APRECIE O QUE VOCÊ TEM – RAV EFRAIM BIRBOJM

RAV EFRAIM BIRBOJM

Assim são as pessoas, elas jogam fora seus preciosos tesouros por estarem esperando aquilo que acreditam ser perfeito, ou sonhando e desejando o que não têm, sem dar valor ao que elas têm perto delas. Se olhassem ao redor, parando para observar, perceberiam quão afortunadas são.


Certa vez Fernando caminhava pela praia, em uma noite de lua cheia. Ele era um homem inconformado com as dificuldades que passava na vida. Não estava feliz no trabalho, não estava satisfeito com seu casamento e não se sentia confortável com sua situação financeira sempre apertada. Ele ia caminhando e pensando: “Se eu tivesse uma casa um pouco maior, um trabalho menos estafante, uma esposa mais compreensiva, aí sim eu seria feliz…”.

Perdido em seus pensamentos, Fernando não viu uma sacola cheia de pedrinhas que estava no chão e acabou tropeçando. Imediatamente começou a amaldiçoar aquele que havia deixado a sacola jogada no meio da praia. Ele pegou a sacola na mão e começou a jogar as pedrinhas no mar, uma a uma. Mas ele não as jogava aleatoriamente. Cada vez que ele dizia “Eu seria feliz se tivesse…”, ele agarrava uma pedrinha e atirava no mar. Assim ele foi repetindo aquele ato por um bom tempo, até que somente restou uma única pedrinha na sacola.

Ao chegar em casa, Fernando acendeu a luz e olhou aquela pedrinha que havia restado com um pouco mais de atenção. Foi então que ele percebeu que aquelas não eram simples pedrinhas, eram diamantes muito valiosos. Fernando ficou desesperado. Quantos diamantes valiosos ele havia jogado ao mar, sem perceber? Por não ter parado para prestar atenção, todos os sonhos da sua vida haviam passado pelas suas mãos e haviam sido atirados ao mar…

Assim são as pessoas, elas jogam fora seus preciosos tesouros por estarem esperando aquilo que acreditam ser perfeito, ou sonhando e desejando o que não têm, sem dar valor ao que elas têm perto delas. Se olhassem ao redor, parando para observar, perceberiam quão afortunadas são.

Sua felicidade está muito perto de você. Cada pedrinha deve ser observada com cuidado, pois pode ser um diamante valioso. Cada um de nossos dias pode ser considerado um diamante precioso, valioso e insubstituível. Está em nossas mãos aproveitá-lo, ou lançá-lo ao mar do esquecimento para nunca mais recuperá-lo.

E você, o que anda fazendo com suas pedrinhas?

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Em um famoso questionamento: “Quem é rico?”. Que tipo de resposta daríamos para esta pergunta? Na nossa concepção, o mais rico é aquele que tem o maior saldo bancário. Como a pergunta é quantitativa, então esperaríamos uma resposta também quantitativa. Porém, a Mishná (parte da Torá Oral) dá uma resposta diferente: “Quem é rico? Aquele que está contente com sua porção” (Pirkei Avót 4:1), isto é, rico é aquele que está feliz com sua vida.

Apesar das aparências, isto não é um ensinamento “conformista”, de que devemos desejar uma vida medíocre e sem crescimento. A Mishná está nos ensinando que devemos nos esforçar para melhorar nossas vidas de todas as maneiras possíveis, mas devemos saber que, em qualquer nível de conquista que tenhamos alcançado, a chave para possuir isto de verdade é apreciá-lo. A pessoa que é rica de verdade é aquela que desenvolve uma atitude que o faz se sentir abençoado, independente das circunstâncias atuais de sua vida, e que tem a certeza de que absolutamente nada lhe falta.

Todos nós lembramos ter desejado “algo” na vida que, caso fosse alcançado, nos levaria a um estado de felicidade permanente. Pode ter sido um novo trabalho, uma nova casa, um novo carro ou qualquer outra coisa que teoricamente mudaria nossa vida para sempre. Mas o que ocorreu quando alcançamos este desejo? Percebemos que, após um rápido momento de “brilho” inicial, nada mudou de verdade em nossas vidas. Porém, ao invés de aprender com esta lição, normalmente passamos para a próxima fantasia, para a próxima ilusão de algo que vai realmente mudar nossas vidas.

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 Mudar a nossa vida de forma permanente tem muito mais a ver com gostar do que nós temos do que ter o que nós gostamos. Apreciação é como um músculo, precisa ser trabalhado para se desenvolver e se fortalecer. Se uma pessoa tem apenas 10 mil e realmente aprecia e se sente abençoado por ter este valor, enquanto outra pessoa tem 10 milhões mas não aprecia por estar focado nos 100 milhões que seu vizinho tem, então quem é mais rico, aquele que tem 10 mil ou aquele que tem 10 milhões? O ponto em comum entre todas as pessoas que são felizes é que elas desenvolveram uma atitude de apreciar tudo o que têm na vida e se sentem abençoadas. E o contrário também é válido, isto é, o ponto em comum entre as pessoas que estão sempre tristes é que, independente do que elas têm, elas não sabem apreciar as bênçãos que receberam na vida.

Este é um conceito incrível, de que ser verdadeiramente rico não é determinado pelos padrões ditados pela nossa sociedade. Riqueza é algo disponível para todos, tanto para os ricos quanto para os pobres. Ser rico não depende de ninguém, depende apenas de nós mesmos, pois é uma questão de atitude. Se a pessoa desenvolve esta atitude positiva, todos os bens materiais que ela adquire servem para aumentar seu prazer. Mas se a pessoa não desenvolve esta atitude, nenhuma quantidade de bens será suficiente para fazê-la se sentir rica. A falta de apreciação a levará a uma busca incessante de níveis maiores de aquisição material, que nunca terá fim e nunca a deixará satisfeita de verdade.

Portanto, a chave para saber apreciar a vida é mudar a nossa atitude e passar a olhar tudo como se fosse um presente. Quando achamos que merecemos as coisas, não sabemos apreciar quando elas surgem em nossas vidas. Então o ideal é viver com o conceito de que “não merecemos nada”. Se percebêssemos que nossa vida está repleta de bênçãos que nós não fizemos nada para merecer, como o nosso corpo perfeito, nossa inteligência, nossos dons naturais e nossos familiares, então saberíamos reconhecer tudo o que temos de bom. É isto o que o Pirkei Avót está nos ensinando: se queremos ser ricos de verdade e felizes, então a parte mais importante para isso é saber apreciar o que temos. Somente assim as pessoas conseguirão aproveitar as coisas que elas recebem nesta vida maravilhosa.

SHALOM.


RAV EFRAIM BIRBOJM – Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, começou seu processo de Teshuvá (retorno ao judaísmo) aos 25 anos, através da Instituição “Binyan Olam”. Saiba mais.

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