PALAVRA DO PRESIDENTE AVI GELBERG: A NECESSIDADE DE UMA NOVA ESTRUTURA COMUNITÁRIA

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Estamos passando por momentos turbulentos no Brasil e podemos ver a fragmentação da nossa comunidade, dividida, com opiniões divergentes não só na política, na cidadania, na religião como também em qualquer outro tema. Estamos preocupados com os fatores externos, em como nos tratam como judeus no país onde vivemos. Os sinais de antissemitismo, com reações a tudo que acontece em Israel, devem, sem dúvida, nos preocupar. Mas parte desses fatores externos é reflexo de como nós mesmos nos tratamos. Está mais do que na hora de olhar para nós mesmos, para nosso comportamento, e entender que estes atos e sentimentos provocam consequências diretas na maneira em como somos tratados.

Está na hora de a nossa comunidade se organizar e se estruturar. Para ter o respeito dos outros, precisamos primeiro nos respeitar. Somos dezenas de entidades judaicas no Brasil, e isso é louvável, mas, infelizmente, cada uma rema para um lado visando seu interesse próprio ou os interesses individuais de seus dirigentes. Nestes casos prevalecem vontades e vaidades próprias de modo a que, infelizmente, as pessoas se colocam acima das instituições.

Como podemos mudar essa situação? É uma grande pergunta. As estruturas comunitárias existentes têm pouca força para comandar de uma forma eficaz uma mudança. São Paulo, por exemplo, com mais de cem entidades, sinagogas e escolas. Todas buscando sobrevivência econômica com recursos limitados gastando muitas vezes recursos que podem ser otimizados. Uma ideia é, com a ajuda de todos, concentrar estes recursos oriundos das doações em uma central única que controle e avalie todos os projetos e evite gastos duplicados em projetos similares.

Não é possível dez eventos de Purim no mesmo dia e no mesmo horário realizados por diversas entidades e nem quinze comemorações de Iom Haatzmaut, num evidente desperdício de recursos, energia, talentos e competências, somente para satisfazer egos.

Um primeiro passo já foi dado com relação às bolsas das escolas. Por que não aplicar este mesmo modelo em todos os projetos comunitários, criando um comitê de notáveis e profissionais especializados? Poderíamos ter também uma central única de ajuda aos que necessitam sem expô-los em demasia. Isto poderia se multiplicar por outros estados para ajudar as respectivas entidades e, em escala nacional, uma centralização valendo para todo o país. Uma espécie de política nacional para gerência e administração de recursos comunitários em que se mantém a autonomia administrativa das entidades, mas cria uma subordinação hierárquica.

Estou convencido de que o poder econômico influenciaria esta hierarquia comunitária, da mesma forma que estabeleceria agendas únicas, respeitadas as características e particularidades de cada estado e região, em vez de (agendas) paralelas e concorrentes.

Este projeto talvez seja pretensioso, mas certamente necessário. Sinto profundo incômodo com a desorganização interna, os eventos descoordenados e a fragilização das entidades sem reagir. De todo modo, se estas reflexões servirem para criar um debate neste sentido, já será um avanço importante. Não é possível dez eventos de Purim no mesmo dia e no mesmo horário realizados por diversas entidades e nem quinze comemorações de Iom Haatzmaut, num evidente desperdício de recursos, energia, talentos e competências, somente para satisfazer egos.

Dizem que somos um povo inteligente e com soluções inteligentes. Vamos justificar isso.

Shalom.


Fonte: Revista da Hebraica – maio/2017

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