ROSH HASHANA E YOM KIPUR 5774 – DR. BERNARDO SORJ
Festejamos Rosh Hashana, o ano novo, para afirmar o direito de cada comunidade a ter sua própria memória coletiva da passagem do tempo, e Yom Kipur para refletir sobre o sentido desta passagem para cada um.
O novo ano separa o tempo que é contínuo. Separamos para organizar nossas vidas, mas quem só separa esquece que o mais bonito não é o dia ou à noite, mas o amanhecer e o pôr do sol, que as outras culturas nos enriquecem porque são diferentes, que o puro e o impuro estão sempre juntos.
Toda separação do tempo é artificial e só é relevante se não nos permite realizar um balanço do que temos realizado e refletir sobre o que desejamos atingir. Sabendo que querer controlar o futuro só produz ansiedade e que as transformações não dependem de promessas infantis no início do ano, e sim de um esforço constante, pois as mudanças nos deixam inseguros e nos aprisionamos nas nossas formas de ser, ainda que empobrecedoras.
A passagem do tempo produz perdas, mas só graças à impermanência, a mudança é possível, e permite transformar a vida numa experiência enriquecedora.
Por isso devemos enfrentar nos medos, que não nos permitem:
· Superar nosso lado criança que quer que todos se ajustem a nossos desejos e vontades, que fala mais não ouve, e não entende o porquê das atitudes dos outros.
· Enfrentar nossas inseguranças, que nos fazem autoritários e enrijecem nossa sensibilidade.
De forma que possamos como adultos construir um mundo de respeito mútuo, aceitando nossas imperfeições e erros.
E no lugar de dar tanta importância em possuir objetos que são perfeitos, pois não são humanos, investir mais:
· Na convivência e na leitura, que nos enriquecem para o resto de nossas vidas.
· Em nos perdoar quando erramos e compreensivos com quem erra, em particular as pessoas queridas e as mais fracas, pois são as que mais precisam de nossa compaixão.
· Em não confundir amor com possessão, educação com imposição;
· Em ajudar outras pessoas, contribuindo para que todas vivam num mundo onde possam desenvolver suas capacidades e individualidades.
Lembrando que o melhor presente que podemos dar a nós mesmos e aos seres queridos nunca é um objeto, e sim:
· Um gesto de carinho e valorização.
· Aconselhando e não reprimindo.
· Ouvindo e compreendendo antes de julgar.
· Diferenciando entre o essencial do secundário.
E nunca perdendo nosso lado infantil, que:
· É curioso e interessado em tudo.
· E se pergunta o porquê das coisas.
· E gosta de brincar e de rir.
Porque nossas vidas podem ser melhores se procuramos nos superar, agradecemos:
Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.
Que vivemos, que existimos, que chegamos a este momento.
BERNARDO SORJ nasceu em Montevidéu, Uruguai, e mora desde 1976 no Brasil, onde se naturalizou brasileiro. Estudou antropologia e filosofia no Uruguai, cursou o B.A. e M.A. em História e Sociologia na Universidade de Haifa, Israel, e obteve o título de Ph.D. em Sociologia na Universidade de Manchester, Inglaterra. Foi professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, do Instituto de Relações Internacionais da PUC/RJ e é professor titular de Sociologia aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autor de 26 livros e mais de 100 artigos, ocupou na qualidade de professor visitante várias cátedras em universidades europeias e norte-americanas. Entre as mais recentes, destacam-se a Sérgio Buarque de Holanda, da Maison des Sciences de l’Homme, e a cátedra Simón Bolívar, do Institut des Hautes Études de l’Amérique Latine, em Paris. Foi eleitoHomem de Ideias 2005. Atualmente é diretor do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e do Projeto Plataforma Democrática, e coordenador do SciELO Latin American Social Sciences Journals English Edition.