DIGNIDADE DA ESCUTA – POR PAULO ROSENBAUM

PAULO ROSENBAUM


Passar cursos de medicina para 8 anos ao invés dos 6 atuais é um espelho perfeito da cadeia de equívocos.

Estudante de medicina terá de atuar no SUS; entidades criticam

Cursos terão 8 anos de duração; representantes da classe veem proposta como ‘paliativa e demagógicaDescription: nício do conteúdo

Curso de medicina passará de 6 para 8 anos de duração a partir de 2015

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As manifestações que esbofetearam analistas, estrategistas e marqueteiros ainda tentam conservar um pouco da aura romântica, mas naturalidade não é virtude conquistável. Destarte, fica nítido que lhes falta a força de uma direção, de uma canalização mais eficiente. Como todos sabem, a perda do lirismo dá lugar a uma maior objetividade.

Melhor manter o charme da fantasia.

Afoito, desmedido, inoportuno e seletivo o governo tenta reagir ao clamor difuso com soluços. Mas ninguém contorna inação, má gestão e desejo de hegemonia com medidas frenéticas e reducionistas.

Além de um timing duvidoso e das assincronias o que falta ao poder é imaginação. A criatividade é que repercute nas expectativas das pessoas. Sua falta exaure até os mais ingênuos.

Sem perspectivas, ainda estamos à mercê de acordos feitos nas cúpulas. No lugar da verdadeira escuta os diálogos privilegiam movimentos organizados, sindicatos e partidos. Faltou só o principal: aquelas pessoas comuns, resgatadas da pobreza, recolocadas no cardápio social, e que, agora, desejam algo além do paternalismo subserviente de Estado. O desejo de consumo preemente passou a ser item escasso no mercado : a dignidade da escuta.

Uma vez que ela, a escuta, foi esnobada,esperava-se um enfoque suprapartidário e transgovernamental. Também não aconteceu. O partido não permitiu. Pactos que se costuram sob interesses só fazem aumentar o combustível para os desvios. E o mal estar não se cala quando se pressente manipulação, ele se descontrola.

Passar cursos de medicina para 8 anos ao invés dos 6 atuais é um espelho perfeito da cadeia de equívocos. O motivo alegado agora não é mais aquele original, ou seja, a de que não seria para suprir a falta de médicos mas de impedir ou desestimular a especializaçao precoce. Ora, a especialização precoce tem causas com raízes mais infiltradas que não se resolvem com as canetas alienadas dos gabinetes de Ministros.

Essas mudanças erráticas e a sistemática repetição de improvisos além de não inspirarem seriedade desnudam a falta de planejamento de longo prazo e mostram o desespero para alavancar candidatos a qualquer preço.

Mudar a mentalidade de formação precoce de especialistas é estimular a medicina preventiva e melhorar as condições de trabalho dos clínicos gerais. Como justificar isso quando se construiu por aqui o mito de que mais saúde significa mais hospitais, medicamentos subsidiados, disponibilidade de exames e procedimentos de alta complexidade além de clínicas especializadas com pesada hotelaria?

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Paulo Rosenbaum – Médico e escritor, assina a coluna semanal “Coisas da Política”, no JB – Jornal do Brasil. Saiba mais.

rosenb@netpoint.com.br

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