CORAGEM DE MUDAR – RABINO MICHEL SCHLESINGER

318_historia_1_1Sempre que vislumbrarmos a possibilidade de um caminho melhor, tenhamos a coragem de abandonar o calor do conhecido e assumir o risco de uma vida ainda mais feliz.


318_historia_1_2Pessoas são resistentes a mudanças. Nós preferimos o conhecido ao desconhecido. Queremos que tudo permaneça da maneira como está porque alterações trazem incertezas. O status quo é familiar enquanto o novo é estranho.

No entanto, perceberemos que essas afirmações não são absolutas. Quando a mudança é para melhor, todos estão dispostos a enfrentar o desconhecido. Ninguém recusaria um bilhete de loteria premiado porque teme as consequências de se tornar milionário. Da mesma maneira, um indivíduo que convive com uma enfermidade há muito anos, não recusará um novo medicamento que lhe poderia garantir mais qualidade de vida.

Desta maneira, concluímos que o problema não está nas mudanças, mas nas perdas que algumas mudanças podem trazer.

A haftará que será lida nesta semana em todas as sinagogas do mundo, trata de uma mudança significativa na forma de liderança dos israelitas. Depois de viver muitos anos sob o governo de shoftim, juízes, o povo pede um rei.

A mudança representava o abandono de uma teocracia e a adoção de um sistema monárquico. Os israelitas queriam ser governados por um rei de carne e osso como acontecia com as outras nações. Mesmo conhecendo as desvantagens de um governo monárquico, o povo preferia assumir as consequências da mudança a permanecer da maneira como haviam se acostumado a viver.

O governo dos juízes representava uma conexão mais imediata com Deus uma vez que o juiz desempenhava também o papel de profeta. No entanto, a proximidade do shofet com Deus parecia afastá-lo das necessidades mundanas dos israelitas. Assim, o povo preferiu ter um governante um pouco mais distante de Deus e muito mais próximo das necessidades imediatas do povo.

Por muitos anos, o modelo que se seguiu foi a monarquia que teve como representantes reis do porte de David e Salomão que conduziram o povo com sucesso e deixaram importantes legados para as futuras gerações. Anos depois, a monarquia entrou em crise e novas formas de governo foram encontradas.

Em nossas vidas pessoais, também optamos por significativas mudanças. Seja a conquista de um novo emprego, um casamento, o ingresso na universidade ou a geração de filhos. Em qualquer uma dessas circunstâncias, uma situação conhecida é abandonada e substituída pela novidade.

Toda mudança envolve ansiedade e medo. No entanto, quando acreditamos que o novo nos trará boas perspectivas devemos estar dispostos a enfrentar o desconhecido.

Algumas mudanças dão errado, outras funcionam por um tempo limitado e existem mudanças que são definitivamente boas. No entanto, somente descobre aquele que arrisca.

Nós merecemos tentar. Sempre que vislumbrarmos a possibilidade de um caminho melhor, tenhamos a coragem de abandonar o calor do conhecido e assumir o risco de uma vida ainda mais feliz.

Shalom.


Michel Schlesinger é bacharel em direito pela Universidade de São Paulo. Realizou seus estudos rabínicos e seu mestrado em Jerusalém, no Instituto Schechter. Nos Estados Unidos, trabalhou em um acampamento judaico, o Camp Ramah de New England, e se capacitou para dar apoio a doentes e seus familiares no Jewish Pastoral Care Intitute na cidade de Nova Iorque. Desde 2005 é rabino da CIP. Em 2012, por ocasião de seu ano sabático, passou três meses em Nova Iorque, onde visitou instituições judaicas e estudou Talmude no Jewish Theological Seminary. O rabino Schlesinger é representante da Confederação Israelita do Brasil (Conib) para o diálogo inter-religioso e coordenador da delegação judaica na Comissão Nacional de Diálogo CatólicoJudaico da CNBB. Em 2013 esteve em Doha, no Qatar, para a Décima Conferência Internacional de Diálogo Inter-religioso. No mesmo ano, concluiu seus estudos em gestão de sinagogas no Rabbinical Management Institute de Los Angeles. Casado com a antropóloga Juliana Portenoy Schlesinger e pai da Tamar e da Naomi.

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