EU E MOSHE DAYAN – POR MARCOS WASSERMAN

Moshé Dayan tinha algumas fraquezas. Uma delas era pela Arqueologia. Nas horas vagas, ele saía na captura de tesouros arqueológicos, e tinha nos jardins de sua casa várias peças que ele havia desenterrado com as próprias mãos.

Por que me lembrei dele?Do famoso e carismático Primeiro General do Exército de Israel? Tenho alguns amigos, aqui e no Brasil, com o mesmo sobrenome. Suponho que devem existir alguns homônimos também. O inigualável herói que,com seus atos e sua aparência, se tornou histórico. Neste instante, com todo o respeito que todos nós temos pela sua memória, lembrei-me de uma antiga marchinha de carnaval.Quem se lembra?

“Eu sou o pirata da perna de pau,do olho de vidro, da cara de mau…”

Há pouco tempo fui submetido a alguns exames, através do Seguro de Saúde Pública. Diga- se de passagem, o serviço das entidades que prestam assistência médica aqui em Israel é extraordinário. Afirmo por experiência própria. Pois descobriram que tenho um sério problema num olho, de aparência perfeito, mas que não funciona mais. Mas não é só por causa do olho que me identifico com a figura de Moshé Dayan. Nada a ver com sua vida militar ou familiar.

Cerca de dois anos depois da nossa Aliá, fui viver no mesmo bairro do General. Éramos vizinhos. A casa onde eu residia era exatamente ao lado da residência dele. Conheci-o pessoalmente, como muitos habitantes de Israel, mas confesso que ele não me conhecia. Por uma razão muito simples:

Ele era um tipo caladão, aparentemente casmurro, de pouca conversa, entretido com seus próprios pensamentos. Lembro que uma vez, numa festa do Dia da Independência de Israel, ele apareceu no clube do bairro, onde muitos de seus moradores lá comemoravam a data. Ele chegou, ficou parado, olhando, sem cumprimentar ninguém. Só ficou observando. Também, todos que lá se encontravam – homens, mulheres e crianças– respeitavam seu silêncio, e ninguém sequer se aproximou para cumprimentá-lo ou dizer alguma palavra.

Tive uma rara e única e experiência de encontrar-me com elenum almoço, oferecido por ele, quando Ministro, ao então Embaixador do Brasil,Miguel Paranhos do Rio Branco.Fui convidado, porque era, então, presidente do Centro de Amizade Israel-Brasil, que há tempos deixou de existir (sem comentários). Foi um almoço muito íntimo,com só seis pessoas.

O Embaixador Rio Branco era conhecido por sua simpatia e eloquência, e dominava qualquer ambiente com sua personalidade e a tradição diplomática. Naquele almoço, o Embaixador, talvez envolvido pelo carisma do anfitrião, manteve-se discreto ante aquela personalidade, cuja presença se impunha e dominava o encontro de despedida do representante diplomático do Brasil, que havia terminado sua função.

Quando se fala sobre um militar, ademais sendo uma personalidade mundialmente conhecida, é comum citar as campanhas de que participou e liderou. Não vou fazê-lo. Achei mais interessante dar algumas pinceladas sobre a pessoa dele, e completo com o pouco que sei e que posso adicionar ao que já contei.

Moshé Dayan tinha algumas fraquezas. Uma delas era pela Arqueologia. Nas horas vagas, ele saía na captura de tesouros arqueológicos, e tinha nos jardins de sua casa várias peças que ele havia desenterrado com as próprias mãos.

Numa das escavações de que participou, sofreu um sério acidente, que comprometeu seu físico e foi de lenta recuperação, deixando evidentes sequelas, que se faziam notar quando caminhava.

Faz parte de sua história a enorme atração que sentia pelo sexo oposto. Muitas vezes eram, entusiasticamente, retribuídas por aquelas que poderiam, algum dia, contar aos seus netos que…

Nos primórdios do Estado de Israel, Moshé Dayan, era um dos braços direitos de Ben Gurion. Folcloricamente, consta que más línguas foram contar ao Primeiro-Ministro de Israel que havia um importante General no seu Governo causando sérios problemas de ordem familiar feminina. Ao que Ben Gurion teria respondido: “Não precisa dizer quem é, vou arrancar o outro olho dele”.

Não escondo meu saudosismo da época de um sionismo romântico, em que se dançava a Ora. Preciso dizer mais?


Marcos Wasserman – Advogado radicado em Israel.

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