LIVROS: DE LEÃO ZAGURY, LUIZ KIGNEL E PAULO ROSENBAUM

“É ASSIM QUE EU CONTO” DE LEÃO ZAGURY
“A MORTE NÃO TOCA VIOLINO” DE LUIZ KIGNEL
“A PELE QUE NOS DIVIDE: DIÁFORAS CONTINENTAIS” DE PAULO ROSENBAUM


“É ASSIM QUE EU CONTO” DE LEÃO ZAGURY

308_fique_1_1É assim que eu conto é um livro sobre crescer e não esquecer. Um compilado de histórias que tecemos ao longo da vida em meio às diferenças. As lembranças de um Zagury que é ora inventor, ora protagonista. É como uma saudade bucólica, um final de tarde perto do rio Amazonas que banha Macapá, cidade de muitas personagens, repleta de memórias e nomes, pluralidade esta que pulsa na escrita do autor. As reminiscências de um garoto judeu mapeiam gente de vários tipos, crenças e diferenças em um norte do país repleto de singularidades, fala mansa, premonições, medos, casos de família. A obra é um recorte sobre a infância e seus deleites, as pessoas que perdemos, o preço da amizade, as invenções gastronômicas do Amapá, o crescer em meio às diferenças, a importância que o médico deve dar à relação com seu paciente. O leitor é transportado entre as lembranças do tio, contador de histórias, e a vida médica de Zagury com a mesma intensidade que o autor descreve a perda do pai. Leão Zagury vai da época de empinar pipas e tomar a cidade como um ato de rebelião sem causa à delicadeza de um grande inventor de histórias. Cada história é uma pausa num tempo que parece dobrar a esquina, tão presente e ainda tão vivo, com uma narrativa imagética tão próxima que parece que estamos a espiar pela fechadura.

“Minha trajetória foi marcada por uma sucessão de histórias que contei para amigos. Provoquei risos e lágrimas. Resolvi fazer parecer mentiras as verdades que vivi”, diz Leão Zagury.

Sobre o autor

308_fique_1_2Leão Zagury é judeu e médico endocrinologista. Presidiu a Academia de Medicina do Rio de Janeiro e foi fundador e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. Cidadão carioca e amapaense, é autor de “Diabetes sem medo”, “O menino e o macaco Caco” e “O jacaré que comeu a noite”. Conquistou o 1º lugar no concurso de poesias e 2º no de contos da Academia Brasileira de Médicos Escritores em 2016.


“A MORTE NÃO TOCA VIOLINO” DE LUIZ KIGNEL

308_fique_1_4Mistério com doses de realidade no novo romance policial de Luiz KigneL

Thomas Lengik é um advogado mediano, recém-casado e pai de dois filhos, que luta para pagar as contas no final do mês e que terá que desvendar uma série de mortes em um projeto cultural chamado Música Clássica Também é Para você. Nesse segundo livro, tudo começa com um conflito aparentemente irrelevante: música clássica – uma apresentação na Sala São Paulo – ou música popular – um show de João Gilberto? Lengik convence sua mulher de que devem ir à orquestra, afinal, trata-se do lançamento de um projeto de difusão cultural comandado por uma grande amiga, que trabalha no gabinete do governador do Estado.

Nada, no entanto, ocorre de acordo com o planejado.

Em A morte tudo resolve, romance de estreia de Luiz Kignel, acompanhamos Thomas Lengik em seu primeiro grande caso. Nesse segundo livro da série policial passeamos por uma São Paulo sofisticada, culta e elegante, mas pouco sincera, onde as mortes sempre envolvem um enigma que precisa ser decifrado rapidamente e sem chamar a atenção da mídia.

“A Morte Não Toca Violino” conta novas desventuras de Thomas Lengik (o sobrenome do autor ao contrário). Política, música, detalhes: tudo precisa entrar na conta de Lengik. Mas ele não vai fugir desse novo desafio. A dose de realidade fica por conta de Nathan Schwartzman, 88 anos, violinista renomado e sogro do autor que inspira um dos personagens da história como forma de homenagem.

E tem mais, o terceiro livro da trilogia já está sendo escrito e ganhará o nome “A Morte Nasceu Para Todos.” E assim como os dois primeiros, Kignel avisa: “não conterá cenas de violência, apenas mistério.”

Sobre o autor:

308_fique_1_5

Luiz Kignel é advogado, especializado em sucessão familiar. É sócio do escritório Pompeu, Longo e Kignel Advogados e autor dos livros jurídicos Os negócios e o Direito: sobrevivência legal no Brasil, Patrimônio e sucessão: defendendo os herdeiros e os negócios e Planejamento sucessório: aspectos familiares, societários e tributários. Este é seu segundo romance policial, série que começou com A morte tudo resolve (Alameda, 2012).


“A PELE QUE NOS DIVIDE: DIÁFORAS CONTINENTAIS” DE PAULO ROSENBAUM

308_fique_1_6“Ser poeta significa presidir como juiz a si mesmo” – Henrik Ibsen

A Quixote+Do Editoras Associadas, editora mineira em atividade desde Março de 2017, lança “A pele que nos divide: diáforas continentais”, novo livro do poeta e romancista Paulo Rosenbaum. O livro reúne poemas que para Lyslei Nascimento, professora de Literatura Comparada e Teoria da Literatura na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, ecoam a célebre lição de Carlos Drummond de Andrade: “penetre surdamente no reino das palavras, elide sujeito e objeto, chegue mais perto e contemple as palavras: ei-las impregnadas de múltiplos sentidos, em estado de dicionário”.

Para Nascimento, esse estado de dicionário da poesia de Paulo Rosenbaum traduz-se em “impensáveis palavras”, “levas de assombros”, “papéis pisados”, numa lírica tensão entre o que é exato e múltiplo simultaneamente. Para Wander Melo Miranda, que apresenta o livro, “este livro se afasta da orientação dominante na poesia brasileira contemporânea, apegada em geral ao que se poderia chamar de “trivial e corriqueiro” e “por isso o livro é uma espécie de Muro das Lamentações – “descontínua diáspora/livro de bilhetes” (“Ode ao Muro”) – que se ergue como testamento e presságio, conforto e desolação, linguagem e silêncio: palavra tornada coisa em si mesma”.

O conjunto de poemas aqui reunidos surge no momento apropriado, depois de Rosenbaum se firmar como romancista. “Diáforas continentais convida o leitor a experimentar o poder redentor das palavras, capazes de se perguntar sobre a realidade e, ao mesmo tempo, de promover um salto para o maravilhoso e o onírico – ou mesmo para o trágico” escreveu Fernando Paixão no prefácio. E para Nelson Archer, que assina o posfácio do livro, os poemas reunidos em “A Pele que nos divide” configuram-se como metapoesia crítica é , moderna e arcaica ao mesmo tempo, pois diz de sua própria condição judaica. O que Rosenbaum nos oferece neste livro é o proverbial sétimo dia da criação, aquele dia no qual nos dedicamos ao repouso dos músculos, mas não da mente: o shabbat perpétuo da poesia”.

Em mais um momento crítico da história, no qual surtos xenofóbicos e espasmos de truculência disfarçados de solução aparecem ao redor do mundo, um livro de poesias parece deslocado e rigorosamente desnecessário. Pois esta costuma ser a marca da resistência. Todo poema é um instantâneo que não se deixa abater pelo útil nem submeter-se ao necessário. Contra o vendaval de coisas passageiras, a poesia permanece. Afinal, ela é o registro de toda nossa invisibilidade.

Sobre o autor

308_fique_1_7

Paulo Rosenbaum é poeta e romancista e escreve para o Estadão (blog Conto de Notícia). Médico, pós-doutor em Ciências, é autor de A verdade lançada ao solo (Record, 2010) e Céu Subterrâneo (Perspectiva,2016).

20
20