PALAVRA DO PRESIDENTE AVI GELBERG: O MUNDO NOS EXTREMOS

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Minha esperança é que o Trump que vai governar seja capaz de entender as responsabilidades do cargo e tente unir os fragmentos da nação americana em favor de um governo democrático.


Uma parte do mundo foi surpreendida com a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. Conhecido por discursos polêmicos e posições controvertidas deixa todos com uma grande dúvida: como, afinal, será o governo dele? Qual Trump vai governar o país? Não temos respostas, pois só o tempo dirá. O mundo está indo para os extremos, e isso não é bom sinal, mas sinal de alerta e de desespero. Parece estar de volta a era do nacionalismo que já provocou uma guerra mundial e, por isso, a vigilância sobre o bem- -estar e a saúde da democracia tem de ser redobrada. Minha esperança é que o Trump que vai governar seja capaz de entender as responsabilidades do cargo e tente unir os fragmentos da nação americana em favor de um governo democrático. É preciso manter as importantes

conquistas alcançadas nas últimas décadas nas questões raciais, religiosas e feministas.

Tem-se a impressão de que nesse mundo tecnológico e rápido as pessoas procurem igualmente soluções rápidas e fáceis, e todos sabemos que não é tão simples, nem óbvio assim. Não podemos nos deixar embalar por promessas populistas mas entender melhor como as coisas funcionam, aprofundar o conhecimento e buscar informações para poder tomar decisões.

Passada a eleição de Trump, assistiu-se a uma enxurrada de manifestações de líderes de extrema direita aproveitando-se para surfar nesta onda, principalmente na Europa, como Marine Le Pen, e outros. Essa marcha para os extremos nos faz ligar a luz amarela de um filme já assistido várias vezes com a extrema esquerda no papel principal na América Latina, e agora mudando para a direita no outro lado do mundo.

Essa orientação para os extremos nos Estados Unidos e Europa nos ensina que não é solução, e pode ser muito perigosa. Temos de trabalhar com dedicação para que volte a moderação, o diálogo se mantenha e que a tolerância social, religiosa e racial seja ampliada assim como os princípios democráticos fundamentais para um mundo melhor e um futuro digno para nossos filhos e netos se fortaleça.

Uso o final desse texto para uma reverência pessoal ao músico e poeta Leonard Cohen, morto aos 82 anos, na segunda semana de novembro, no Canadá. Certa vez Bob Dylan disse que Cohen era o número um, e ele o número zero. Frequentou sinagogas até o fim da vida, embora tenha sido consagrado monge budista. Abandonou uma turnê na Grécia durante a Guerra de Iom Kipur, em 1973, e foi cantar para os soldados israelenses no front do Canal de Suez ao lado do general Ariel Sharon como os jornais registraram, na época. Revelou- se mais uma vez um grande judeu ao afirmar: “Não estou procurando uma nova religião. Estou bem feliz com aquela velha, o judaísmo”.

Pois a voz rouca desse judeu bom e honesto vai fazer falta num mundo que avança perigosamente para os extremos.

Shalom.


Fonte: Revista Hebraica – dezembro/2016

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