TUDO É QUESTÃO DE FOCO – RABINO KALMAN PACKOUZ
Com um pouquinho de foco você pode elevar o mundano aos mais altos níveis de espiritualidade, fazendo a vontade do Criador!
Frequentemente as pessoas me perguntam: “Onde está a espiritualidade no Judaísmo?” As pessoas querem transcender o mundano, conectar-se a D’us, serem transportadas através de um sentimento de êxtase espiritual. Alguns pulam para a Cabalá, mas Cabalá é a “cobertura do bolo”. A cobertura do bolo, que é seu toque final, deve ser consumida em conjunto com o bolo, pois sozinha não sacia a fome e pode deixar doente quem a come demais. Então, onde está a espiritualidade no Judaísmo? A espiritualidade ESTÁ no mundano. O truque é elevar o mundano e, ao fazer isto, nos elevarmos junto.
Eu vivia em Israel. Certa vez, andando num ônibus da Égued (este é o nome da companhia de ônibus de Israel), percebi como o motorista era muito irritável e como reclamava com cada um que subia no ônibus. Imaginei que ele via cada passageiro como um intruso: se não houvesse passageiros, ele poderia continuar sua rota, dirigindo em paz. Resolvi, então, mudar sua perspectiva.
“Você sabe”, eu disse para o motorista, “você está fazendo uma coisa maravilhosa!” “O que você quer dizer?”, ele falou. “Você está ajudando um monte de pessoas: você ajuda uma mulher a levar ser filho ao médico, um homem a visitar seu velho pai, o soldado a voltar à sua base, o garoto a ir para a escola … Você tem um maravilhoso emprego: apenas dirigindo o ônibus, você consegue fazer tantos atos de bondade!” “Poxa”, o motorista disse, “nunca encarei a coisa desta maneira, que estivesse sendo tão útil. Você tem toda a razão!”
E então expliquei ao motorista que em nossa Torá (em Israel, a maioria dos motoristas de ônibus são judeus) D’us nos ordena a “Amar o próximo como a nós mesmos”, a “Imitar os comportamentos do Todo-Poderoso”, a “Fazer atos de bondade”. “Você já está cumprindo todas estas mitsvót através de suas ações. Imagine a satisfação e o prazer que terá se focar no fato de que está cumprindo a vontade de D’us! Com um pouquinho de foco você pode elevar o mundano aos mais altos níveis de espiritualidade, fazendo a vontade do Criador!” E o motorista respondeu: “Você tem toda a razão! Obrigado!”
AS BÊNÇÃOS SOBRE OS ALIMENTOS
As bênçãos nos conectam com D’us. Elas transformam o mundano em algo sublime. Tudo que necessitamos é focalizar e não deixar a rotina tomar conta.
Muitos judeus estão familiarizados com a bênção sobre o pão: “… Hamotsi Lehem Min Haarets”. É uma surpresa para muitos o fato de que existem bênçãos para antes e depois de comermos qualquer tipo de alimento. Existe uma bênção sobre as frutas que nascem na terra (melancia e morangos, por exemplo), nas árvores (mexerica, por exemplo), para produtos feitos com farinha, como bolos e massas, e uma bênção genérica: “… Shehacól Nihié Bidvaró” (que todas as coisas sejam conforme Suas palavras). Por que os judeus fazem bênçãos antes e depois de cada tipo de comida?
Num primeiro nível, a bênção antes da comida é um pedido de permissão ao Todo-Poderoso para comermos a tal comida e a bênção posterior é para agradecermos pelo alimento. Creio que é fácil exemplificar isto: em minha casa, se um de meus filhos não diz “por favor” quando pede que lhe passem alguma comida na mesa, ele é frequentemente ignorado até que se lembre de suas boas maneiras. Se um senhor dá um pirulito a meu filho dentro da sinagoga, faço questão que meu filho diga “Obrigado !” ao homem. Num nível humano básico, percebemos a importância das boas maneiras, de demonstrar respeito e agradecimento. Isto também se aplica ao nível espiritual com relação ao nosso relacionamento com D’us.
Num segundo nível, a bênção por si só eleva a espiritualidade do ato de comer. Ao invés de responder ao instinto animalesco de comer com uma resposta animalesca de “devorar” a comida, paramos um instante para dirigir nossa atenção para o fato de que existe um D’us que criou este mundo e tudo que há nele para o nosso deleite. A bênção por si só nos ensina isto a cada vez que a pronunciamos (se prestarmos atenção ao que estamos falando). Toda bênção se inicia com as palavras “Abençoado seja nosso D’us”. Em Hebraico, cada nome pelo qual D’us é conhecido transmite um significado diferente. Devemos prestar atenção e entender o significado de cada nome de D’us quando fizermos uma bênção. O primeiro nome, A-do-n’i, significa “Ele existiu, existe e sempre existirá”. O segundo nome, E-lo-h’i-nu, significa que “Ele é o Mestre de toda a Criação e o Mestre de todas as possibilidades”.
Toda vez que a pessoa faz esta bênção, ela está recordando a si mesma que existe um D’us que criou o mundo, um D’us que nos ama e Que tem o poder de nos ajudar. As bênçãos nos conectam com D’us. Elas transformam o mundano em algo sublime. Tudo que necessitamos é focalizar e não deixar a rotina tomar conta.
Se deseja descobrir mais sobre as bênçãos, eis um livro muito interessante: “Guide to Blessings”, escrito pelo Rabino Naftally Hoffner. Está disponível em http://www.artscroll.com/Books/u-guip.html.
RABINO KALMAN PACKOUZ – É da Aish Há Torá e o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.
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Pensamento: “Melhor os tombos e as dores do crescimento do que o conforto do vazio e da nulidade!” – Rabino Shaul Rosenblatt (Aish Hatorah)