A FRANCESA AUDREY AZOULAY É A NOVA DIRETORA-GERAL DA UNESCO

301_fique_1_1Audrey Azoulay (foto Philippe Wojazer/ REUTERS)

A ex-ministra francesa da Cultura Audrey Azoulay, tornou-se esta sexta-feira (13 de outubro) a nova diretora-geral da UNESCO, após ter batido o ex-ministro da Cultura Hamad bin Abdulaziz Al-Kawari por 30 votos contra 28 na quinta e derradeira ronda de votos. A eleição deve ser validada na Conferência-Geral de Estados-Membros, em 10 de novembro.

Neta de uma judia sefardita e filha de um conselheiro do rei de Marrocos, de 45 anos, Azoulay entrou na corrida à última hora, mas acabou por ser escolhida para suceder à búlgara Irina Bokova num momento particularmente difícil da história desta organização das Nações Unidas, com a administração de Donald Trump a anunciar que os Estados Unidos vão abandonar o barco e o governo de Israel a ameaçar seguir o exemplo.

Quando François Hollande anunciou a entrada tardia da França na corrida, lançando a sua ministra da Cultura, a decisão foi sentida como uma provocação no mundo árabe, onde a vitória do experiente político do Qatar era já dada como certa. Já com o governo de Emmanuel Macron em funções, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês chegou mesmo a receber uma petição de meia centena de intelectuais árabes, apelando à desistência de Azoulay.

“Não é a vez dos países árabes, nem é a vez da França, mas a vez da UNESCO, que está numa encruzilhada da sua história e deve preparar-se para o século XXI”, replicou Azoulay, que está decidida a construir consensos e acena com o seu próprio patrimônio familiar para mostrar que a convivência entre judeus e árabes é possível.

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PRESIDENTE DO CRIF ENVIA CARTA À ANDUREY AZOULAY, APÓS SUA ELEIÇÃO COMO CHEFE DA UNESCO

PARIS – Na sua carta, Francis Kalifat,o presidente do Crif – Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França – felicitou Audrey Azoulay pela sua eleição. Ele também chamou a atenção para as recentes posições da Unesco sobre Jerusalém e comentou as relações passadas da organização com o Crif.

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Extraído da carta dirigida à Audrey Azoulay:

[…] Em várias ocasiões, fomos levados a condenar resoluções aprovadas pelo Comitê Executivo da Unesco, desafiando e negando a história judaica de Jerusalém, provocando a indignação de judeus e cristãos em conjunto.

Na verdade, Jerusalém, a Caverna dos Patriarcas em Hebron e a Tumba de Raquel, em Belém, tem a sua ligação histórica com o judaísmo e o cristianismo, muito antes do nascimento do Islã, e negar esta realidade é um insulto insuportável para os crentes dessas religiões e ofende a verdade histórica.

Nos últimos anos, e sob pressão do grupo árabe, a Unesco abandonou sua vocação original para se tornar um verdadeiro tribunal anti-Israel. Você terá a difícil tarefa de repor a instituição em sua missão fundamental de cultura e educação.

Sua tarefa não será fácil, mas sabemos que sua história pessoal, experiência na administração pública e no Ministério da Cultura irão prepará-la para realizá-lo. […)


ANTISSEMITISMO TAMBÉM DENTRO DA UNESCO – POR MILTON BLAY, DE PARIS

301_fique_1_3Nunca imaginei que esse dia chegaria, o de aplaudir uma tomada de posição de Bibi Netanyahu e muito menos de Donald Trump. Mas o dia chegou. Os lideres dos Estados Unidos e Israel anunciaram a retirada de seus países da Unesco, o órgão das Nações Unidas para a educação e cultura, com sede aqui em Paris, depois da adoção de duas resoluções negacionistas, em defesa dos interesses palestinos.

A Unesco simplesmente apagou do mapa de Jerusalém oriental e do centro histórico de Hebron a presença judaica. Como se o Muro das Lamentações e o Túmulo dos Patriarcas não passassem de mera ficção. O que é historicamente falso, religiosamente absurdo e politicamente estúpido; nas palavras do editorial do Le Monde.

Aceitar a Autoridade Palestina como membro da Unesco, em 2011, foi uma decisão compreensível. Mas querer impor uma mentira histórica sobre a presença de uma só população – a palestina – naquelas terras é um absurdo chamado negacionismo, contrário à procura da paz.

Em uma viagem à Berlim, visitei o antigo cemitério judaico, na verdade um terreno baldio com um único túmulo, construído após o final da Segunda Guerra, para lembrar que ali houve uma presença judaica. Ao destruir totalmente as lápides, os nazistas quiseram varrer a memória dos judeus, como se eles jamais tivessem estado ali.

As resoluções criminosas da Unesco são exatamente isso, a negação da história.

Mas elas não são surpreendentes. Há muito que o órgão da ONU se tornou refém do lobby árabe radical. Em 2009, esse lobby quase teve ganho de causa. O candidato egípcio (aliás apoiado pelo Brasil) só perdeu na reta final para a escolha do diretor-geral graças a uma aliança liderada pelos grandes países. Ele tinha sido ministro da “Cultura” de seu país, quando mandou queimar em praça pública livros escritos por autores judeus e cristãos. Assim, a búlgara Irina Bokova tornou-se diretora-geral. Mas deixou o lobby em questão de mãos livres. No momento do voto pelo reconhecimento da Palestina como membro permanente da Unesco, ela nem sequer estava presente.

Recentemente, a Unesco passou por mais um período de escolha de sua diretoria. Uma vez mais os árabes radicais pressionaram, mas não encontraram o candidato perfeito. O mais bem posicionado foi um catariano, que não conseguiu o apoio da Arábia Saudita, países do Golfo e Egito, que estão em conflito com o Catar.

A eleita foi a candidata francesa, Audrey Azoulay, ex-ministra da Cultura, considerada quase que unanimemente a mais bem preparada para o cargo. Durante a eleição ela foi bombardeada. Os países árabes disseram abertamente que ela não podia concorrer porque era judia.

Venceu a cultura, perdeu o antissemitismo. Amanhã, talvez, a presença judaica no centro histórico de Hebron e Jerusalém oriental volte a ser reconhecida.


Milton Blay, jornalista ganhador do Premio Esso de Reportagem, foi chefe da Redação do Serviço Brasileiro da Rádio França Internacional, depois de ter trabalho em diversos jornais e revistas brasileiros. Vive em Paris.

Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.

Fonte: Rua Judaica

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