UM ATO DE AMOR – RABINO RUBEN NAJMANOVICH

Rabino-Ruben


Quando coloquei minha mente para conhecer a sabedoria e observar a atividade que ocorre sobre a terra, seja de dia ou de noite, meus olhos não viram nenhum sono”. – Livro Eclesiastes – Kohelet – Capitulo 8, Versículo: 16.

É difícil poder processar e digerir a quantidade de informação que nestes últimos meses, foi vivenciada pelas comunidades judaicas do mundo inteiro, em seu dia a dia, e nos acontecimentos da dinâmica do Estado de Israel, que nos preocupa e atinge. Seria ilusão, se não tomamos em conta as variáveis da política internacional que influem em nossas vidas individuais, sociais, comunitárias, e sem dúvida nenhuma, com respeito aos rumos que toma e tomará a Medinat (Estado) Israel.

O Dr. Gustavo Perednik, autor do Livro: “Amarás teu próximo?, a judeofobia na cultura Universal”, Titulo do Livro em Espanhol: La Judeofobia, diz sinteticamente: “as guerras não existem entre paises democráticos”.

Observamos que existe uma mensagem equivocada por parte da opinião pública, onde expressa uma idéia totalmente errada a respeito da política de Israel – dá a impressão que Israel não deseja a Paz. Se analisarmos filologicamente o idioma hebraico, e lermos com suma atenção, encontraremos que a palavra Shalom, que entre outros significados é Paz, também sua raiz etimológica dá a possibilidade de compreender como tranqüilidade – pacificar – completo – inteiro – intacto.

O Judaísmo é muito diferente das duas correntes socioeconômicas que dominaram parte do século XX e criaram uma divisão física e ideológica no mundo: capitalismo e socialismo. O Judaísmo levanta a bandeira da concepção do conceito Tsedaká, que provém de Tsedek, a primeira traduzida como Caridade e a segunda como Justiça – esta justiça é a social.

A idéia que se compreende de Tsedek é de uma sociedade de cidadãos livres e iguais, sintetizada pelas palavras do Profeta Miquéias, no Capitulo 4, Versículo 4: “Cada Homem se sentará debaixo de sua própria videira e ninguém os amedrontará……”

O capitalismo tem como objetivo a igualdade de oportunidades e o socialismo a igualdade de resultados. A visão judaica aspira a uma sociedade com igual acesso à dignidade e à esperança. Diferente do Socialismo, ela aceita e acredita no mercado livre, na propriedade privada e na mínima intervenção governamental. Divergente do capitalismo, acredita que o mercado livre, é isento de redistribuições periódicas cria desigualdades que, com o tempo, se tornam insustentáveis, pois privam aos indivíduos da independência e da esperança.

Tsedek está “arquitetonicamente construído, na idéia de que posse e propriedade são conceitos e elementos totalmente diferentes”.

O Judaísmo, apesar de suas duas grandes experiências comunistas, os essênios na época do Segundo Templo de Jerusalém – Bêt Hamikdash Sheni, e em Israel Moderno o Kibutz, afirma porem, o conceito da propriedade privada, da posse, pela razão que John Locke (filósofo e teórico político inglês, professou um materialismo sensualista oposto ao inatismo cartesiano; tomou partido em favor do liberalismo político) utilizou no século 17: “trata-se da melhor defesa do individuo contra o Estado. As importantes e destacadas denúncias proféticas de Natan contra o Rei David, de Elias contra o Rei Acabe, foram provocadas por soberanos que tomaram o que pertencia a outros. Uma sociedade sem propriedade privada deixa seus cidadãos à mercê dos governantes. O capitalismo tende para a democracia. O comunismo em larga escala deixa um espaço pequeno demais para os direitos individuais”.

Justiça social, Tsedaká, em sua ideia mais profunda vem cuidar daqueles que estendem sua mão, mas também permite que se aprenda amar, “Ahava”, amor em hebraico, cuja raiz é a palavra Lehav: Dar, só dá, aquele que ama.

No mês de Adar, entre outros preceitos um deles é a mitzvá de dar, Machasit Hashekel, o meio Shekel, o qual tem essa ideia de metade, que nem o rico dá mais e o pobre não dá menos, e toda a finalidade é encontrar a unidade. E este conceito é baseado no amor, de que quando posso dar minha metade e juntar a outra, a unidade se conforma, se materializa, e portanto a Unicidade, a Divina Presença, nos presenteia com seu esplendor.

No último dia 9 de março, se celebrou em muitos países o Iom Mahasim Tovim, Dia das boas ações, que começou em Israel sete anos atrás e hoje em dia se coloca em prática em muitas partes do mundo um ato de Tsedaká, um ato de amor, um ato de ir à procura de curar um mundo fraturado.

Chodesh Tov


RUBEN NAJMANOVICH – Rabino, Professor da Ciência da Religião, Mestre em Ciências Sociais e Humanidades, menção educação. Saiba mais.

rubenaj@terra.com.br

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