QUE MOVIMENTO JOSEPH ROTBLAT CRIOU? – POR JAYME VITA ROSO

288_especial_2_1Foi agraciado com o Nobel da Paz em 1995, em companhia com a organização criada para lutar contra armas nucleares, Pugwash (cidade da Nova Escócia, Canadá), da qual foi um dos fundadores.


Antes de qualquer cogitação, o título sugere que digamos algumas palavras sobre Joseph Rotblat (1908-2005).

Nascido em Varsóvia, então Império Russo, hoje capital da Polônia, no dia 4 de novembro, foi um físico britânico de família judaica, formado na Inglaterra e lecionou em Liverpool, a partir de 1939.

Convocado a trabalhar com o grupo de cientistas em Los Alamos, Novo México, no Projeto Manhattan (que desenvolveu as bombas atômicas lançadas em 1945, no Japão), Rotblat foi um homem ético: ingenuamente, como Oppenheimer e Feynman, acreditava, com sinceridade, que as bombas atômicas somente seriam utilizadas, caso fosse necessário, para deter os nazistas. Ao contrário dos outros colegas, ao saber que as pesquisas tinham outro destino, abandonou o projeto e dedicou-se a operar em novas utilizações para a energia nuclear, sobretudo na medicina, vivendo nos Estados Unidos e tornando-se cidadão deste país.

Foi agraciado com o Nobel da Paz em 1995, em companhia com a organização criada para lutar contra armas nucleares, Pugwash (cidade da Nova Escócia, Canadá), da qual foi um dos fundadores.

Como nasceu este movimento?

Foi patrocinado por um industrial filantropo, que se ofereceu para financiar e materializar o Manifesto Russel-Einstein (9/7/1955), que alertava, convocando cientistas, a discutir sobre os perigos dos artefatos de destruição em massa, então, resumidas apenas às bombas atômicas: “tais armas ameaçam a continuidade da existência da humanidade”, tecia o documento.

Vivia o mundo, à época, inúmeras conturbações (a Crise de Suez, por exemplo), postergada a 1ª Conferência para julho de 1957, foi realizada na própria cidade Pugwash, com a presença de vinte e dois renomados cientistas.

Com Rotblat à frente, o Movimento, durante os quinze primeiros anos, envolveu-se na Crise de Berlim, na Crise dos Mísseis Cubanos, no Pacto de Varsóvia e na Guerra do Vietnã. O rol de Pugwash, nestes eventos, foi sublinhado pela abertura de canais de comunicação para, nos bastidores, conseguir que cessassem os conflitos ou fossem amenizados seus efeitos, principalmente durante a Guerra Fria.

Rotblat, em 1995, trazia o estigma dos cinquenta anos do bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, porém, com o trabalho de quarenta anos da assinatura do Manifesto Russel-Einstein, é recompensado com o Prêmio Nobel da Paz, “pelos seus esforços para diminuir o rol de armas nucleares nas políticas internacionais e, nesta trilha, eliminá-los”.

Para esse Prêmio: elegemos algumas das participações de Rotblat e do Movimento na tentativa de criação e instituição de uma estabilidade nuclear, seu desarmamento e sua não proliferação, além de promover uma política de segurança regional.

Ainda vivo, Rotblat deu outro rumo relevante para o Movimento Pugwash: a preocupação com os problemas ambientais (encontro realizado em 1998), com o documento “Declaração de Degradação Ambiental”.

Mais do que Secretário Geral do Movimento (1957-1973), articulou, com brilhantismo, para não só manter o Movimento e o espírito que o animou desde a fundação, mas a não exigência de qualquer adesão formal como associado. Os participantes, cada um, contribuem dentro de sua especialidade.

Não é por menos que Rotblat é reconhecido, cultuado e homenageado, ainda hoje, após seu falecimento em Londres, no dia 31 de agosto de 2005, com 86 anos.


JAYME VITA ROSO – Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru e autor de vários livros jurídicos. Saiba mais.
vitaroso@vitaroso.com.br

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