YOM KIPUR – RABINO KALMAN PACKOUZ

Rabino Kalman Pa

Yom Kipur, o Dia do Perdão, é o aniversário do dia em que Moshe trouxe as segundas Tábuas da Lei do Monte Sinai (as primeiras foram quebradas quando Moshe viu o povo idolatrando um bezerro de ouro). Isto significou que o Todo-Poderoso havia perdoado o Povo de Israel por terem feito idolatria. Dali em diante, este dia foi decretado como o dia para o perdão dos nossos erros.


Espero que vocês tenham tido um ótimo e significativo Rosh Hashaná. Em Rosh Hashaná somos julgados e inscritos, esperançosamente, no Livro da Vida. Em Yom Kipur este julgamento é selado. Nestes dias intermediários devemos examinar nossos atos e corrigir os erros que tenhamos feito. Precisamos nos colocar em rotas que nos levem a utilizar melhor o nosso tempo, para aperfeiçoarmos a nós mesmos e ao mundo como um todo!

Yom Kipur começa na sexta-feira ao entardecer, 3 de outubro (Yzkor, a prece em memória dos falecidos, é recitada no Shabat, dia 4). Um lembrete: todos os adultos (rapazes acima de 13 anos e moças acima de 12 anos) precisam jejuar (nada de comida nem bebidas) em Yom Kipur, mesmo que este ano ele caia no Shabat.

Intuitivamente, cada um de nós sabe que tem uma alma – aquela parte de nós que contém nossa consciência e a vontade de fazer a coisa certa. A Torá relata: “D’us soprou em suas narinas (as de Adão, o primeiro ser humano) a alma da vida (Genesis 2:7)”. Ao percebermos que nossa essência é espiritual – e eterna – passaremos a enxergar nossas vidas sob um prisma totalmente diferente. É verdade: precisamos nos preocupar com o nosso corpo e a nossa saúde e fazer todos os esforços possíveis para mantê-lo e preservá-lo, mas a parte mais importante é a alma, pois é o nosso verdadeiro eu. Yom Kipur trata da alma.

Durante o transcorrer do ano, trazemos mérito para a alma ao praticarmos bons atos ou a ‘sujamos’ através de atitudes e comportamentos errôneos. As 613 mitsvót (Mandamentos) da Torá estão aí para nos ajudar a desenvolver nossas almas e aperfeiçoá-las. Desde o início do mês hebreu de Elul até Yom Kipur (40 dias) nós refletimos, revisamos o ano e nossas interações com o Todo-Poderoso, bem como com nossos amigos e familiares. Trabalhamos para reparar aquilo que precisa de conserto e o Yom Kipur é a culminação deste processo.

A Torá nos deu Mandamentos (mitsvót) especiais para Yom Kipur para nos ajudar a enxergar mais claramente que somos almas (e não apenas corpos) e para nos ajudar a relacionarmo-nos com a vida num nível mais espiritual. A Torá declara: “Este é um decreto eterno: no sétimo mês (contado a partir do mês hebreu de Nissan), no décimo dia, vocês devem se afligir e nenhum tipo de trabalho deve ser realizado. Perante o Todo-Poderoso vocês serão purificados (Levíticus 16:29-30)” .

Estas ‘aflições’ são maneiras para minimizarmos o controle do corpo sobre nossas vidas. E quais são? Existem cinco ‘aflições’ em Yom Kipur que estarão vigentes desde as 17h39min de sexta-feira, 13 de setembro, até as 18h39min de sábado, dia 9 (horário de S. Paulo). Somos proibidos de: 1) comer e beber, 2) usar calçados de couro, 3) relacionamento conjugal, 4) passar cosméticos, cremes, desodorantes, etc, no corpo e 5) banhar-se por prazer.

Ao diminuir os prazeres físicos, damos proeminência à alma. A vida é uma constante batalha entre o Yétser Hatóv (o desejo de fazer as coisas certas, que é identificado com a alma) e o Yétser HaRá (a vontade de seguir nossos desejos, que corresponde ao corpo). Nosso desafio na vida é ‘sincronizar’ nosso corpo com o Yétser Hatóv. Uma analogia é feita no Talmud entre um cavalo (o corpo) e um cavaleiro (a alma). É sempre melhor o cavaleiro estar em cima do cavalo!

A tradição Judaica ensina que em Yom Kipur o Yétser HaRá, o desejo de seguir os próprios instintos, está neutralizado. Se seguirmos nossos desejos ou instintos neste dia será apenas por força do hábito, pela rotina. Em Yom Kipur podemos mudar nossos hábitos! Eis aqui três perguntas para refletirmos em Yom Kipur, para nos ajudar a desenvolver um plano de vida:

1. Estou comendo para viver ou vivendo para comer?

2. Se estou comendo para viver, então quais são as minhas metas para a vida?

3. O que gostaríamos que escrevessem em nosso obituário ou em nossa lápide?

Yom Kipur, o Dia do Perdão, é o aniversário do dia em que Moshe trouxe as segundas Tábuas da Lei do Monte Sinai (as primeiras foram quebradas quando Moshe viu o povo idolatrando um bezerro de ouro). Isto significou que o Todo-Poderoso havia perdoado o Povo de Israel por terem feito idolatria. Dali em diante, este dia foi decretado como o dia para o perdão dos nossos erros. Entretanto, isto se refere às transgressões entre o homem e D’us. Transgressões entre o homem e seu semelhante requerem que se corrija o erro e se peça perdão pelo prejuízo acarretado. Se alguém pegou algo de outra pessoa, não é suficiente arrepender-se e pedir desculpas a D’us; primeiro é necessário devolver o que foi pego e pedir desculpas à pessoa lesada, e somente então pedir desculpas a D’us por ter ofendido o nosso semelhante.

Durante as orações falamos o Vidúi, uma confissão, e Al Hét, uma lista de transgressões entre o homem e D’us e o homem e seu semelhante. É interessante notar duas coisas: primeiro, as transgressões estão em ordem alfabética (em hebraico). Isto torna a lista bastante abrangente, além de permitir a inclusão de qualquer transgressão que se queira na letra apropriada.

Em segundo, o Vidúi e Al Hét estão no plural. Isto nos ensina que somos um povo ‘entrelaçado’, responsáveis uns pelos outros. Mesmo se não cometemos uma determinada ofensa, carregamos certa responsabilidade por aqueles que a fizeram – especialmente se pudéssemos ter evitado a tal transgressão.

O Rambam, o conhecido rabino espanhol Maimônides (1135-1204), que viveu na Espanha e no Egito, ensinou que a vida de cada indivíduo é constantemente analisada sobre uma balança de pratos – como aquelas balanças antigas, onde a mercadoria era colocada em um prato e os pesos no outro – e que cada um de nós deve pensar antes de tomar toda e qualquer atitude, pois uma transgressão ou uma mitsvá (boa ação) podem inclinar a balança para o lado positivo ou o contrário.

Mais ainda explica o Rambam: “Cada comunidade, cada país e o próprio mundo são julgados desta maneira”. Portanto, a pessoa não deve pensar que está afetando apenas a sua ‘própria balança’, mas sim a humanidade inteira como um todo.

Em Yom Kipur nós lemos o Livro do Profeta Yoná (Jonas). Sua mensagem é que D’us aceita prontamente o arrependimento de qualquer um que deseje fazer Teshuvá, voltar ao Todo-Poderoso e ao caminho da Torá, da mesma forma que ele o fez com a população de Ninvê, a cidade mencionada no livro.

A propósito, se quiser se manter focado no fato de que você é uma alma e não apenas um corpo, treine-se a dizer: “Meu corpo está com fome” e não “Eu estou com fome”!

Para mais informações sobre Yom Kipur, clique em nosso site: http://www.aish.com/holidays/the_high_holidays/. Assista também ao nosso emocionante mini-filme (em inglês) sobre Yom Kipur : http://www.aish.com/h/hh/video/Yom-Kippur-Coming-Clean.html. Vale a pena!


Uma Sugestão Antes de Yom Kipur

O Rabino Moshe Meir Weiss escreveu um belo e encantador livro sobre as Festividades de Rosh Hashaná e Yom Kipur intitulado “On The Yamim Noraim” (disponível em http://www.judaicapress.com/Rabbi-Moshe-Meir-Weiss-on-the-Yamim-Noraim.html). Nele ele traz 40 dicas para pleitearmos um ano maravilhoso. Gostaria de compartilhar com vocês duas delas:

“Evitemos o nervosismo como a um incêndio. O Talmud relata as graves consequências para quem mantêm este hábito. Tenhamos em mente que a raiva é a maneira pela qual os tolos lidam com os problemas – como ensinou o rei Salomão (Eclesiastes 7:9): ‘Não seja rápido em enervar-se, pois a raiva repousa no colo dos tolos’”.

“Ninguém quer ser amigo de uma pessoa nervosa. Pior ainda, o cônjuge desta pessoa leva uma existência miserável e não enxerga a luz no final deste deplorável túnel. E estejamos especialmente vigilantes em não ficarmos bravos na véspera de Shabat (dica do dia 16 de Elul)”.

Por outro lado (dica do dia 6 de Tishrei): “Aprendamos a cumprimentar os outros genuinamente. Nós nos tornaremos pessoas queridas, pois todos gostam de um elogio. É uma maneira acessível e barata de incentivar, encorajar e fazer aflorar o que há de melhor nas pessoas. Há muitas maneiras de fazer isto: pessoalmente, ao telefone, numa carta, via email. Utilizemos todas elas. Exercitemos esta arte, especialmente com nossos pais, cônjuges e filhos”.

“Utilizemos a crítica de forma moderada, especialmente em casa. Críticas constantes são uma das vias mais frequentes para um ambiente infeliz. Tenhamos em mente que a crítica surge naturalmente quando sentimos que algo está errado ou faltando, mas elogios não são uma resposta automática. Precisamos nos treinar para conseguir expressá-los sabendo que são maravilhosos lubrificantes para todos os nossos relacionamentos”.

Em nome de todos do Aish HaTorá, gostaria de desejar a você e toda sua família um belo e doce Ano Novo, repleto de bênçãos Divinas de saúde, alegria e sucesso. Que o seu Yom Kipur seja significativo, importante e inspirador, e que possamos escutar apenas boas notícias!


Pensamento: “Os Dez Dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur são um como um ‘feirão’ para a Teshuvá. Durante estes dias qualquer Teshuvá, independente de sua qualidade, é arrebatada pelo Todo-Poderoso. Nossa única função é ter alguma ‘mercadoria’ a oferecer!” – Rebe Ytschak Kalish de Vorka (Polônia 1779-1848)]


RABINO KALMAN PACKOUZ – Do Aish Hatorá, é o criador do Meór Hashabat, boletim semanal com prédicas. Saiba mais.


NOTA:- Desejando contribuir para o Meor Hashabat acesse o www.aishdonate.com – Email – meor18@hotmail.com

Está sendo distribuído gratuitamente, em muitas sinagogas, o livro “UMA OFERTA QUE NÃO DÁ PARA RECUSAR”, de autoria do Rabino Yissocher Frand (EUA). É uma grande fonte de inspiração para o ano que se inicia. Peça o seu pelo e-mail meor18@hotmail.com e receba-o via email.