PRESO? PRESO NÃO – DR. TALI LOEWENTHAL

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Um dos mais terríveis e assustadores sentimentos é o de estarmos presos. Não há saída, bloqueado por todos os lados. É uma situação que pode ocorrer, D’us nos livre, em termos literais, físicos, em um contexto de violência ou guerra. É também uma situação que pode surgir em termos das voltas em uma carreira profissional ou em relações humanas difíceis. Estar preso também é algo que pode acontecer a uma pessoa dentro de sua própria mente e coração. Preso, incapaz de se mover livremente. Imobilizado. Como o Rei Faraó do Egito na porção da Torá desta semana.

De que forma ele foi preso? O Faraó era o opressor dos judeus. Eles estavam presos; de que forma ele também estava?

Nossa Parashá começa nos contando que D’us “tinha endurecido o coração do Faraó”. Por causa disto, o Faraó foi incapaz de responder aos avisos dados por Moshé e à série de pragas, uma após a outra. D’us tinha aprisionado o Faraó em uma posição de desafio e, aparentemente, não havia nada que o rei egípcio pudesse fazer. Ele tinha que seguir o curso que inexoravelmente levava à destruição.

Nossos Sábios comentam isto. Como isto é possível? Não é D’us quem concede o livre-arbítrio? É justo punir o Faraó se sua recusa de reconhecer D’us lhe foi imposta – pelo próprio D’us?

Uma das mais famosas explicações para este mistério é aquela dada por Maimônides. O endurecimento do coração do Faraó foi uma punição pelo seu cruel tratamento ao Povo Judeu. Quando alguém pratica o mal, ele fica preso em uma posição da qual não pode escapar. Isto, por si só, é parte da punição por seu crime [1].

Nós encontramos também uma história no Talmud sobre um rabino, chamado Elisha filho de Abuya, mas chamado de Acher, “o outro”, que deixou o caminho do Judaísmo. Muitas razões são dadas para isto, incluindo a influência da cultura grega, a perplexidade pelo sofrimento dos inocentes e as conclusões erradas tiradas de uma experiência mística. Conseqüentemente, ele parou de respeitar às leis judaicas. Então, a um certo ponto de sua vida extravagante, ele ouviu uma voz celestial dizer: “Arrependam-se, filhos perversos – exceto Acher” [2]. Depois disto, ele usou este fato como uma desculpa para o fato de nunca se ter arrependido.

A exclusão de Acher do convite geral ao arrependimento foi parte de sua punição, como no caso do Faraó.

Entretanto, os ensinamentos judaicos em todas as suas dimensões, não são tão simples. Um importante comentário no Talmud discutindo o caso de Acher declara: “Entretanto, ele não devia ter prestado atenção a isto… Nada é maior que o arrependimento” [3].

Os ensinamentos chassídicos nos dizem que não importa o quão fundo alguém tenha afundado, e mesmo que pareça que D’us o tenha aprisionado em seu próprio mal, o arrependimento sempre é possível. Ele pode ser mais difícil do que o habitual, até mesmo muito mais difícil, incrivelmente difícil – mas sempre é possível. Preso? Não, preso não. Qualquer um, mesmo o antigo Faraó, pode sempre escapar da armadilha e retornar a D’us. Nós somos sempre livres [4].


Referências:

1. Mishneh Torah, Leis do Arrependimento 6:3. Ver Midrash Shemot Rabbah 13:4.

2. Talmud, Chagigah 15a.

3. Maharsha sobre o Talmud, ibid.

4. Ver Tanya 31b, 100b, e o Likkutei Sichot do Lubavitcher Rebbe, vol. 6 p.57 ff.

 


DR. TALI LOEWENTHAL: DIRETOR DO CHABAD RESEARCH UNIT, LONDRES

Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg

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