COMUNIDADE JUDAICA DE SP HOMENAGEIA SHIMON PERES Z´L

A comunidade judaica de São Paulo lotou o Teatro Anne Frank de A Hebraica, domingo (09 de outubro), para prestar sua homenagem a um dos maiores ícones da História israelense: o ex-presidente e Prêmio Nobel da Paz Shimon Peres, que faleceu aos 93 anos no dia 28 de setembro.

A homenagem, conduzida pela jornalista Mona Dorf, contou com a presença de diversas autoridades, entre elas o cônsul de Israel em São Paulo, Dori Goren, o secretário de Desenvolvimento Social Floriano Pesaro, a diretora da Agência Judaica, Revital Poleg que integrou a equipe de Peres e fez a leitura de um poema, e Daniel Annenberg, ex-presidente do Detran-SP e único representante da nossa comunidade eleito vereador com 36.983 votos. Destaque para a apresentação do chazan Avi Busrzstein, que emocionou a todos ao entoar “Avinu Malkeinu”.

Os presidentes Avi Gelberg, de A Hebraica, Claudio Bobrow, do Fundo Comunitário, Fernando Lottenberrg, da Conib, Bruno Laskowsky da Fisesp, Claudio Lottenberg, do Hospital Israelita Albert Einstein, além do cônsul Dori Goren e do secretario Floriano Pesaro (veja no final da página o discurso proferido por ele), subiram um a um ao palco e relataram suas impressões sobre este grande líder que ajudou a construir o Estado de Israel e era considerado um dos protagonistas das tentativas de paz com seus vizinhos.

Em seus discursos, todos destacaram Peres como um visionário e um exemplo de judeu que trabalhou para que o povo judeu pudesse ter um país. Ao mesmo tempo em que era uma voz de moderação em um mundo cada vez mais intolerante, ajudou a construir a indústria de defesa de Israel, com projetos militares e o programa nuclear israelense. Entusiasta das novas tecnologias, era um sonhador lucido e eloquente, cuja voz mansa e inteligente deve continuar a ecoar.

Como sua última homenagem, o público deixou o Teatro cantando o Hatikvá, o hino de Israel, e fez fila para assinar o livro de condolências.

Fotos: Glorinha Cohen

276_hebraica_1_1Avi Gelberg, Daniel Annenberg e Floriano Pesaro

276_hebraica_1_2Mendy Tal e um amigo, Luciana Brajterman,Carolina Birenbaum e Olivio Guedes

276_hebraica_1_3Floriano Pesaro, Glorinha Cohen e Daniel Annenberg

276_hebraica_1_4Nancy e Fernando Lottenberg

276_hebraica_1_5Floriano Pesaro e Mona Dorf

276_hebraica_1_6 Eva Zimern, Rui Gelehrter Lopes e senhora.

276_hebraica_1_7Daniel Bialski, Daniel Annenberg e amigos

276_hebraica_1_8Boris Ber e Eduardo Wurzman

276_hebraica_1_9Jacques Cohen, Regina Drukier Waintrob e Flavio Segal Cuperstein

276_hebraica_1_10Patricia e Avi Bursztein

276_hebraica_1_11Isy Rahmani e um amigo

276_hebraica_1_12Floriano Pesaro, Daniel Annenberg e Charles Tawil

276_hebraica_1_13Floriano Pesaro e Avi Gelberg

276_hebraica_1_14Daniel Bialski, Floriano Pesaro e amigos

276_hebraica_1_15Claudio Lottenberg, Bruno Laskowsky, cônsul Dori Goren e Fernando Lottenberg

276_hebraica_1_16Revital Poleg e Bruno Laskowsky

276_hebraica_1_17Ricardo Berkiensztat, Fernando Lottenberg e Avi Gelberg

276_hebraica_1_18Sergio Napchan, Ricardo Berkiensztat, Gilberto Natalini e Claudio Lottenberg

276_hebraica_1_19Avi Bursztein canta Avinu Malkeinu


DISCURSO PROFERIDO POR FLORIANO PESARO

276_hebraica_1_20O adolescente que jurou dedicar a vida ao serviço do seu povo cumpriu a promessa até ao limite das suas forças.

E o fez através da ação cívica e política ocupando sempre cargos da mais alta importância e de grande responsabilidade.

“Shimon Peres, um herói, Shimon Peres um dos pilares essenciais do resgate da nação judaica. Shimon Peres, a pomba da paz israelense, mas também o avalista do sistema de defesa que tranquiliza nosso país. Uma vida abundante, impulsionada por prazeres simples da família e pelos grandes sonhos. Esta era a vida de Shimon Peres. Este é o Estado de Israel. Esta é a história do povo judeu ao longo do século passado, e só foi possível graças a uma geração fundadora que conta Shimon como um dos seus próprios.

Peres tem história. Nascido na Polônia em 1923, teve no seu avô um mentor, que lhe proporcionou o estudo do Talmude. Quando sua família emigrou, em 1932, para o Mandato Britânico da Palestina, seu avô lhe disse a frase pilar de sua vida: “Seja sempre judeu.”

Posteriormente, enquanto Peres se engajava na luta pelo estabelecimento de Estado de Israel, viu toda a sua família na Polônia ser massacrada pelos nazistas.

E assim desde tenra idade, Shimon deu testemunho da crueldade que os seres humanos poderiam infligir uns aos outros, as formas nas quais um grupo de pessoas poderia desumanizar outra; a loucura particular de anti-semitismo, que foi executado como uma mancha na história. Essa compreensão da sempre presente pecaminosidade do homem o tornaria vigilante contra as ameaças aos judeus de todo o mundo.

Aos quinze anos, enquanto frequentava a Juventude Trabalhista, Shimon Peres escreveu a frase que guiou todas as suas ações no futuro: ” O meu objetivo na vida é servir o meu povo”.

Nunca foi soldado, nem antes nem depois da criação do Estado de Israel. Entretanto, apoiado e guiado por Ben-Gurion a sua ascensão política foi fulgurante e, desde o início, ligada à construção do poderio militar de Israel, do qual foi o grande artesão.

O adolescente que jurou dedicar a vida ao serviço do seu povo cumpriu a promessa até ao limite das suas forças. E o fez através da ação cívica e política ocupando sempre cargos da mais alta importância e de grande responsabilidade: foi ministro de várias pastas, primeiro-ministro duas vezes, presidente do Estado de Israel. Foi, juntamente com Itzhak Rabin e Yasser Arafat, Prêmio Nobel da Paz pela sua ação decisiva no estabelecimento dos Acordos de Oslo, um ano antes. Em 1996, criou o Centro Peres para a Paz no Médio-Oriente, destinado a incentivar a paz e a prosperidade entre os povos da região.

“A mensagem do povo judeu para a humanidade é que a fé e visão moral podem triunfar sobre todas as adversidades.”

Após a independência, cercado por inimigos que negavam a existência de Israel e que tentavam conduzir o país para o mar, a criança que queria ser um “poeta de estrelas” tornou-se um homem que construiu a indústria de defesa de Israel, que lançou as bases para as forças armadas formidáveis que ganharam guerras em Israel. Sua habilidade garantiu a posição estratégica de Israel. Sua ousadia enviou comandos israelenses para Entebbe, e salvou os judeus da Etiópia. Suas qualidades de estadista construíram um vínculo inquebrantável com os Estados Unidos da América e muitos outros países.

Suas contribuições não terminaram aí. Shimon também mostrou o que as pessoas podem fazer quando aproveitam a razão e a ciência para uma causa comum. Ele entendeu que um país sem muitos recursos naturais poderia mais do que compensar isso com o talento de seu povo.

Muitos acharam que Peres era ingênuo. Não era. Mas ele entendeu por duras experiências que a verdadeira segurança vem através da paz com os seus vizinhos. “Ganhamos todas elas”, ele disse sobre as guerras de Israel. “Mas nós não conseguimos a maior vitória que aspirávamos: Nos libertar da necessidade de conquistar vitórias.”

E assim como ele entendia a necessidade prática da paz, Shimon acreditava que a excepcionalidade de Israel estava enraizada não só na fidelidade ao povo judeu, mas com a visão moral e ética dos preceitos de sua fé judaica.

Temos pleno conhecimento de que Shimon nunca viu seu sonho de paz cumprido. A região está passando por um momento caótico. As ameaças estão sempre presentes. E, no entanto, ele não parou de sonhar, e ele não parou de trabalhar pela paz.

A história de Shimon, a história de Israel, a experiência do povo judeu, são universais. É a história de um povo que, ao longo de tantos séculos no deserto, nunca desistiu do anseio humano básico de voltar para casa. É a história de um povo que sofreu a bota de opressão e o fechamento da porta da câmara de gás, e ainda assim nunca desistiu de uma crença na bondade. E é a história de um homem com quem sempre contamos, continuadamente, e que nunca perdeu a esperança.

O último representante da geração fundadora de nossa pátria judaica se foi agora. Shimon conseguiu mais coisas em sua vida do que mil homens. E agora este trabalho está na mão de próxima geração de Israel.

Como seu avô, ele também nos deixou uma recado: “A mensagem do povo judeu para a humanidade é que a fé e visão moral podem triunfar sobre todas as adversidades.”

20
20