BEVIS MARKS – PRIMEIRA SINAGOGA DE LONDRES – POR FELIPE DAIELLO

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Num estreito beco, em 1701, foi edificada a primeira sinagoga em metrópole em desenvolvimento, Londres. Como aos judeus não era permitida a construção de prédios nas ruas principais, não havia outra solução.


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Com a Inquisição, revivida por Isabel e Fernando em Castela, após a retomada de Granada, graças aos sermões do Arcebispo Cisneros, com efeito danoso e irreversível para a Economia da Espanha, começa outra diáspora. Marranos, nome pejorativo, equivalente ao de um porco, para escapar ao extermínio religioso, mesmo batizados, para a professar a verdadeira fé fogem primeiro para a Holanda e depois para Inglaterra, nação protestante, mas cristã.

Num estreito beco, em 1701, foi edificada a primeira sinagoga em metrópole em desenvolvimento, Londres. Como aos judeus não era permitida a construção de prédios nas ruas principais, não havia outra solução.

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A comunidade local, onde predominava judeus de origem portuguesa e espanhola, contratou por £ 2.650,00 a construção do prédio, cuja estrutura básica chegou aos nossos dias. As gravuras da época comprovam.

Durante a blitz desencadeada pela Luftwaffe, nos anos de 1940 e 1941, foi uma das únicas a escapar dos incêndios que devastaram Londres. Bem perto, a Catedral de São Paulo, foi outra referência de Londres que sobreviveu, mesmo com pequenas sequelas.

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Uma visita permite rever antigos móveis, cadeiras, murais e pinturas originais. A modernização das instalações não apagou a beleza criada em 1701.

Devido à sua origem sefardita, os ritos seguem as antigas tradições, termos portugueses estão ainda em voga e ressurgem entre novas orações e súplicas.

Placa comemorativa da contribuição da comunidade, durante a 1ª Guerra Mundial, quando membros da congregação judaica lutaram pelo Reino e pela Inglaterra, relembra os que não voltaram da empreitada. Os nomes são categóricos: Correa, Pereira, Martines, Henriques, Ribeiro, Andrade, Costa, Mendes … heróis esquecidos.

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No museu judaico de Londres, obra patrocinada pelo Banco Safra, encontramos memoria que explica e esclarece a chegada dos membros da Diáspora nas distantes terras da antiga Albion. Com as tropas romanas, é possível que poucos da fé de David tenham chegado até Londiniun, no entanto, não encontramos evidencias concretas. Menções escassas…

Os ritos são realizados nas casas dos membros mais influentes. Somente em 1701 é que os projetos de construção da Sinagoga são realizados.

Quando Willian, Duque da Normandia, derrota o Rei Alfredo, em 1066, na batalha de Hastings, alguns poucos hebreus chegam a Inglaterra Saxônica. Necessários para desenvolver o incipiente comércio; durante os primeiros reis normandos, descendentes dos terríveis vikings não houve problemas para a pequena comunidade. Com o advento das cruzadas, a tolerância se deteriora, começam as perseguições e os massacres são decorrência.

Em 1290, édito do Rei Eduardo I culmina com a expulsão de todos os judeus. Os seus bens são expropriados em favor da Coroa Real.

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Nossa visita coincidiu com o dia mais sagrado do ano para os israelitas: Yom Kippur-5774. Momento de frente ao Eterno, ao único, pedir perdão por nossas transgressões e falhas. Somos humanos como todos. Falhamos em alcançar a marca: “Aval Hatanu… “

Hatima Toba, palavras do Rabbi Joseph Dweck, são para relembrar e não esquecer.

Com o puritanismo de Cromwell, petição apresentada pelo “Povo do Velho Testamento” permite a entrada de novos membros.

A guerra entre Espanha e Inglaterra, causa tumultos, membros da comunidade com origem espanhola têm os seus bens expropriados, até provarem serem judeus e inimigos da Espanha.

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A mais velha sinagoga existente na Inglaterra, segue a edificação de Casa de Oração aberta em 1656, no segundo pavimento em Creechurch Lane. Placa recorda a antiga Cunard House que abrigou a comunidade em crescente expansão.

Em 5461, no mês de Ellul, setembro de 1701, deu-se a inauguração da Bevis Marks Sinagoga.

Agora, olhando as gravuras, os quadros, os murais, os arquivos, muito dos relatos de anos passados ressurgem. Parece pedir plateia, audiência, querem falar.

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Os antigos bancos vieram do velho casarão de Creechurch Lane, a pintura representando Moises e Aaron em frente aos 10 Mandamentos é o original de 1675. As doze colunas do templo, arquitetura semelhante à Sinagoga Portuguesa de Amsterdam, 1675, representam as 12 tribos de Israel. Além de local de orações, para os pobres e órfãos, aqui havia proteção e educação disponível e mesmo cuidados médicos. Fundos eram providenciados para resgatar cativos dos piratas que infestavam os mares naqueles tempos de tumulto.

Foi devido a divergência com autoridades, que o chefe da clã d’ Israeli, ao se afastar da comunidade e ao batizar os seus filhos, permitiu que Benjamim d’ Israeli se tornasse Primeiro Ministro da Inglaterra, algo proibido para os judeus. O patriarca não aceitava a aplicação de multas e de penalidades.

Em 1956, celebrou-se o tricentenário da permissão dada por Cromwell, para a chegada de mais imigrantes judeus. De origem italiana, no futuro, Moses Montefiori será destaque pela atuação que teve junto à comunidade local e mesmo nas viagens à Palestina, sempre usando a sua fortuna pessoal ─ obtida na bolsa de valores ─ em favor das populações judias perdidas e oprimidas por um mundo agressivo e hostil. Merece a placa de recordação.


FELIPE DAIELLO – Autor de “Palavras ao Vento” e ” A Viagem dos Bichos” – Editora AGE – Saiba mais.

daiello@cpovo.net www.daiello.com.br

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