COMO ENSINAR A PENSAR? – POR Arnaldo Niskier

AN(rosto)2012

Ainda somos francamente favoráveis ao uso dos livros, da forma impressa ou mesmo acessados por intermédio de ferramentas como a nuvem de livros, hoje um sucesso incomparável nos sistemas de ensino.


Depois de falar por mais de uma hora, para 800 professores da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, tive o prazer de debater questões por eles suscitadas. O meu tema era “A educação do futuro – a nova sala de aula”, o que por si só foi bastante instigante. Mostrei que não basta só pagar melhores salários aos professores (o que é necessário), mas é preciso reformular o conteúdo e as estruturas de ensino, tomando por base um novo curso de Pedagogia. Fui aplaudido quando mostrei o atual estágio dos cursos de formação de professores e o quanto estão eles dissociados do que se entende por uma educação moderna.

Fala-se muito no sucesso da digitalização, mas sabe-se que, dos professores que dispõem de computadores, somente 6% os utilizam para aperfeiçoar os conteúdos. A grande maioria, como se vê, continua no velho método de cuspe e giz, que já tem mais de um século de uso no Brasil. Já não chega?

Ao falar, na apresentação da palestra, o reitor Benedito Guimarães Aguiar Neto, com muito entusiasmo, tocou na necessidade de a escola ensinar o aluno a pensar. Depois, na hora dos debates, um professor (Paulo Pacheco) perguntou: “Mas, afinal, o que é pensar?” Certamente, não é decorar conceitos e depois expeli-los nas provas. É exercer a ação de refletir, fazendo uso da própria inteligência. É procurar um algo mais nas matérias que são ensinadas, sem se valer das verdades por vezes precárias do que se encontra no Google. Ou nas horrendas apostilas que são vendidas em muitas universidades, fazendo a fortuna da xerox.

Ainda somos francamente favoráveis ao uso dos livros, da forma impressa ou mesmo acessados por intermédio de ferramentas como a nuvem de livros, hoje um sucesso incomparável nos sistemas de ensino. A apostila, depois de usada, é jogada fora, enquanto o livro permanece para toda a vida, como fonte de conhecimento.

Outra pergunta, de João Francisco Aguiar, foi sobre o seu neto, de dois anos: “Ele tem um tablete. Passa os dedos na tela e busca as músicas, com as quais vibra. Fico assustado com o seu futuro. Como firmar valores e educar as crianças?” É a missão conjunta de pais e professores. Não devemos ser contrários às máquinas, mas utilizá-las em tempo certo, na ocasião devida. É isso que não está sendo feito, daí a desordem existente, com exageros que, no futuro, serão difíceis de ser corrigidos.

A questão suscitada por Edson Barros foi muito interessante: “Estamos pilotando um avião enquanto aprendemos aerodinâmica.” Pergunta ele: “Como o professor pode se preparar enquanto parece que está sobrevivendo na atual dinâmica do ensino brasileiro?” Ele tem toda razão, mas é preciso encontrar tempo para conciliar as missões envolvidas. O ensino da aerodinâmica, para usar uma figura de retórica, deve ser anterior à entrada no avião. E precisa ser muito bem feita, para evitar desastres indesejáveis. Por fim, me perguntaram se aprovo a volta do Latim às nossas escolas. Pergunta de Antônio Basile. A minha resposta é francamente favorável. Com o latim aprenderíamos a etimologia das palavras da língua portuguesa.


 ARNALDO NISKIER – Membro da Academia Brasileira de Letras, presidente do CIEE/RJ e formado em Matemática e Pedagogia. Saiba mais.

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