Torá que o Todo-Poderoso mantém um relacionamento próximo e pessoal com cada um de nós. O Talmud, no Tratado Hulin, página 7B, afirma: “Uma pessoa não fere o seu dedo a menos que assim o tenha sido decretado nos Céus”. O Salmo 37, versículo 23 declara: “Os passos dos homens são dirigidos pelo Todo-Poderoso”.

Todos temos livre arbítrio, mas há uma influência mútua entre as nossas ações e a vontade de D’us. E sobre aqueles que pensam que as coisas acontecem aleatoriamente? O Rambam (Maimônides) explica no primeiro capítulo de seu livro ‘Hilchót Taaniot’ (As Leis dos Jejuns), parágrafo 3, o seguinte: “Aqueles que dizem: ‘Isto que nos aconteceu foi meramente um fenômeno natural e esta dificuldade é meramente um acaso’, têm uma concepção cruel da vida …”

Pensar que a vida é aleatória e sem significado é algo realmente cruel.

A lição de tudo isto para nós? Ao nos depararmos com as diversas situações que a vida nos coloca, perguntemo-nos: “Por que eu, por que comigo?” Mas façamo-lo com um desejo sincero de entender e internalizar a mensagem, para podermos virar ‘mentch’, como se diz em ídish. Não como aquele jovem que, até hoje, não arruma a sua cama!


Pensamento:“A experiência é um ótimo professor: Primeiro ela dá o teste e depois a lição!”


RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.

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