O QUE É PRECISO SABER SOBRE O CÂNCER DE PRÓSTATA – ENTREVISTA COM O DR. DAVID J. COHEN

345_saúde_5_1Sabia que o câncer de próstata é a segunda maior causa de morte entre homens no Brasil, perdendo apenas para o câncer de pulmão? E que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), 68 mil casos devem ser diagnosticados neste ano de 2019?

Para reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata foi criado o Novembro Azul, que surgiu em 2003, na Austrália, e é um movimento mundial que acontece durante todo o mês.

Tire aqui suas dúvidas sobre esta terrível doença na entrevista que nos foi especialmente concedida pelo Dr. David J. Cohen, Mestre em Urologia pela Faculdade de Medicina do ABC, urologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Membro da equipe do check-up do homem do grupo Fleury de São Paulo e assistente da disciplina de urologia do Instituto do Homem (Hospital Brigadeiro), além de ser especialista em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia e Membro da European Urological Association (EUA) e da International Society of Sexual Medicine.


A causa do câncer é essencialmente genética, mas existem várias pesquisas ao redor do mundo que especulam que outros fatores podem estar envolvidos na gênese da doença, tais como causas inflamatórias, infecciosas e dietéticas.

Com que freqüência é preciso ir ao urologista e para detectar que tipo de problemas?

O ideal seria criar uma cultura semelhante ao que ocorre com as mulheres em relação a consulta com um ginecologista, sendo indicado para o homem iniciar uma visita anual ao urologista a partir da adolescência. Dentro deste contexto, desde o ano passado a Sociedade Brasileira de Urologia lançou uma campanha chamada Vem pro Uro, incentivando o jovem a se consultar com um urologista. Entre os 15-35 anos o câncer de testículo é o mais frequente entre os homens, devendo ser este o maior enfoque nesta faixa etária. Na quinta e sexta década de vida o maior enfoque realmente deve ser a prevenção e detecção precoce do câncer de próstata, o segundo mais incidente no homem, perdendo apenas para o câncer de pele do tipo não melanoma. Além disso, a consulta anual com o urologista pode detectar câncer renal nas suas fases precoces, quando ainda são assintomáticos e em pacientes com histórico de tabagismo o câncer de bexiga.

Como é realizado o exame de próstata?

A análise prostática é realizada através da medida do PSA sanguíneo associado ao exame digital da próstata através do toque retal, no qual se palpa a superfície prostática afim de se analisar a consistência e a presença de nódulos suspeitos para o câncer de próstata.

Como é feito o diagnóstico de câncer de próstata?

Os pacientes com alteração do toque retal e/ou elevação do PSA, são considerados suspeitos de serem portadores de câncer de próstata. Sendo assim, devem ser encaminhados para a realização da biópsia da próstata. Consiste em um exame realizado sob sedação a através do reto, no qual vários fragmentos de diferentes regiões da próstata são retirados e analisados microscopicamente para definição da presença ou não de câncer. Atualmente, em diversos serviços se realiza antes da biópsia a ressonância magnética da próstata como objetivo de auxilio em identificar regiões da próstata com maior risco de neoplasia, aumentando a eficácia da biópsia.

Qual a causa do câncer de próstata?

A causa do câncer é essencialmente genética, mas existem várias pesquisas ao redor do mundo que especulam que outros fatores podem estar envolvidos na gênese da doença, tais como causas inflamatórias, infecciosas e dietéticas.

O câncer de próstata tem cura?

Sim. Aliás, cerca de 70% dos casos são diagnosticados em uma fase na qual a cura é totalmente possível. Nos 30% dos casos mais avançados a doença pode não ser curada, mas pode ser eficazmente controlada, aumentando significativamente a sobrevida dos pacientes. Por isso é de suma importância o diagnóstico precoce do câncer, pois quanto mais cedo se diagnostica, maior a chance de cura.

Atualmente ainda não é possível dispensar o exame de toque retal, pois existem algumas neoplasias da próstata em que ocorre o aparecimento do nódulo prostático sem a elevação do PSA.

Qual o tratamento do câncer de próstata?

O tratamento vai depender de diversos fatores como idade do paciente, presença de doenças associadas, agressividade do tumor e estagio da doença. Essencialmente está centrado: na retirada cirúrgica radical da próstata, que pode ser realizada da forma convencional, laparoscópica ou via robótica; radioterapia; hormonioterapia e combinações multimodal destes três tratamentos. A quimioterapia é reservada para casos muito avançados em que houve falha dos outros tratamentos. Importante salientar também que em alguns casos não se institui nenhum tratamento, apenas se faz um seguimento periódico com exames e havendo qualquer indicio de progressão da doença é instituído algum tipo de terapia. Este procedimento é denominado Vigilância Ativa (VA). A VA está indicada em pacientes com idade avançada, com múltiplas doenças associadas, neoplasias localizadas e de baixa agressividade, na qual a probabilidade da mortalidade pelo câncer é muito baixa, não justificando os riscos dos efeitos colaterais que qualquer tratamento de câncer para próstata oferece.

Quais são os sintomas do câncer de próstata?

É muito importante saber que o câncer de próstata na sua janela terapêutica, ou seja, na fase em que pode ser tratada de forma curativa e definitiva não apresenta sintomas. Vai apresentar sintomas como dor óssea; fraturas ósseas espontâneas, sangue na urina, dificuldade miccional, insuficiência renal entre outros, apenas nos estágios avançados da doença, quando na maioria das vezes a doença não é mais curável.

Masturbação ajuda a prevenir o câncer de próstata?

Este é um assunto extremamente controverso. Existem alguns estudos de baixa qualidade cientifica que propõe que talvez o aumento da ejaculação entre 20 e 40 anos tenha um efeito protetor no aparecimento do câncer de próstata. No entanto, as evidências são muito fracas e portanto, atualmente, nenhuma recomendação pode ser feita para ser instituída na prática clínica.

Homens jovens podem ter câncer de próstata?

É muito raro o aparecimento do câncer de próstata antes dos 40 anos. No entanto, cada vez mais está ocorrendo o diagnóstico em idade mais precoce, o que pode indicar uma outra causa do câncer que ainda desconhecemos e/ou de que aumentamos nossa habilidade em diagnosticar o câncer da próstata com o uso rotineiro do toque retal e PSA.

Com que idade recomenda-se iniciar exames de prevenção do câncer de próstata?

Existem diversos protocolos, mas os utilizados nas principais Sociedades urológicas ao redor do mundo e inclusive a Sociedade brasileira de urologia recomenda o inicio da prevenção do câncer da próstata com 40 anos para pacientes da raça negra e/ou com histórico familiar de câncer de próstata em algum parente de primeiro grau ( pai, irmão ou avô). No restante dos pacientes deve-se iniciar com 50 anos de idade.

Que tipo de exame é o PSA e como é feito?

O PSA é um antígeno produzido pela próstata e é identificado através de um simples exame de sangue. O PSA é produzido exclusivamente pela próstata, o que o torna especifico para a próstata, no entanto ele não é especifico para câncer de próstata, ou seja qualquer coisa que acometa a próstata como seu crescimento, infecção, inflamação e não apenas o câncer aumenta o PSA. Por esta razão que se faz necessário a realização da biópsia da próstata para confirmação do diagnóstico.

Com os atuais exames, como o PSA, é possível dispensar exames pela via retal na investigação do câncer de próstata?

Atualmente ainda não é possível dispensar o exame de toque retal, pois existem algumas neoplasias da próstata em que ocorre o aparecimento do nódulo prostático sem a elevação do PSA. Talvez no futuro com a evolução de diagnósticos por imagem como a ressonância magnética e o PET com PSMA isso possa mudar, mas atualmente o método de screening mais eficaz se faz com toque retal associado a dosagem de PSA.

Qual o valor do PSA que indica câncer de próstata?

Valores suspeitos para câncer de próstata seriam acima de 2,5 ng/dl em pacientes com idade inferior a 50 anos e acima de 4,0 ng/dl em pacientes acima de 50 anos. No entanto, na prática clínica outros fatores importantes são levados em consideração como a velocidade de crescimento do PSA e sua relação com o tamanho prostático

Um PSA baixo descarta câncer de próstata?

Não. Como comentado acima, apesar de raras, existem neoplasias em que não há elevação ou ocorre apenas uma leve elevação do PSA.

Quais são as complicações mais comuns da cirurgia para retirada da próstata?

As complicações mais comuns da cirurgia da próstata são: disfunção erétil (DE) e incontinência urinária (IU). A DE incide entre 40-60% dos pacientes submetidos a cirurgia e ocorre pela lesão intra-operatória dos feixes vasculho-nervosos responsáveis pela ereção e que se encontram aderidos nas laterais da próstata. A DE pode ser leve e responsiva as medicações de uso oral e em alguns casos pode ser total sendo necessário a implantação de prótese peniana. A IU ocorre em até 10% dos casos e costuma ser transitória, podendo se estender até 1 ano após a cirurgia. A fisioterapia pélvica pode ajudar a abreviar o retorno da continência. Na minoria dos casos ela persiste mais de 1 ano. Neste contexto indica-se o procedimento cirúrgico de esfíncter artificial urinário, que consiste em uma válvula artificial de controle urinário.

O câncer de próstata costuma ser um câncer muito agressivo?

Não, apenas 30% das neoplasias prostáticas são consideradas mais agressivas.

Vitaminas ajudam a prevenir o câncer de próstata?

Muito se especulou na década passada sobre o efeito de algumas vitaminas na prevenção do câncer de próstata. Finalizado em 2014, o estudo SELECT analisou diversas vitaminas na prevenção do câncer de próstata com ênfase para o selênio e o lecopenio, substância encontrada em abundância no tomate. O estudo multicêntrico clínico prospectivo com uma enorme amostragem não demonstrou qualquer relação significativa entre vitaminas e prevenção do câncer de próstata.

Sexo anal aumenta o risco de câncer de próstata?
Não há qualquer relação entre sexo anal e o aumento do risco de câncer de próstata.

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