RAÍZES JUDAICAS NA ROMÊNIA – POR FELIPE DAIELLO

328_ESPECIAL_3_1Em Bucareste, existe circuito turístico para encontrar o que sobrou da herança hebraica e suas influências culturais e artísticas na Romênia.


328_ESPECIAL_3_2Em 1550 surgem as primeiras referências da presença de judeus em Bucareste, período de Domínio Otomano nos Bálcãs. Pioneiros possivelmente oriundos da península ibérica.

328_ESPECIAL_3_3Região de conflitos permanentes com os turcos, de intervenções do Império Austro Húngaro e do Czar Russo, só em 1805, há notícias da chegada de famílias judias em Brasov, na Transilvânia. Vida nada fácil, devido as restrições quando à posse de imóveis, ao exercício de certas profissões e de edificar sinagogas.

328_ESPECIAL_3_4No início do século XX, o número e a importância da comunidade hebraica eram importantes na Romênia apesar das restrições do governo e da sociedade.

O romance de Mihael Sebastian, publicado em 1934, apresenta os efeitos psicológicos criados pelo antissemitismo na Romênia. Era o período da temida Guarda de Ferro, organização paramilitar que discriminava os judeus. O autor de “Two Thousand Years” nasceu com o nome de Iosef Mendel Hechter numa vila à beira do Danúbio. Sobrevive à Guerra e ao holocausto para morrer atropelado em 1945 em Bucareste. Sua obra é importante para estudiosos e curiosos compreenderem o que vai acontecer na Romênia. Em 1930 a população hebraica na capital superava os 10%, o que define a importância da comunidade para o país.

328_ESPECIAL_3_5Ao estourar a 2a Guerra Mundial, a Romênia se alia a política da Hitler, as refinarias de Ploesti fornecem o combustível para mover a máquina de guerra alemã, bases são instaladas, divisões Panzer estacionadas, as comunidades de origem e de fala alemã da Transilvânia colaboram com os irmãos que chegam. O exército romeno participa da invasão da Rússia, havia a promessa de recuperar a Bessarabia, região ocupada por Stalim em 1940.

Surge assim a República Soviética da Moldávia, hoje mais um país pobre e independente. A capital, atual Chisnau, era a cidade de Kishinev onde a comunidade judia encontrara relativo paraíso, representando quase metade da população local.

328_ESPECIAL_3_7Com a vinda da Gestapo, das SS, começa o Shoah Romeno, milhares em trens de gado são levados aos campos de extermínio da Polônia e Hungria. Memorial em Brasov ao lado da Sinagoga Neolog recorda, através de pinturas a barbárie cometida, algo para não mais ocorrer num Mundo Civilizado.

Estimativas afirmam que de uma população de 800 mil hebreus, restaram menos de 50 mil. Os sobreviventes na maioria fugiram do país depois da derrota do pesadelo nazista. Na Bessarabia a tragédia se repete, romenos e alemães unidos na execução.

328_ESPECIAL_3_8Outra consequência, além do confisco de bens dos judeus, foi o vandalismo e a destruição de sinagogas. As poucas remanescentes exigem manutenção que os poucos que ficaram não tem condições de custear.

A partir de 1947, com a implantação do regime comunista, com a desapropriação geral de empresas, de bens, a situação piora, sinagogas são demolidas, outras desabam por falta de manutenção e desinteresse. Caso da Sinagoga Mare Asken, ainda com paredes de pé mas em ruínas e a Sinagoga Sefardi demolida, ambas em Constanta.

328_ESPECIAL_3_9Após a queda, a prisão, o julgamento e o fuzilamento do ditador Nicolae Ceausescu e esposa em 1989, a Romênia entra numa fase de modernização. Declarada zona livre do comunismo, com o Partido Comunista considerado ilegal e proscrito, com o retorno de antigos donos das fábricas, das empresas e com a entrada no bloco europeu de comércio, mesmo ainda sem adotar o Euro como moeda, a Romênia se desvia do atraso provocado pela má gestão e pelos erros econômicos cometidos pelo Socialismo Comunista.

Importante para o turismo, aos pouco as cidades se revitalizam, monumentos, igrejas, mesmo sinagogas, começam lenta recuperação.

328_ESPECIAL_3_10Em Bucareste, existe circuito turístico para encontrar o que sobrou da herança hebraica e suas influências culturais e artísticas na Romênia. Entre a Piata Unirea que homenageia a unificação do país em 1918 e a Piata Universitate, no Centrul Vechi, onde se localiza o bairro judeu encontramos o Coral Temple, cópia da Sinagoga de Viena. Construída pala comunidade polonesa entre 1857e 1867 destaca-se pelas pinturas, pela decoração interna e pelo estilo neomudejar da arquitetura. Edificada pela confraria dos alfaiates em 1827, renovada em 2005, agora museu a Sfânta Unirea (Holy Union) é outra sobrevivente dos ataques e dos vandalismos de 1940 e, depois, das ações da ditadura comunista de Ceausescu.

328_ESPECIAL_3_11A sinagoga Beyth Hornidras (a mais antiga) e a sinagoga Elisabetheu deixaram apenas recordações. E sua Tova e Credinta são simples na aparência e meio perdidas na nova e moderna Bucareste.

328_ESPECIAL_3_12Para descobrir a importância da comunidade judaica na vida da Romênia o melhor é contratar guia. É fácil se perder nas ruelas do bairro, difícil o estacionamento, o GPS não ajuda, os horários de visita restritos, a segurança excessiva.

328_ESPECIAL_3_13No State Jewish Theater, nomes fundamentais na história e na cultura da Romênia são lembrados. Eles não podem ser esquecidos. Eugène Ionescu, o mestre do teatro do absurdo é o primeiro da lista. Quantos outros devemos acrescentar?

No Brasil, quantos refugiados romenos e seus descendentes encontraram o caminho da paz e do sucesso? Faça a lista.


FELIPE DAIELLO – Autor de “Palavras ao Vento” e ” A Viagem dos Bichos” – Editora AGE – Saiba mais.

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