QUANDO TERMINARÁ A GUERRA DOS SEIS DIAS? – POR JORGE ZAVERUCHA

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Tudo indica que daqui a novos cinquenta anos o status quo será mantido, embora não seja bom para nenhum dos dois lados. A menos que algo de extraordinário aconteça na região que possa abalar a percepção dos atores políticos sobre o efetivo custo da manutenção da beligerância mútua.

Em seis de junho passado, ocorreu o cinquentenário de uma das guerras mais inusitadas da história: a Guerra dos Seis Dias. Foi militarmente uma guerra rápida. Uma surpresa tanto para o lado israelense como árabe. Não há dúvida que Israel foi o grande vencedor da disputa armada, mesmo não sendo o favorito nas bolsas de apostas de então. Contudo, Israel continua pagando um preço caríssimo por esta vitória. Como assim?

Antes alguns esclarecimentos. Israel não foi maciçamente apoiado pelos Estados Unidos. Na época o melhor amigo de Israel no Ocidente era a França. Foi com os Mirages franceses que a força aérea israelense destroçou a aviação árabe. Um pouco antes, a França retirou seu apoio explícito a Israel tão logo o presidente Nasser do Egito anunciou que seu objetivo era destruir Israel e jogar os judeus no mar.

Em 1947, houve a partilha da região chamada Palestina que estava sobre controle dos ingleses. Nesta região moravam árabes e judeus palestinos. Portanto, nunca existiu um estado palestino no Oriente Médio. A Cisjordânia e Jerusalém estavam sobre domínio jordaniano. Violando, por sinal, os termos da partilha. Esta estabeleceu que Jerusalém seria uma cidade internacionalizada. Contudo, na guerra de independência de Israel, em 1948, a cidade foi conquistada pela Jordânia. A realeza hachemita expulsou os judeus que lá viviam como proibiu a visita de judeus ao Muro das Lamentações. Em 1967, Jerusalém foi liberada e Israel conquistou a Cisjordânia, e com ela uma população que foi ao longo dos anos criando uma identidade palestina.

Os israelenses receavam estar à beira de um novo holocausto. Basta ver o exíguo território israelense, para sentir o drama. Não havia profundidade estratégica. E tendo que lutar contra vários países árabes com forças armadas bem mais numerosas do que as israelenses. Alguns rabinos já cavavam sepulturas para acomodar os futuros corpos dos soldados. Descobriu-se, recentemente, que o governo israelense iria explodir um artefato atômico no deserto do Sinai caso as tropas egípcias estivessem avançando. Se isto tivesse acontecido seria a primeira vez que um artefato deste tipo explodiria após as bombas de Hiroshima e Nagasaki. Para surpresa dos israelenses, foram conquistadas a península do Sinai e a faixa de Gaza do Egito, a Cisjordânia e Jerusalém da Jordânia, e as colinas do Golã da Síria. Com Egito e Jordânia, Israel já assinou tratado de paz. Resta a Síria que continua dominada pela dinastia Hassad e sob proteção russa. Assim que a Rússia se interessar pela paz com Israel uma solução territorial para o Golã será obtida.

O grande problema a ser resolvido é a questão palestina. Nas guerras de 1948-49 estima-se que foram gerados cerca de 800 mil refugiados. Com a Guerra dos Seis Dias, novos 300 mil refugiados. Ocorre que a liderança palestina não reconhece o direito de Israel existir. A paz já se tornara difícil de ser obtida quando a rivalidade era nacionalista. Com surgimento de grupos fundamentalistas islâmicos (Hizbulah e Hamas) a resolução ficou ainda mais difícil. Tudo indica que daqui a novos cinquenta anos o status quo será mantido, embora não seja bom para nenhum dos dois lados. A menos que algo de extraordinário aconteça na região que possa abalar a percepção dos atores políticos sobre o efetivo custo da manutenção da beligerância mútua.


JORGE ZAVERUCHA – Mestre em Ciência Política pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago; Professor Visistante do Departamento de Governo da University of Austi, Texas. Atualmente é Professor Titular do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco. Saiba mais.

jorgezaverucha@uol.com.br

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