OLHANDO NOSSAS SOMBRAS – POR AKIM ROHULA NETO

352_saúde_4_1Olhar para a própria sombra é ousar contra um preconceito inerente à noção de identidade. Sempre que nos definimos, excluímos algo, olhar para a sombra é colocar este algo novamente em nossa consciência.


Sempre queremos olhar para a luz, para aquilo que brilha e agrada os olhos, nos empolga e dá energia. Porém, a vida não é feita apenas de luz, ela também contém as sombras. Na verdade, é das sombras que a luz emerge. Mas a humanidade sempre temeu a escuridão, não nos adaptamos bem às sombras e acreditamos que elas ocultam perigos.

Olhar para aquilo que é sombrio em nós não significa olhar para algo “ruim”, mas sim, para algo oculto. Há perigo nisso? Sim, podemos ver coisas que mudarão nossa vida para sempre, e nisso existem perigos para nossos sentimentos e frágil identidade. Ao mesmo tempo existem oportunidades de crescimento. O perigo sempre traz essa díade entre o dano e o abono.

Quando olhamos para isso? Quando temos a coragem de colocar nossa identidade em risco. As sombras ocultam “defeitos” e “qualidades”, aquilo que não queremos ver. Olhar para a própria sombra é ousar contra um preconceito inerente à noção de identidade. Sempre que nos definimos, excluímos algo, olhar para a sombra é colocar este algo novamente em nossa consciência.

“Sou belo”, então oculto aquilo que é “feio” em mim. Olhar a sombra pode trazer isso à tona. Como ìntegro isso em mim? Como aceito que sou algo além do que minha vã percepção enxerga? “Sou estúpido”, então nego minha inteligência e perspicácia. O que pode me fazer integrar isso? Olhar para as sombras é um convite para abrir-se à essas perguntas, por isso ela mexe com nossa identidade. Ela amplia e nesse sentido “perdemos” a identidade “menor” para receber algo mais amplo de presente de nós mesmos.

Esta expansão é o que nos assusta, visto que precisamos, então dar conta de algo que, antes, “não estava ali”. A vida muda e não somos mais os mesmos. Mudamos e nos fazemos mais completos com nosso mundo interior. Se agora vejo algo feio em mim, o que muda? Se agora percebo que tenho inteligência, o que muda? Não é fácil integrar algo novo em nós, por isso nos esquivamos das sombras; ao mesmo tempo, é nelas que reside nosso poder de mudar e evoluir, de sermos mais completos do que éramos antes.


AKIM ROHULA NETO – Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Psicologia Corporal pelo Instituto Reichiano Psicologia Clínica e Centro de Estudos e em Programação Neurolingüística. Saiba mais.

akimrohula@gmail.com

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