PORQUE APROFUNDAR – POR AKIM ROHULA NETO

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   Quando discutir uma ideia se torna um motivo de fé, não estamos mais no campo da lógica e racionalidade, cedemos espaço aos impulsos. Aprofundar hoje em dia é necessário para que a liberdade seja possível.    


Você já percebeu que hoje em dia as opiniões parecem chegar antes das notícias? Algo o ocorre e, rapidamente, temos centenas de opiniões e “análises” sobre o ocorrido. Porém, com qual qualidade será que isso ocorre?

O ato reflexivo denota tempo para ocorrer. Quando aprendemos algo, nosso cérebro passa pelo que se chama de período de “consolidação da informação”, trocando em miúdos, isso significa que precisamos de tempo para aprender algo e depois disso precisamos de mais tempo para que esse aprendizado se torne disponível para nós, alicerçado em nossas redes neurais.

A reflexão ocorre depois disso. Depois de compreender o conteúdo é que posso refletir sobre ele. Articular uma informação com outras e gerar um ponto de vista plausível e explicativo daquilo que estou buscando compreender. Porém quando este processo se torna rápido, quando precisamos fazer isso rapidamente criamos uma ilusão perigosíssima.

Assim que lemos algo é comum termos uma percepção geral sobre o assunto. A primeira leitura, considerada como leitura abrangente, serve para “termos uma ideia” do conteúdo daquilo que estamos analisando. Porém, se a velocidade é fator fundamental, vendemos a primeira ideia como uma reflexão. A primeira vítima desse crime é a profundidade das reflexões, a segunda é a liberdade.

Pode parecer estranho, mas a liberdade não nasce da superficialidade. Ela é profunda. Ser livre é um ato exigente, que envolve a reflexão sobre aquilo que fazemos. Não é a toa que os existencialistas falam da “angústia da liberdade”. Quando temos apenas uma primeira impressão tomada como uma reflexão, as ideias curtas e – muitas vezes automáticas, tacanhas e óbvias – são as que emergem. Mas a liberdade cobra um preço mais alto que isso.

A profundidade morre porque não é buscada. E quando não se busca por isso, as articulações são perdidas ou feitas de maneira simplista, sem serem avaliadas em sua complexidade. Com isso nascem os dogmas e com eles a morte da liberdade e da profundidade são aparentes.

Quando discutir uma ideia se torna um motivo de fé, não estamos mais no campo da lógica e racionalidade, cedemos espaço aos impulsos. Aprofundar hoje em dia é necessário para que a liberdade seja possível. Re-aprendermos a refletir é uma tarefa que vai exigir um esforço monumental, pelo fato de que não se busca mais por isso. O rápido e fácil assumiu o lugar do trabalhoso e forte.

Porém, de uma maneira ou de outra, se nossa sociedade não começar a voltar a refletir, permitir que o tempo se torne maior e amplo para que as ideias possam fluir, irá sucumbir diante de um interessante paradoxo: será vítima de suas próprias ideias. Pois quando as mesmas se tornam dogmas e estes somam-se uns contra os outros o que teremos serão lutas para provar que é mais forte quem sabe menos.


AKIM ROHULA NETO – Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Psicologia Corporal pelo Instituto Reichiano Psicologia Clínica e Centro de Estudos e em Programação Neurolingüística. Saiba mais.

akimrohula@gmail.com

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