GENTÍSSIMA: CONSULESA LUCIA BARNEA – POR GLORINHA COHEN

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“ Posso dizer que a vida de esposa de diplomata é interessante e também desafiadora. Ela nos oferece momentos extremamente enriquecedores e nos confronta com situações-limite.

Chegamos e partimos a cada tantos anos, et partir c’est toujour mourir un peu… “ .

O sorriso bonito, franco e generoso, não deixa dúvidas: com aquele quê impregnado do charme que caracteriza a mulher brasileira, a consulesa Lucia Barnea, mãe das gêmeas Lior e Ronnie, de 12 anos, e esposa do Cônsul Geral de Israel, Yoel Barnea, cativa pela simplicidade e simpatia logo à primeira vista. Talvez este seu jeito descontraído tenha a ver com a infância e adolescência passadas na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde nasceu e estão algumas de suas melhores lembranças: as caminhadas a pé que fazia com seu pai pelo Jardim Botânico e pela Urca, e os passeios pela beira-mar com os pés descalços, durante o alvorecer, quando surgia no horizonte uma bola vermelha gigantesca incandescente.

Formada pela Universidade de Tel Aviv em História e Sociologia e em Antropologia, Lucia é mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ. Chegou a trabalhar na área no Rio de Janeiro e em Israel e hoje divide o dia entre as filhas e o trabalho que exerce no departamento cultural do consulado, quer seja estabelecendo parcerias com instituições da vida cultural paulista, quer seja realizando também ações com as instituições judaicas de São Paulo, Porto Alegre e Curitiba.

Conheça, na reportagem abaixo, dada exclusivamente para este portal, um pouco mais desta mulher fascinante que, com a maestria das grandes damas, tem cativado a comunidade desde que chegou a São Paulo, em julho de 2013. Por esta e outras razões é que, através de Lucia Barnea, prestamos nossa homenagem a todas as demais mulheres no Dia Internacional da Mulher, a ser comemorado dia 8 de março.


GC – Comida preferida:

LB – A afetiva, da minha infância, da cozinha da minha mãe.

GC – Perfume preferido:

LB – Gosto de fragrâncias florais, adocicadas, com toque de ylang ylang – para o inverno.

GC – Hobby:

LB – Observar a natureza, escutar música, ler e escrever; também aprecio um bom farniente.

GC – Pratica algum esporte?

LB – Sim, no momento subo a pé as escadas do meu edifício, pulo corda, caminho e nado quando posso.

GC – Defina felicidade:

LB – Momentos de paz interior, auto-consciência e reconhecimento por tudo quanto recebi na vida.

GC – Família:

LB – A razão de tudo, fonte de inspiração, força e união.

GC – Sociedade:

LB – A essência da experiência humana.

GC – Justiça:

LB – Um dos pilares de qualquer sociedade, junto à ética e à compaixão.

GC – Pessoa ideal:

LB – É humilde e aprendeu a escutar.

GC – Lugar preferido:

LB – Onde posso pisar descalça.

GC – Você parece ser uma pessoa calma e sempre sorridente. Mas, o que a faz perder a paciência?

LB – Atendimento profissional ruim e o pensamento preguiçoso no trabalho.

GC – Experiência inesquecível:

LB – Caminhar na areia, pela beira mar, durante o alvorecer, quando surge no horizonte aquela bola vermelha gigantesca incandescente.

GC – Viagem inesquecível:

LB – À cratera de Makhtesh Ramon, no deserto do Negev, situada ao sul de Israel.

GC – Onde costuma passar as férias?

LB – Normalmente, buscamos a proximidade com a natureza durante nossas férias.

GC – Lugar do mundo preferido:

LB – Aquele onde habita minha família.

GC – Defeitos e qualidades?

LB – Sou workaholic e perfeccionista, para o bem e para o mal; não raras vezes sou perseguida por minha ansiedade.

GC – Como foi sua infância e adolescência?

LB – Aquela de uma menina de classe média da Zona Sul carioca.

GC – Onde fez seus estudos?

LB – Depois de terminar o Colégio Barilan, no RJ, me graduei em História e Sociologia e em Antropologia pela Universidade de Tel Aviv; sou mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ.

GC – Chegou a exercer a profissão?

LB – Sim, trabalhei na SMC do RJ, onde tive a oportunidade de publicar dois trabalhos inspirados na Antropologia; mais tarde, em Israel, tive a oportunidade de trabalhar na única firma israelense que então possuía um departamento interno de antropólogos/ cross-culturalists, a Amdocs. Trabalho como free lancer até hoje, ministrando workshops nessa área – de como trabalhar melhor em equipes multiculturais.

GC – Como conheceu seu marido?

LB – É uma história divertida, com duas versões – a dele e a minha -, que te contarei pessoalmente!

GC – Como é a vida de esposa de diplomata?

LB – Posso dizer que a vida de esposa de diplomata é interessante e também desafiadora. Ela nos oferece momentos extremamente enriquecedores e nos confronta com situações-limite. Chegamos e partimos a cada tantos anos, et partir c’est toujour mourir un peu…

GC – Qual foi a maior experiência que teve?

LB – Sem dúvida, a maternidade relativamente tardia; por outro lado, a perda de meu pai, z”l.

GC – Você já morou em quais países e para qual deles gostaria de voltar? Por que?

LB – Deixei o Rio de Janeiro em 1998, em direção à Costa do Marfim. Depois seguimos para Israel, lá vivemos em Jerusalém. Em 2003 nos mudamos para o Uruguai. Sempre fico curiosa pelo novo, pelo desconhecido.

GC – Você está no Brasil desde julho de 2013. Que balanço faz deste tempo?

LB – Sempre quis morar em São Paulo, por sua diversidade e oferta cultural, seu caráter de megalópole, inserida na América do Sul. Já havia me desacostumado da rotina nos grandes centros urbanos – é um grande desafio, mas uma bela experiência. A vida comunitária local é muito ativa.

GC – Até quando ficará no Brasil?

LB – Nossa idéia é ficar até 2016 ou 2017.

GC – O que o judaísmo significa pra você?

LB – Um modo de vida, grande sabedoria e tradições milenares; identificação com o povo judeu – somos um povo com um destino comum.

GC – Como vê o crescente antissemitismo no mundo e como reagir diante dele?

LB – Há muita inquietação, beligerância em diversas partes do globo. Mal comparando, é como se vivêssemos também uma nova onda das Cruzadas, por parte de determinados grupos fundamentalistas muçulmanos. Acredito que o antissemitismo e o antissionismo são expressões de um mesmo fenômeno e é necessário combater os dois. O fato de estarmos conectados até a raiz, todavia multiplica seu alcance. Vivemos momentos em que cada um de nós deve estar atento, é preciso se informar e assumir posições pró-ativas. Acredito no poder da palavra, do diálogo.

GC – Qual sinagoga freqüenta aqui em SP?

LB – A Beth El, Mishkan Menachem e Beith Chinuch.

GC – Quais realizações que gostaria de ressaltar?

LB – Atuo no departamento cultural e creio que nossas realizações mais interessantes se dão por intermédio do estabelecimento de parcerias, seja com instituições da vida cultural paulista, como o SESC, a TUCCA, a USP, a Universidade Zumbi dos Palmares, a Bienal de Artes Plásticas e a Bienal de Arquitetura, a Flip e a Paulicéia – para citar alguns exemplos. Realizamos também ações em conjunto com as instituições judaicas de São Paulo, de Porto Alegre e de Curitiba – nossos parceiros naturais, que sempre nos acolhem de braços abertos.

GC – Se pudesse voltar ao passado, qual época de sua vida escolheria?

LB – Voltaria às caminhadas a pé que fazia com meu pai, durante minha adolescência, pelo Jardim Botânico e pela Urca, no Rio.

GC – Se pudesse falar com D´us, o que Lhe diria?

LB – Provavelmente faria como a cada Erev Shabat: agradeceria pela semana e pediria pela paz, por saúde e que nos ilumine os caminhos.

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