SUICÍDIO – AKIM ROHULA NETO

291_especial_3_1Todos temos um desejo secreto pelo fim, mas este só chega quando não conseguimos viver bem o meio.


Condenado em algumas culturas, bem visto em outras. O ato de tirar a própria vida tem várias interpretações, segue rituais distintos e é executado das mais variadas formas. Porém sempre deixa, mesmo nas culturas que o aceitam, marcas profundas.

Japoneses e romanos antigos aceitavam o suicídio como uma maneira digna de deixar esta vida quando a pessoa havia sido derrotada. Mesmo que a saída seja digna, ela, ainda assim, reflete a dor e a vergonha da derrota.

Em nossa cultura, o suicídio não é percebido como glamoroso ou digno. Tratamos o fenômeno como um problema de saúde mental. Esta versão não ajuda muito a pessoa que pensa no suicídio ou que o executa, ao invés da saída digna, ela se afunda ainda mais na vergonha: a vida não deu certo e a saída dela é a prova disso, me matei, sou um doente.

Por falar em “pessoa que pensa no suicídio”, vale lembrar que a maior parte das pessoas sadias já pensou em se matar. Algumas chegaram até a planejar. Este é um fato ignorado sobre o ato do suicídio: a maior parte de nós pensa sobre como seria se matar. O flerte com a morte talvez seja tão comum quanto o ato.

Não é perverso pensar na própria morte, é humano. A capacidade de imaginar o próprio fim – a morte – também nos faz cônscios dela. Refletir sobre como nós poderíamos executar isso, aprofunda ainda mais este conhecimento. O desejo por destruição e auto destruição fazem parte da psique humana. Esta é a verdade que poucos possuem a coragem para encarar. E ao mesmo tempo, talvez seja isso que nos apavora tanto sobre o suicídio: nós sabemos que ele é real, é possível.

O suicida é a pessoa que sai do simples ato de imaginar e passa ao ato. As pesquisas mostram que boa parte dos suicidas tinha algum tipo de transtorno mental, como depressão. Isso não significa que eles são pessoas piores, mas sim que o nível de sofrimento foi tamanho que eles resolveram agir.

O que impacta no suicídio é a impotência que temos perante ele. A vida é de propriedade de cada um e se a pessoa decide pelo suicídio, ela consegue. A ação do suicida é mais do que terminar uma vida, é buscar um alívio para a vida. Isso é o que entristece. A pessoa poderia ter tido uma chance de reverter o quadro, apaixonar-se pela vida novamente, com auxílio, mas, infelizmente, não lhe foi possível.

Uma vida que não mais é possível. Este é o resultado final do suicídio e não a morte. A perda é das possibilidades de vida, a morte é o “ganho”. Porém, se não falarmos sobre a morte, não poderemos fazer com que outras vidas não sejam impedidas de continuar. Isso porque a dor vai continuar existindo, os motivos e meios para o suicídio continuarão. A questão reside então em um delicado ponto: seremos nós, enquanto sociedade, capazes de falar sobre isso?

A instrução, creio, não deve ser feita criando temor em torno do suicídio. O verdadeiro tema é como enfrentar a vida com as turbulências que nos fazem sentir a morte como mais tentadora. Todos temos um desejo secreto pelo fim, mas este só chega quando não conseguimos viver bem o meio.


AKIM ROHULA NETO – Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Psicologia Corporal pelo Instituto Reichiano Psicologia Clínica e Centro de Estudos e em Programação Neurolingüística. Saiba mais.

akimrohula@gmail.com

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