UM BRILHO DE SANTIDADE – DR. TALI LOEWENTHAL

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Santidade interessa às atividades comuns: trabalho diário, como nos relacionarmos com as outras pessoas, nossa maneira de comer e beber. Em cada detalhe da vida, existe potencialmente um brilho de sagrado.


Historiadores têm estado intrigados há muito tempo pela questão da existência continuada do Povo Judeu. Como é possível que eles tenham sobrevivido, apesar de tantos fatores adversos como exclusão da sociedade, expulsão e perseguição, atingindo o seu auge no Holocausto e, mesmo quando eles têm alguma liberdade, o problema adicional da assimilação? Qual é esta qualidade distinta do judeu e do Judaísmo?

Uma pista está na leitura da Torá, Kedoshim [1], como explicado pelo Lubavitcher Rebbe.

A leitura começa com a instrução Divina ao Povo Judeu: “Sejam santos! Porque Eu, o Senhor teu D’us, Sou Santo!”.

O texto da Torá continua com uma série de leis judaicas básicas. As primeiras duas destas são os mandamentos para que reverenciemos nossa mãe e pai (nesta ordem) e respeitemos o Shabat.

Nós temos, assim, três conceitos: santidade, respeito aos pais e o Shabat. De acordo com o Rebbe, estas três idéias nos dizem algo sobre o propósito e a natureza fundamentais do Povo Judeu.

Ao longo das gerações, tem sido muito discutido por nossos Sábios o conceito de santidade. Uma de suas conclusões é a de que a santidade não é expressa meramente nos aspectos “religiosos” da vida, tais como a reza. Santidade interessa às atividades comuns: trabalho diário, como nos relacionarmos com as outras pessoas, nossa maneira de comer e beber [2]. Em cada detalhe da vida, existe potencialmente um brilho de sagrado.

Como pode o judeu conseguir isto? Porque dentro dele ou dela existe uma Alma Divina, uma faísca de pura santidade. Durante a maior parte das nossas vidas isto pode estar profundamente escondido. Mesmo assim, ela pode ser repentinamente expressa em momentos de inspiração espiritual. Além disso, existe o potencial de que esta qualidade de santidade seja revelada nos detalhes comuns da vida.

Talvez relativamente poucos indivíduos conseguem isto de uma forma genuína. Apesar de tudo, eles servem como um exemplo aos outros daquilo o que significa ser um judeu.

Aqui nós chegamos à segunda lei: o conceito de reverenciar os pais. Isto apresenta a idéia de que a santidade e a espiritualidade não devem ser reservadas para os poucos judeus que as conquistam. Eles têm o dever de transmiti-las aos outros, começando com seus próprios filhos. Nesta tarefa, o papel da mãe é fundamental. Ela é a primeira a ajudar seus filhos pequenos a perceber que cada detalhe da vida é importante e abençoado por D’us.

Isto nos leva à terceira lei: o Shabat. Toda semana, existe um dia inteiro quando o mundano se torna sagrado. Comendo juntos em família, acolhendo convidados, relaxando. Ele tem toda a iluminação da santidade do Divino, além do padrão diário comum da vida nos dias de semana.

Nós assim vemos os três componentes integrais da consciência especial do judeu através das gerações: a busca pela santidade na vida de todo dia; o dever de comunicar isto aos nossos filhos e aos outros; e o maravilhoso presente do Shabat que expressa este objetivo são completamente [3].

Talvez esta qualidade especial, encapsulada no início da Parashá, seja o segredo interior de nosso ser, que tem nos ajudado a sobreviver ao longo dos milênios. Além de nossa habilidade nos negócios, ciência, medicina, tecnologia, literatura, música e filosofia, esta é a nossa verdadeira contribuição para a humanidade e para o mundo.

Referências:

1. Vayikra caps. 19-20.

2. Ver o comentário de Nachmânides sobre Vayikra 19:2.

3. Livremente baseado em Likkutei Sichot vol. 1 pp. 254-6.


DR. TALI LOEWENTHAL – Diretor do Chabad Research Unit, Londres

Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg