GENTÍSSIMA – DEBI ARONIS, ESCRITORA
Casada, mãe de três filhos, a pedagoga Déborah Dziegiecki Aronis, mais conhecida como Debi Aronis, é autora de vários livros infantis sobre temas judaicos. Dentre outros trabalhos importantes, elaborou o roteiro, dirigiu e produziu audiobooks sobre personagens de destaque da história judaica, escreveu diversos roteiros teatrais infantis e produziu o show “Tributo a Naomi Shemer”, destacada cantora israelense. Recentemente lançou, pela editora Ex-Libris, o livro “Na minha Pele”, o primeiro para o público adulto. E é sobre ele que Debi nos fala na entrevista abaixo.
P – Como surgiu a ideia do livro?
R – Quando eu o conheci e soube que ele era um sobrevivente do Holocausto, e que ele nunca havia contado para ninguém sua história, fiquei surpresa. Disse a ele que eu gostaria muito de escrever sobre a sua vida. A princípio, ele relutou. Achava que tudo o que havia para ser contado sobre o Holocausto já tinha sido escrito em outros livros, filmes etc. e que era muito penoso para ele recordar aquela época. O que o convenceu foi saber que eu pretendia enfatizar a forma como ele viveu o resto da vida; um verdadeiro exemplo de fé e de superação. E este é o maior objetivo deste livro: inspirar as pessoas a acreditar e confiar em Deus para superar suas próprias dificuldades. Por mais terríveis que elas sejam.
P – Como foi escrever este livro?
R – Foi um processo longo e difícil, que se estendeu por três anos. O sr. Samuel tem um marcapasso cardíaco e foi preciso muita delicadeza e sensibilidade para deixar que suas memórias fluíssem suavemente. Nós nos encontrávamos toda semana em sua casa, no bairro do Bom Retiro. Muitas vezes as entrevistas aconteciam no Jardim da Luz e a tranquilidade do ambiente contribuía para que as lembranças dele aflorassem. Mas o projeto ficou paralisado por um ano, depois que o sr. Samuel sofreu um atropelamento.
P – Ele mudou algo em você?
R – Não é possível escrever um livro como este sem que algo não se modifique dentro de nós. Posso dizer que conhecer o sr. Samuel Grunspan e ter tido o privilégio de ver a vida através dos seus olhos foi uma experiência edificante. A determinação, o humor refinado, a gentileza, a humildade e sobretudo a fé me cativaram. Me considero abençoada por ter privado da companhia e ter recebido tanta atenção de um ser humano como o sr. Samuel.
P – Quais livros você já publicou? Conte um pouco sobre eles.
R – Meus trabalhos anteriores foram direcionados ao público infantil. Surgiram da junção das minhas memórias de infância, quando passava horas ouvindo historinhas da coleção Disquinho em minha vitrolinha cor de laranja, com o desejo de transmitir as histórias das festas judaicas de uma forma divertida e vibrante. Nessa linha surgiram: A História de Pessach, A História de Purim, A História de Chanuká, A História de Yom Kippur. Um pouco mais tarde foi a vez dos audiobooks: Rambam, Rabi Akiva e Rashi, que contam a história de vida desses três sábios que viveram em épocas e lugares tão diferentes mas que continuam influenciando o povo judeu através das gerações. Todos com trilha sonora original composta por Ruben Feffer e com a participação de grandes artistas como Viviane Pasmanter, Caco Ciocler, Cláudio Goldman e Fortuna.
P – Como foi escrever um livro para adultos, tendo a experiência de escrever livros para as crianças?
R – Escrever para crianças não é nem um pouco mais fácil que escrever para adultos, ao contrário do que possa parecer. É preciso lembrar que a boa literatura infantil não é o mesmo que literatura infantilizada. A criança quando gosta de um livro (ou filme ou música) quer ler e reler (ou ver ou ouvir) repetidamente. Sinal de que sua imaginação e emoção foi tocada e ela foi transportada para dentro da história. Nesse sentido, o trabalho é o mesmo. já que todo autor quer envolver o leitor em sua história. A diferença, neste caso, foi o grau de comprometimento, paciência e disponibilidade dedicado a outra pessoa – o personagem principal desta narrativa – e não apenas ao papel.
O LIVRO
O livro “Na minha pele” conta a história de Samuel Grunspan, sobrevivente do Holocausto. Samuel nasceu na Polônia e chegou ao Brasil aos 18 anos, após passar cinco anos em campos de concentração e trabalho nazistas. Aqui, casou-se com Dona Ida, brasileira nascida nas colônias judaicas criadas pelo Barão Hirsch no Sul do país, e construiu sua família, trabalhando como peleteiro.
Em suas memórias, narradas a Debi Aronis após quase sete décadas de silêncio, Samuel Grunspan fala sobre a invasão nazista na Polônia, a separação de sua família, que terminaria exterminada, e também sobre a reconstrução de sua vida, a milhares de quilômetros da terra natal.
“É uma história de um garoto normal, que poderia ter sido eu e você. E por isso mesmo é única e extraordinária”, conta Debi Aronis.