MAGHEN ABRAHAM. SINAGOGA SOBREVIVENTE DO LÍBANO – POR FELIPE DAIELLO

346_especial_5_1Construída entre os anos de 1925 e 1929, era uma das mais belas sinagogas do Oriente Próximo, representando no entorno da Wadi Abou Jamil um dos pólos da atuação da comunidade judaica do Líbano, que no ano de 1948 contabilizava cerca de vinte mil membros.


346_especial_5_2Construída entre os anos de 1925 e 1929, era uma das mais belas sinagogas do Oriente Próximo, representando no entorno da Wadi Abou Jamil um dos pólos da atuação da comunidade judaica do Líbano, que no ano de 1948 contabilizava cerca de vinte mil membros.

Desde o século I d.C. pequeno grupo já se encontrava instalado na região. Ao longo dos anos, das diversas ocupações e das invasões, pois aquela estreita faixa de terra era a passagem de exércitos invasores em busca de riquezas alheias, os judeus libaneses criaram um espírito próprio imerso em nacionalismo libanês sem precedentes. Os mizrah, judeus que viviam em países muçulmanos no Oriente Médio, no Líbano vão edificar uma sociedade diferente, independente em muitas das esferas de atuação das dos seus irmãos em outras nações.

346_especial_5_3Durante as guerras de independência do novo Estado de Israel, a população local inclusive aumentou com a vinda de refugiados de outros países árabes, incluindo os da África do Norte, da Síria e Iraque. O Líbano era considerado um santuário.

A partir de 1975, até 1990. As guerras civis, a interferência da Síria, a invasão do sul do Líbano pelo exército de Israel em 1982, o aparecimento de grupos extremistas muçulmanos, como o Hezbolah , causou a destruição desse templo que permaneceu abandonado até ser recuperado pela empresa francesa Solidere, a responsável pela recuperação das áreas nobres destruídas de Beirute.

Foi difícil a vida para os hebreus, sujeitos aos sequestros, aos ataques aos seus negócios e propriedades, impossível continuar integrados à nação libanesa. O êxodo foi intenso, mas não para Israel como prioridade. A longa permanência dos hebreus no Líbano, séculos de convivência, moldou uma faceta diferente para os membros locais em diáspora.

– Não queríamos viver em Kibutzes, precisávamos manter nossa liberdade– a informação era clara. O destino seria o dos Estados Unidos, do Canadá, da França, da Austrália e mesmo do Brasil, roteiro da família Safra.

346_especial_5_4Hoje, a comunidade, maioria de idosos, não passa de mil pessoas, percentual pequeno para restabelecer ou manter velhas tradições. Danificada, destruída mesmo ficando isolada no quarteirão, após a reconstrução executada a partir de 2009 pela Solidere, empresa ligada ao primeiro Ministro, Rafik Ariri, o local não oferece ainda serviços religiosos regulares.

Pessoas com passaporte de Israel estão proibidos de entrar no país. Inclusive estrangeiros, que passaram por Israel ou que têm vôos programados para Tel Aviv, mesmo com qualquer menção de ir para Israel, são barrados na entrada, deportados.

– Caso passe por Israel não permita a colocação de carimbo no passaporte. Solicite o visto em documento avulso — era o aviso do guia para evitar futuros problemas para turista desavisado.

A intervenção de Israel em 1982, que durou até 2000, apoiava a minoria cristã, visando obter aliado para manter a paz e a estabilidade na região. O líder cristão Bachir Gemayel foi assassinado em 1982, aumentando a intensidade da crise.

346_especial_5_5Hoje, meio escondida, destinada a ser mais um museu, está protegida contra vandalismo e depredações, pois o ódio total é contra o Estado Israel e os sionistas e não para os judeus que aqui viveram em tempos passados. Mas a grande quantidade de refugiados vindos da Síria agrava o problema, ainda mais que a estrada para Damasco continua aberta e plena de caminhões transportando mercadorias para a Síria. Menos de150 Km nos deixava parados perto da fronteira. Impossível prosseguir apesar da curiosidade,

A nostalgia, para muitos emigrados ainda jovens para Israel, pode ser mitigada na exposição aberta em 2019 na Haidrasha Gallery em Jerusalém. A imagem da Maghen Abraham Sinagoga surge como algo inatingível para as recordações ainda pulsando nos corações de muitos crentes na fé de Abrahão. Lembranças de Beirute ainda persistem, difíceis de esquecer. Resta essa pequena, mas singela mensagem como consolo.


FELIPE DAIELLO – Professor, empresário e escritor, é autor de inúmeros livros, dentre os quais “Palavras ao Vento” e ” A Viagem dos Bichos” – Editora AGE – Saiba mais.

daiello@cpovo.netwww.daiello.com.br

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