REZANDO OS SALMOS, PARA ENTENDÊ-LOS – POR JAYME VITA ROSO

302_ESPECIAL_3_1Ninguém nega: David é o salmista por excelência do povo judeu. Sua fé, integridade, retidão, contrição e esperança inquebrantável na salvação Divina inspiram a todas as gerações exiladas. Uma nação que, a exemplo de seu líder, nunca se rende ou desespera.


“Não se aparte este livro da Lei da tua boca. Medita nele dia e noite para observar e pôr em prática tudo quanto nele está escrito, pois assim farás prosperar o teu caminho e te conduzirás com prudência”. – Josué 1, 8¹

Em torno do mês de maio de 1995, o rabino David Weitman presenteou-me com um livro marcante na minha vida e, acredito, de todos os crentes. Trata-se do livro Salmos[1].

Que são eles?

Os salmos, como conhecidos originalmente Tehilim, são os livros em que a alma do indivíduo se comunica com Hashem (D’us). O Tehilim deve ser recitado em todos os livros (capítulos e versículos), sem exceção, em número de 150. Mas, os salmos têm um condão de ser algo muito particular, porque partiu do princípio do “dialógico” criado e estudado por Martin Buber.

São uma resposta de Israel, que se volta ao D’us, em oração e louvor. Entre os dois, é estabelecido um diálogo, ou seja, um hino em vocação contínua que vai, aos poucos, mostrando a profundidade deste mistério (Salmo 130). A distância inatingível é continuamente reconfirmada, pois Israel, que está defronte a Javé e o homem que procura o seu “D’us”, são separados por um abismo, que os cantos de oração do povo estão no Salmo 8, 5. Mas, esse fato mostra a grandíssima presença de D’us no caminho do povo com a eleição de Israel, como povo escolhido, (Salmo 33, 12) e na exaltação do Salmo 8, 6: “E o que é o filho do homem mortal, para que Tu nele atentes? No entanto, Tu o fizeste somente um pouco menos que os anjos, e o coroaste com uma alma e um esplendor”.

O saltério é uma verdadeira pequena Bíblia. Muito tem se estudado para entender-se o que significa a pregação ou oração, ou, mais ainda, a busca da integração do homem com Javé, sobretudo, na glorificação e anúncio de Seu nome (Salmo 22, 23), como louvá-lo (Salmo 29, 1), sendo que o processo teológico contido nos salmos é estudado com profundidade pelos teólogos alemães K. Barth e K. Kerényi[2].

O ponto culminante, conhecido por estes teólogos, é que a sabedoria dos salmos reside em como D’us vê o homem, mesmo antes que ele comece a pensar Nele e comece a falar e escrever sobre Ele e como reza: “Para o Condutor, por Davi, um cântico. Senhor, Tu me sondaste e Tu conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar. Tu entendes meu pensamento de longe. Tu abarcas minha trilha e meu repouso. Tu estás familiarizado com todos os meus caminhos. Ainda não tenho a apalavra na minha língua, eis que Tu Senhor, Tu a conheceste toda. Trás e frente Tu me moldaste, e colocaste Tua mão sobre mim. Este conhecimento é oculto em mim, sublime! Eu não posso alcançá-lo. Para onde posso ir do Teu espírito? E para onde posso fugir de Tua Presença? Se ascendo ao céu, Tu estás lá, se faço minha cama no Baixo Mundo, vê: és Tu!” (Salmo 139, 1-8).

É assim que D’us se faz conhecer?

Sim, porque os salmos são o mundo fechado do culto de Israel e da sua atividade litúrgica, portanto, se voltam ao futuro da salvação de todos os povos. Assim, também, o agradecimento, ao Rei da Terra: “Todos os reis da terra Te agradecem, Senhor, quando ouvem as palavras da Tua boca” (Salmo 138, 4); diante dos povos eles louvam e glorificam o Rei de Israel: “Eu Te agradecerei dentre os povos, meu Senhor. Cantarei a Ti entre as nações” (Salmo 57[3], 10) e “Eu Te agradecerei entre os povos, Senhor, eu Te cantarei entre as nações” (Salmo 108[4], 4).

Poderíamos dizer, sem equívocos aparentes, que, para uma “teologia dos Salmos”, Davi cantou em: “Para tornar conhecido Teu caminho na terra, entre todos os povos Tua Salvação” (Salmo 67[5], 3) e “Então saberão que Tu, Cujo Nome é Senhor, és único, Altíssimo sobre toda a terra” (Salmo 83[6], 19).

Ao longo dos séculos ficou claro, para os estudiosos, que o salmo manifesta os sinais de uma participação e proclamação universais, onde Jerusalém mostra-se como a alegria de toda terra, ou o centro da criação[7].

Lendo os salmos, rezando os salmos, orando com os salmos, foi possível para mim entende-los, teologicamente, como homem diante de D’us. Mas o homem em Israel, os pobres, a fé dos justos, a vida e a morte com suas interpretações e os grandes problemas da existência, porém, tudo se resume na misericórdia de D’us com os homens: “Tu, Senhor – não retires Tua misericórdia de mim; que Tua benevolência e Tua verdade sempre me protejam” (Salmo 40, 12) e “Mostra-me favor, de acordo com Tua misericórdia; de acordo com Tua vasta compaixão apaga minhas transgressões” (Salmo 51, 3).

“Os sábios dizem que o Rei Davi orou muito a fim de que os Salmos fossem recitados nas sinagogas e casas de estudo. Pois bem, quem vos fala combina o mérito do estudo e da reza. David conseguiu, em fervorosas preces, assegurar a recompensa do Estudo dos mais profundos tratados do Talmude àquele que lê os Salmos.

Ninguém nega: David é o salmista por excelência do povo judeu. Sua fé, integridade, retidão, contrição e esperança inquebrantável na salvação Divina inspiram a todas as gerações exiladas. Uma nação que, a exemplo de seu líder, nunca se rende ou desespera.

Realmente, desde sua composição, este livro acompanha o povo judeu pela História afora, por onde quer que ande ou viva. Na adversidade é consolo e na opulência, canto de júbilo. Esta obra se transformou em elo entre o Pai e seus filhos através de seu canto-mor, David.

Pelo acima exposto, não será surpresa quando este volume milenar nos prover com sensibilidade e confiança. Ele nos ajudará a derramar os corações e as lágrimas perante o Eterno na busca pelas cobiçadas bênçãos de paz e felicidade. ”

– Trecho do Prefácio da nova edição do Livro dos Salmos[8], escrito pelo Rabino David Weitman


[1]Enzo Ventura. Bíblia: poesia eterna Vol. I-II. Editora Pedagógica Brasileira: São Paulo, 1968.

2Salmos. Tradução: Adolpho Wasserman e ChaimSzwertszarf. McKlausen: São Paulo, 1995. 608 p.

3 Hans-Joachim Kraus. Teologia dei Salmi. Paideia Editrice: Brescia, 1989, p.14

4”Conforme está relatado no Livro I de Samuel, Saul e três mil homens procuravam por Davi, que estava escondido nas cavernas do deserto de En-Guedi. Saul, inadvertidamente, entrou sozinho na caverna onde Davi e seus homens estavam. Em vez de se submeter ao pedido de seus homens para que matasse Saul, Davi contentou-se em cortar uma ponta do manto de Saul, que momentaneamente o havia retirado. Desse modo, Davi procurou impressionar Saul, mostrando-lhe que não era seu inimigo e que Saul o odiava e perseguia injustamente.Este é o primeiro dos três salmos (57-59) que se referem à perseguição de Davi por Saul”.Salmos. Tradução: Adolpho Wasserman e ChaimSzwertszarf. McKlausen p. 222

5“Esta composição é única por ser quase uma réplica exata de seções de Salmos anteriores. Os versículos 2 a 6 deste são intimamente ligados aos versículos 8 a 12 do Salmo 57”. Idem p. 448

6“O Santo, abençoado seja Ele, revelou este extraordinário Salmo a Moisés e, posteriormente, a Davi. A ambos foi concedida uma sagrada visão, na qual este Salmo estava gravado numa folha do mais puro ouro, tendo a forma da Menorá.Aquele que se concentra diariamente nessa Menorá e em sua mensagem é considerado como se tivesse aceso a Menorá no Templo; tal pessoa é, certamente, destinada a herdar o Mundo Vindouro. Quem o recita enquanto se concentra na forma da Menorá certamente será guardado de todo mal e terá a alegria do sucesso”. Idemp. 260

7“Após o rei Yehoshafat ter completado a renovação do sistema judicial, a terra da Judéia foi atacada pelos exércitos de Amon, Moab, Aram e Seir (Edom). Este Salmo prova que essas nações estavam resolvidas a aniquilar Israel. O salmista aqui revela as intenções mais profundas dessas nações saqueadoras, cujo derradeiro desejo não era somente destruir, mas apagar o nome de D’us da face da terra. Portanto, Yehoshalat empregou o poder do cântico como arma principal contra seus adversários. Através do cântico, ele declarou que D’us realmente reina supremo sobre o universo”. Idem p. 338

9O Livro dos Salmos. Editora Maayanot: São Paulo, 1996. 241 p.


JAYME VITA ROSO – Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru e autor de vários livros jurídicos. Saiba mais.
vitaroso@vitaroso.com.br


[1]Salmos. Tradução: Adolpho Wasserman e ChaimSzwertszarf. McKlausen: São Paulo, 1995. 608 p.
[2] Hans-Joachim Kraus. Teologia dei Salmi. Paideia Editrice: Brescia, 1989, p.14
[3]”Conforme está relatado no Livro I de Samuel, Saul e três mil homens procuravam por Davi, que estava escondido nas cavernas do deserto de En-Guedi. Saul, inadvertidamente, entrou sozinho na caverna onde Davi e seus homens estavam. Em vez de se submeter ao pedido de seus homens para que matasse Saul, Davi contentou-se em cortar uma ponta do manto de Saul, que momentaneamente o havia retirado. Desse modo, Davi procurou impressionar Saul, mostrando-lhe que não era seu inimigo e que Saul o odiava e perseguia injustamente.Este é o primeiro dos três salmos (57-59) que se referem à perseguição de Davi por Saul”.Salmos. Tradução: Adolpho Wasserman e ChaimSzwertszarf. McKlausen p. 222
[4]“Esta composição é única por ser quase uma réplica exata de seções de Salmos anteriores. Os versículos 2 a 6 deste são intimamente ligados aos versículos 8 a 12 do Salmo 57”. Idemp. 448
[5]“O Santo, abençoado seja Ele, revelou este extraordinário Salmo a Moisés e, posteriormente, a Davi. A ambos foi concedida uma sagrada visão, na qual este Salmo estava gravado numa folha do mais puro ouro, tendo a forma da Menorá.Aquele que se concentra diariamente nessa Menorá e em sua mensagem é considerado como se tivesse aceso a Menorá no Templo; tal pessoa é, certamente, destinada a herdar o Mundo Vindouro. Quem o recita enquanto se concentra na forma da Menorá certamente será guardado de todo mal e terá a alegria do sucesso”. Idemp. 260
[6]“Após o rei Yehoshafat ter completado a renovação do sistema judicial, a terra da Judéia foi atacada pelos exércitos de Amon, Moab, Aram e Seir (Edom). Este Salmo prova que essas nações estavam resolvidas a aniquilar Israel. O salmista aqui revela as intenções mais profundas dessas nações saqueadoras, cujo derradeiro desejo não era somente destruir, mas apagar o nome de D’us da face da terra. Portanto, Yehoshalat empregou o poder do cântico como arma principal contra seus adversários. Através do cântico, ele declarou que D’us realmente reina supremo sobre o universo”. Idem p. 338

[8]O Livro dos Salmos. Editora Maayanot: São Paulo, 1996. 241 p.

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