A ERA DO NARCISISMO – POR SILVIA MALAMUD
Imagine uma civilização inteira flagrada numa única foto que quando revelada mostraria infinitos selfies humanos. Sim, exatamente o que você esta pensando, como se num dado momento alguém resolvesse tirar uma única foto da humanidade inteira e absolutamente todos sairiam em tais fotos como essas que a gente tem visto por ai de nome selfie, que é quando a pessoa pousa para si mesma ainda desejando sair bem na foto!
Estamos na era do narcisismo, lugar onde todos os desejos pessoais tem urgência para serem conquistados a qualquer preço. Existe pressa em satisfazer a si mesmo e para que isso ocorra, na maioria das vezes o outro acaba servindo apenas como uma ponte para que tal proposito aconteça. A tônica dessa nova era é a do vou me dar bem a qualquer custo. Neste pacote cabem vestimentas perfeitas adequadas às demanda dos intentos e uma cegueira crônica a qualquer coisa que possa significar vida além disso.
Claro que as pessoas nessa ordem de funcionamento escondem de si mesmas as suas mais profundas angustias, como por exemplo, os seus desejos não são satisfeitos, bem como o sofrimento que as movem para agirem de tal modo.
Para que talvez você possa se identificar neste padrão, ou mesmo identificar pessoas que te cercam, observe aqueles que são extremamente competitivos ou mesmo os que aparentemente não competem , mas que fazem isso parecer uma espécie de diferença especial. Observe também como na nossa sociedade, por mais benevolente que a pessoa possa parecer, se acaso nesses intentos aparece um ego narcísico que apenas visa se reafirmar. Veja se ele acaba transparecendo no meio dos atos de suposta bondade. Fazer um serviço e deixar fluir ou mesmo estar num fluxo criativo de algo é estar num lugar emocional bastante diferente do caráter narcisista citado.
Não é incomum narcisistas terem variações de humor importantes, se num dia estão ótimos, no mesmo dia podem se encontrar no pior dos mundos. Atentem que isto de longe não se encontra no espectro da bipolaridade, essa situação, apenas diz a respeito das angustias e das ansiedades importantes que ocorrem por conta da dificuldade permanente dos narcisistas conquistarem os desejos projetados. Para eles, estes desejos jamais serão satisfatoriamente realizados. Na super recente historia da era na qual estamos mergulhados, alcançar a tocha Olímpica é apenas uma obra de ficção impossível de ser alcançada, pois sempre quando se esta chegando perto, a mesma reaparece, porem um pouquinho mais distante. Se num dia os narcisistas sentem-se que estão no topo, é porque por alguns instantes entraram no êxtase do encantamento consigo mesmos, logo à frente, porem, costumam tropeçar em algo real ou imaginário que de algum modo os irá detonar, e mesmo que narcisisticamente ainda consigam manter o ar da vitória, dentro deles e em grande parte das vezes, a sensação emocional passa por drásticas variações. Nesse momento, afundam-se em suas próprias autoimagens desagradadas e padecem.
Para evitarem a queda livre da frágil imagem que no final das contas tem de si mesmos, travam uma luta inglória onde incessantemente tentam se resgatar por meio de conhecidos mecanismos de defesa que apenas visam a auto ostentação, no objetivo de a todo custo sustentarem as suas frágeis construções psicológicas, mais comumente conhecidas pelo nome de EGO. Por conta de todo esse sufoco, tornam-se estrategistas ao extremo e acabam não chegando muito perto de nada e mesmo quando parecem estar mais próximos e mais emocionais, apenas estão vivenciando uma variação deles mesmos que faz parte de suas estratégias. Nestas ocasiões a versão teatral da vida também encontra-se bastante desenvolvida . Sem saber, usam a distancia emocional tanto para si mesmos como para com os outros como precaução.
Nas relações pessoais, por serem frágeis, não suportam ver a vida projetada fora de si mesmos. Automaticamente invejam e querem destruir. Para não correrem nenhum risco de falência do ego, ao verem o outro existindo, mesmo que de modo inconsciente, tem a dimensão da sua não existência e portanto vão querer destruir tudo o que vai dar significado e vida ao que supostamente representa uma ameaça. Como tática, em suas artimanhas,
repetidamente incutem no outro da relação sentimentos de culpa por qualquer que seja o motivo, quer seja por ter ficado magoado, mal-humorado, irritado e por aí vai. Insidiosamente, o narcisista tentará instalar novos códigos de funcionamento cerebral nos parceiros, no obscuro intuito de que as vítimas de suas projeções gradativamente esqueçam-se de si mesmas, a ponto se esvaziarem por completo. O intuito é que eles possam permanecer na soberania, mesmo que sendo falsa e ainda por cima como sendo o Ego forte da relação. Note que quanto mais frágil, menos empático com o outro, mais difíceis de se lidar, mais endurecidos em rituais de funcionamento e menos criativos serão. Quando destrinchados, porem, o padrão fica facilmente detectado.
Na saúde emocional , portanto, o outro da relação, seja esta de que ordem for, existe, tem sentimentos, seus limites e gostos pessoais além de serem vistos, são legitimados e como consequência, devidamente respeitados.
Você já se perguntou em qual lado da moeda está?
Se acaso este artigo de algum modo lhe tocar tanto pelo viés narcisista, como por ser uma possível vitima numa uma relação deste tipo, a melhor orientação possível é a busca da ajuda terapêutica para que você possa se fortalecer.
Silvia Malamud – Especialista em Terapia Individual, Casal e Família /Sedes. Saiba mais.
Email: malamud.silvia@gmail.com .