MITOS SOBRE EMOÇÕES – POR AKIM ROHULA NETO

313_saude_2_1Temos vários mitos sobre as emoções que prejudicam nossa relação com elas. Um deles é o mito que diz que devemos ter apenas uma emoção de cada vez. Sentir duas ou mais emoções ao mesmo tempo (inclusive emoções contraditórias) é normal.


Você já pensou consigo: eu não deveria estar sentindo isso? Ou talvez: mas como que eu posso estar triste e alegre ao mesmo tempo? Todos já passamos por situações assim em nossas vidas e, costumeiramente, achamos isso muito estranho, mas será mesmo ou será apenas algo normal que não sabemos sobre a natureza de nossas emoções?

Temos vários mitos sobre as emoções que prejudicam nossa relação com elas. Um deles é o mito que diz que devemos ter apenas uma emoção de cada vez. Sentir duas ou mais emoções ao mesmo tempo (inclusive emoções contraditórias) é normal.

As emoções surgem como reações a estímulos internos ou externos. Ocorre que nem sempre estes estímulos possuem apenas um significado (o que causaria apenas uma emoção, pensando de forma simplificada). Por este motivo é possível sentir várias emoções ao mesmo tempo em relação ao mesmo
estímulo.

Por exemplo, a morte de alguém pode gerar um sentimento de tristeza. Ao mesmo tempo esta pessoa lhe deixa uma herança com a qual você poderá pagar uma pesada dívida e, com isso, você sente alívio e alegria. Porém esta sensação de alívio o faz sentir-se culpado, afinal de contas uma pessoa querida morreu e você “deveria estar triste (e apenas triste)”. Este exemplo foi tomado de uma situação real e ocorre mais do que pensamos.

Outro exemplo de mito sobre as emoções é que elas são incontroláveis e podem “assumir” o controle de nossas ações. Ora, em primeiro lugar, toda emoção possui começo, meio e fim, ou seja, não ficamos sentindo a mesma emoção indefinidamente. Então, neste sentido, apenas esperar uma emoção passar já é o suficiente para ela não “assumir” o controle.

Outro fator é que a resposta emocional é distinta da emoção. Em outras palavras: aquilo que sinto é diferente daquilo que faço a partir dessa emoção. Quantas vezes você já sentiu raiva e apenas “engoliu em seco”? As emoções nos impelem à ação, porém a ação, em si, é refletida pela pessoa. O que ocorre é que muitas pessoas não assumem a responsabilidade pela tomada de decisão e criam o mito de que “a emoção decidiu por mim”.

Um último mito que vale a pena considerar é que a emoção é o oposto da razão.

Evolutivamente falando, a emoção precede o surgimento da “razão” no cérebro. O surgimento da racionalidade está, na verdade baseado nas emoções. É justamente na avaliação daquilo que se fez que o ser passa a refletir. Mais tarde a humanidade evolui a ponto de refletir sobre o que se pode vir a fazer, nesse sentido, antecipando movimentos. Porém, toda pessoa que o faz, sente algo em relação à este movimento antecipado.

Muitas vezes, por exemplo, as pessoas não fazem mudanças em suas vidas, não por não saber o que fazer, mas por sentir medo de fazer isso. Ora, ninguém sabe o que o futuro nos traz, porém, mesmo assim, ao imaginar o cenário futuro podemos sentir algo com ele. Aqui não há uma contradição entre a emoção e a razão, pelo contrário: ambas se fundem para dar uma experiência completa, afinal, o pensar serve à ação, mesmo que esta seja apenas de cunho intelectual.

Emoções são, portanto, uma forma estruturada a partir da evolução natural das espécies e da organização cultural e social de nosso corpo nos alertar sobre como estamos vivendo determinada situação. Ao aprendermos a ler estas mensagens, vemos que as emoções nos servem se as levarmos à sério, mesmo que sua mensagem nos pareça estranha num primeiro momento.


AKIM ROHULA NETO – Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Psicologia Corporal pelo Instituto Reichiano Psicologia Clínica e Centro de Estudos e em Programação Neurolingüística. Saiba mais.

akimrohula@gmail.com

20
20