‘O ANTISSEMITISMO TRADICIONAL ESTÁ DE VOLTA’, ALERTA RELATÓRIO

Estudo indica queda nos casos de violência, mas aumento no ‘sentimento de insegurança’
312_especial_4_1Bandeira de Israel é queimada em manifestação pela Palestina em Istambul, na Turquia – Murad Sezer / Reuters

TEL AVIV — Um relatório divulgado nesta quarta-feira (11 de abril) pelo Centro Kantor, ligado à Universidade de Tel Aviv, em Israel, mostra que o número de incidentes violentos antissemitas apresentou uma leve redução em 2017, frente ao ano anterior, caindo de 361 casos para 327. Entretanto, ressalta o documento, o sentimento de insegurança é crescente entre os judeus nos 40 países analisados. Este aparente paradoxo é explicado pelo fato de os casos mais recentes terem sido perpetrados com maior brutalidade, como o assassinato de duas mulheres judias em Paris, além do aumento de outras manifestações, que muitas vezes não são relatados, como o assédio em escolas e em redes sociais.

“Expressões do antissemitismo tradicional clássico estão de volta”, afirma o relatório. “Por exemplo, o termo ‘judeu’ se tornou um xingamento. Ainda não há uma resposta clara para esta questão, se a ascensão de partidos de direita contrários à União Europeia e à imigração está causando mais antissemitismo, ou se os recém-chegados à Europa aumentaram os níveis de antissemitismo”.

Segundo o documento, a redução no número de casos de violência está relacionado com o incremento das ações dos Estados em vigilância e segurança, mas “a situação não é necessariamente percebida nas comunidades judaicas como suficiente”, até porque a presença das medidas de segurança significam que elas são necessárias pela existência da perseguição aos judeus.

Avanço de movimentos e partidos de extrema-direita

O antissemitismo pôde ser percebido com maior intensidade no fim do ano passado e nos primeiros meses de 2018, após o anúncio feito pelo presidente americano, Donald Trump, do reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel. A declaração serviu de pretexto para incontáveis protestos com slogans antissemitas, incluindo a incitação ao assassinato de judeus e a queima de bandeiras de Israel.

O instituto destaca o avanço dos movimentos e partidos de extrema-direita pelo mundo, como os incidentes de Charlottesville, nos EUA, em agosto passado, seguidos pelas eleições na Alemanha, em setembro, e da Áustria, em outubro. Líderes desses grupos declaram a intenção de afastamento do passado e uma atitude positiva em relação a Israel, mas o discurso não condiz com a realidade.

“Os partidos de direita que se declaram pró-Israel desejam uma aliança com os judeus contra os imigrantes, em sua maioria muçulmanos, suspeitos de aumentar o nível de antissemitismo, a violência e até o terrorismo”, diz o documento. “Entretanto, a maioria dos imigrantes muçulmanos é moderada, e são considerados por Israel como aliados em potencial na luta contra o Islamismo e as tentativas de limitação dos direitos religiosos”.

Antissemitismo também à esquerda

Além do avanço da extrema-direita, inspirada no nazismo alemão, os judeus se veem ameaçados pelo surgimento do antissemitismo de esquerda, que apoia a causa da Palestina e dos imigrantes muçulmanos. O movimento islâmico radical também é uma preocupação.

“O recente fortalecimento da extrema direita em vários países europeus foi acompanhado por slogans e símbolos que lembrem a década de 1930, apesar das diferenças significativas entre os dois períodos”, aponta o relatório. “Quanto mais o tempo passa, e a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto se tornam um passado distante, mais o compromisso pela segurança de Israel e dos judeus se enfraquece, especialmente entre as gerações pós-guerra”.

O temor pela violência está “corroendo a vida judaica”, com o aumento no número de judeus que evita a participação em eventos judaicos ou não aparecem em público carregando símbolos religiosos por questões de segurança. Também foram relatados problemas nas escolas, já que colégios judaicos foram forçados a limitar as atividades dos estudantes ou aumentar as mensalidades por questões de segurança, fazendo com que alguns buscassem colégios católicos, onde os custos são menores e não há muçulmanos.

“A capacidade para viver uma vida individual e comunitária judaica está comprometida, assim como a identidade judaica”, aponta o relatório. “Um sentimento de não pertencimento também está ligado à confiança, ou à ausência dela, nas autoridades do Estado, especialmente a polícia”.


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